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MBV - Octirodae Brasil

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“O Mistério de Belicena Villca”<br />

com seus olhos o Olhar sem Olhos da Deusa; e todas as cabeças tinham as mandíbulas horrivelmente<br />

abertas, expondo as presas mortais e as gargantas enormes. Não deve, pois, surpreender, que aquela<br />

impressionante aparição da Deusa aterrorizasse a seus mais fiéis adoradores.<br />

Logicamente, tal composição teria um significado esotérico que somente os Hierofantes e Iniciados<br />

conheciam, embora, eventualmente, dispusessem de uma explicação exotérica aceitável. Nesse caso,<br />

notificavam ao viajante, que às vezes poderia ser um rei aliado ou um embaixador importante ao qual<br />

não se poderia negar de pronto o conhecimento, que as dezoito serpentes eram as letras do alfabeto<br />

tartésio, que teriam recebido da Deusa. Durante o ritual, afirmavam, os Iniciados podiam escutar as<br />

Serpentes da Deusa recitando o alfabeto sagrado. A Verdade esotérica disso era que as dezoito letras<br />

correspondiam efetivamente às Vrunas de Navutan e que com elas se poderia compreender o Signo da<br />

Origem e com este a Serpente, máximo símbolo do conhecimento humano. Mas tal verdade era apenas<br />

intuída pelos Hierofantes tartésios já que naqueles dias ninguém mais via o Signo da Origem nem se<br />

lembrava das Vrunas de Navutan: ao instituir a Reforma do Fogo Frio, os Senhores de Tharsis<br />

tinham recebido a Palavra da Deusa de que a Casa de Tharsis, descendente dos Atlantes Brancos, “não<br />

se extinguiria enquanto ao menos um de seus membros não recuperasse a Sabedoria perdida”, e para que<br />

Sua Palavra fosse cumprida, “menos que nunca deveriam desprender-se da Espada Sábia”. Esse<br />

momento ainda não tinha chegado e nenhum descendente da Casa de Tharsis compreendia o significado<br />

profundo dessa Verdade esotérica que revelava a Cabeça de Pedra de Pyrena. De modo que para eles era<br />

também uma verdade inquestionável que as dezoito Serpentes representavam as letras do alfabeto<br />

tartésio: as duas menores, por exemplo, correspondiam às duas letras introduzidas pelos lídios e sua<br />

pronúncia seria mantida em segredo, assim como o Nome da Deusa Lua formado pelas três vogais dos<br />

iberos. Neste caso, as duas vogais permitiam conhecer o Nome que a Deusa Pyrena se dava a si mesma<br />

quando se manifestava como Fogo Frio no coração do homem, quer dizer, “Eu Sou” (algo assim como<br />

Eu ou Ey).<br />

Todos os anos, ao aproximar-se o solstício de inverno, os Hierofantes determinavam o plenilúnio<br />

mais próximo e, nessa noite, se celebrava em Tartessos o Ritual do Fogo Frio: quase sempre um grupo<br />

que se podia contar com os dedos das mãos. O menir estava alinhado para o Oeste da Macieira de<br />

Tharsis, de modo que a Deusa Lua apareceria invariavelmente atrás da árvore e transitaria pelo céu até<br />

alcançar o zênite, desde onde iluminaria em cheio o rosto da Deusa que olha para o Oeste. Desde o<br />

anoitecer, com os olhares dirigidos para Leste, os Eleitos se achavam sentados na clareira, observando o<br />

Rosto da Deusa e, mais atrás, a Macieira de Tharsis.<br />

Quando o Rosto Mais Brilhante da Deusa Lua pousava sobre o Bosque Sagrado, os Eleitos se<br />

mantinham em silêncio, com as pernas cruzadas e expressando com as mãos o Mudra do Fogo Frio:<br />

nesses momentos somente lhes era permitido mastigar algumas folhas; de resto, deveriam permanecer em<br />

rigoroso silêncio. Até o zênite do plenilúnio a tensão dramática crescia a cada instante, e nesse ponto<br />

alcançava tal intensidade que parecia que o terror dos Eleitos se estendia ao ambiente e se tornava<br />

respirável: não somente se respirava o terror, mas se lhe percebia na pele, como se uma Presença pavorosa<br />

tivesse brotado dos raios da Lua e lhes oprimisse a todos com um abraço gelado e amplo.<br />

Invariavelmente se chegava a esse clímax ao começar o Ritual. Então um Hierofante se dirigia à<br />

parte traseira da Cabeça de Pedra e ascendia por uma pequena escadaria talhada na rocha do menir e<br />

seguia pelo interior. A escada, que contava com dezoito degraus e culminava numa plataforma circular,<br />

permitia aceder a uma plataforma tronco cônica: era este um estreito recinto de uns dois metros e meio de<br />

altura, escavado exatamente atrás do Rosto e somente iluminado desde o piso pela Lâmpada Perene.<br />

Sobre a plataforma do piso, com efeito, havia um diminuto fogão de pedra em cujo forno se colocava,<br />

desde que os lídios aperfeiçoaram a forma do Culto, a Lâmpada Perene: uma tampa permitia tapar a<br />

boca do fogão e regular a saída de luz. Agora essa luz era mínima porque o Hierofante se prestava a<br />

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