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MBV - Octirodae Brasil

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“O Mistério de Belicena Villca”<br />

Tharsis, no momento em que o poder do Dordje de Bera transformava o sangue do<br />

tonel em alcatrão, por dizer, às 00:15h. E obviamente isto não sabia os médicos forenses.<br />

Resignamo-nos, pois, a velar só meus pais, enquanto tratamos com a empresa de<br />

serviços fúnebres para que insistisse periodicamente no necrotério e reclamasse os<br />

corpos pendentes. Um carro parou e desceu uma pessoa conhecida, a quem nunca<br />

imaginaria ver ali: o oficial Maidana, o policial que trabalhou no caso de Belicena Villca!<br />

Ao ver-me, se aproximou pesaroso e me fez presente “seus mais sentidos pêsames”,<br />

como eram de praxe. E logo explicou os motivos que o fizeram vir ao funeral, falando<br />

em seu particular estilo, simples e franco.<br />

- Doutor. Siegnagel, este caso, como pode imaginar, comoveu a Província: todos<br />

desejamos prender os dementes assassinos de sua família. Mas este assunto está desta<br />

vez fora de minha jurisdição. Agora sou o Comissário do Departamento de<br />

Investigações, mas não o Chefe da Divisão. Com este esclarecimento quero te assegurar<br />

que não vim como policial, mas sim como amigo. Compreende, Doutor?<br />

Assenti sem compreender onde queria chegar. Tio Kurt se encontrava junto a<br />

mim e olhava com curiosidade o Comissário Maidana.<br />

- Então irei ao ponto: você está em apuros? Necessita de algum tipo de ajuda? Seja<br />

o que for, não vacile em confiar em mim. Tenho gente amiga, valente e leal, homens<br />

provados na luta anti-subversiva, que estariam dispostos a atuar, digamos, fora dos<br />

regulamentos, para ajustar contas com os judeus ou quem quer que esteja te<br />

perseguindo.<br />

Tio Kurt franziu a testa e por um momento temi que lançasse uma de suas<br />

estrondosas gargalhadas; mas se encontrava demasiado dolorido para isso e em troca<br />

sorriu com clemência. Eu, por minha vez, estava irritado e espantado; irritado não pela<br />

oferta de Maidana, que agradecia, pois ainda que absurda, era sincera, mas por ter que<br />

viver toda aquela alucinante situação, incluindo o funeral, e espantado, pois não<br />

imaginava como o oficial havia chegado à conclusão que eu necessitava desse tipo de<br />

ajuda.<br />

- Não me responde? - disse consternado - Ou não confia em mim? Mas eu sei que<br />

alguém te persegue, ainda que o negue. É minha profissão descobrir estas coisas. Sei<br />

desde antes, quando recebi do Departamento de Investigações o informe sobre o<br />

sucedido em Cerillos. Então recordei de você e do caso da enferma Belicena Villca.<br />

Fazendo um parênteses, confesso agora que o senhor tinha razão quando afirmou<br />

que nesse caso tinha um ponto obscuro: este ponto nunca se esclareceu; mas também é<br />

certo que a ninguém interessava esclarecê-lo, e que a polícia tinha urgências mais<br />

importantes para atender com o dinheiro dos contribuintes. Eu sei! A você isto não<br />

importa, você quer ver triunfar a justiça. Interessa-lhe muito Belicena Villca porque o<br />

caso te tocou de perto. Mas nós temos que atender centenas de casos e este era apenas<br />

mais um, um que, repito, não interessava a ninguém. Conto isso porque te dou, de certo<br />

modo, a razão, doutor. Tome-o dessa maneira! Em verdade eu queria enterrar este caso<br />

porque carecia de importância. Mas agora sei que não é assim!<br />

- O que quer dizer? - perguntei.<br />

- Pois fechando o parênteses que abri para desculpar-me contigo, ocorre que nesta<br />

manhã tentei localiza-lo no Hospital Neuropsiquiátrico onde trabalhava e ali me<br />

informaram que o senhor pediu demissão há dois meses durante suas férias. Chamei<br />

então a Universidade e me interei que o senhor deu baixa nas matérias que cursava e<br />

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