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MBV - Octirodae Brasil

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“O Mistério de Belicena Villca”<br />

- Sim, bobinho. O vimos, eu e seu pai, umas poucas vezes em Salta e uma vez em<br />

Buenos Aires, para umas férias. Mas nós não lhe escrevemos nunca. Ele nos escreve<br />

algumas vezes por ano, numa caixa de correio que teu pai tem em Cerrillos e nos avisa<br />

quando irá a Salta, ocasião que aproveitamos para reunirmos por algumas horas. Não<br />

chegam a vinte vezes que nos vimos nestes anos.<br />

Custava crer que dois irmãos separados por apenas 350 km não pudessem visitarse<br />

por causa de fatos que ninguém lembra, ocorridos quarenta anos atrás a milhas e<br />

milhas de distância. Não obstante, justificava os temores de minha mãe e compreendia o<br />

esforço que deve ter feito para ceder a meu pedido e confiar-me seu segredo.<br />

Subitamente lembrei de meu pai e tremi por antecipação, calculando a ira que lhe<br />

acometeria ao saber de minha impertinência. Mamãe não lhe esconderia minhas<br />

indagações e ele montaria em sua cólera. A vergonha me cobriria e talvez tivesse que<br />

prometer não ir a Catamarca. Decidi evitar qualquer discussão e partir imediatamente.<br />

Beijei minha mãe e me dirigi para o carro. Ela não deve ter notado minha pressa e<br />

antes de dar a partida no motor, me gritou:<br />

- Espera Arturo; espera uns minutos que te darei algo.<br />

Entrou na casa e, apesar da minha impaciência, tive de aguardar dez longos<br />

minutos. Por fim, voltou com um pacote nas mãos.<br />

- Escrevi umas linhas para Kurt. Você está tão apressado que não pensou que ele<br />

não te reconhecerá. Ele te viu por cinco minutos, quando você era um menininho.<br />

Como acha que ele se lembrará?<br />

Entregou-me o envelope, que recebi agradecido, pois, admitia, seria de grande<br />

ajuda para identificar-me.<br />

- Abra sua mão direita com a palma virada para cima – disse Mamãe com ares<br />

entre misterioso e cúmplice.<br />

Fiz o que me pedia e abriu seu punho esquerdo, que havia pouco estava fechado.<br />

Caiu algo em minha mão que em um primeiro momento não pude distinguir. Era um<br />

objeto brilhante e enquanto o examinava, escutava assombrado.<br />

- Isto é o que Kurt te deu na noite de 1947. Tomei enquanto dormia por temor a<br />

que o perdesse e guardei em meu porta-jóias. Com o passar dos anos, tornou-se<br />

complicado entrega-lo, porque você exigiria explicações que não poderíamos te dar. Ele<br />

quis nesse momento te presentear, pois nada o havia trazido, posto que ignorasse que<br />

tivesse um sobrinho. Permanecia solteiro e quando te viu, se comoveu e disse que, por<br />

não ter filhos, você sendo seu único sobrinho, quem deveria conservá-la.<br />

Eu olhava atônito a Cruz de Ferro com Suástica e Folhas de carvalho que tinha<br />

em minhas mãos e me perguntava como um Oficial que jamais combateu pode obter a<br />

mais alta condecoração que dava a Alemanha, para premiar atos heróicos e valor.<br />

- Até logo, Mãe – saudei pela janela do carro – Não se preocupe, serei prudente.<br />

Despeça-se de papai e de Katalina por mim. Tchau.<br />

Arranquei e minutos depois estava na estrada..<br />

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