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MBV - Octirodae Brasil

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“O Mistério de Belicena Villca”<br />

Homens de Pedra, descendentes da Casa de Tharsis, observassem nela o Sinal Lítico de K’Taagar e<br />

soubessem que deveriam partir: até essa ocasião a Espada Sábia não voltaria a ver a luz<br />

do dia.<br />

Ao sair, comunicaram essas determinações aos parentes e pediram notícias do Reino. Mas as notícias<br />

que chegavam ao refúgio improvisado eram estranhas. Dever-se-ia descartar de imediato uma ajuda<br />

romana, já que os Golen sublevaram contra eles todos os povos das Gálias, cortando o caminho para a<br />

Espanha: ao acudir em favor de Tartessos, Roma ficaria desguarnecida, pois se exigiria uma excursão<br />

muito grande. Por outra parte, em Tartessos, a vitória cartaginesa tinha sido arrasadora: toda a<br />

Tartéside estava em poder do General Barca, o que completava a ocupação total do Sul da Espanha.<br />

Aos Senhores de Tharsis só lhes restavam suas vidas e um batalhão de fiéis e ferozes guardas reais.<br />

Entretanto, algo estranho aconteceu.<br />

Amílcar Barca, certamente, arrasou Tartessos até convertê-la em escombros. Neste ato, tanto ele<br />

quanto o exército mercenário, agiram movidos por uma fúria homicida que superava toda a razão, por<br />

uma força indomável que se apoderou deles e não os abandonou até que a cidade estivesse totalmente<br />

destruída. Foi como se o ódio acumulado por séculos pelos Golen contra a Casa de Tharsis se tivesse<br />

condensado num obscuro recipiente, talvez no Mito de Perseu, para ser descarregado tudo ao<br />

mesmo tempo na Alma dos cartagineses. No entanto, consumada a irracional destruição, o General<br />

Barca e os chefes militares recuperaram bruscamente a lucidez, não sendo alheio a este fenômeno a morte<br />

dos vinte Golen e a partida de Bera e Birsa. Momentaneamente, algo se havia interrompido, algo que<br />

impulsionava ao General Barca a desejar a aniquilação da Casa de Tharsis; e não tinham mais Golen<br />

na Tartéside para reiniciá-lo. Então, livre por um momento da paixão destrutiva do Perseu argivo,<br />

Amílcar Barca raciocinou com a sensatez de um cartaginês típico, quer dizer, pensou em seus interesses<br />

pessoais. Para Amílcar Barca o inimigo não estava só em Roma; ali, em todo caso, estava o inimigo de<br />

Cartago; mas em Cartago também estavam os inimigos de Amílcar Barca, os que invejavam sua<br />

carreira de General vitorioso e desconfiavam de seu prestígio; os que o tinham enviado oito anos antes<br />

àquele país inóspito e não tinham intenções de fazê-lo voltar.<br />

Mas Amílcar Barca lhes pagaria na mesma moeda, demonstraria para o governo de Cartago a<br />

mesma indiferença e usaria para si e sua família o imenso território conquistado: a Espanha seria a<br />

fazenda particular dos Barca! Mas para isso, teria de contar com a população nativa, que tinha até<br />

então manejado o país e conhecia seu funcionamento. E aqueles povos belicosos, que foram livres por<br />

séculos, não seriam facilmente reduzidos à escravidão, isso advertiam claramente os Bárcidas, a menos<br />

que seus próprios reis e senhores os convencessem de que era melhor não resistir à ocupação. A solução<br />

não era impossível, pois, segundo a particular filosofia dos cartagineses, “só deve ser destruído quem não<br />

pode ser comprado”.<br />

A estranha e contraditória notícia chegou assim ao refúgio dos Senhores de Tharsis: Amílcar Barca<br />

lhes oferecia salvar suas vidas se renunciassem a todo direito sobre a Tartéside e aceitassem entrar a seu<br />

serviço para governar o país; caso contrário, seriam exterminados como pediam os Golen. Com muita<br />

dor, mas sem alternativa possível, os Senhores de Tharsis tiveram e aceitar a tão desonrosa oferta:<br />

faziam-no por um interesse superior, pela missão familiar e a Espada Sábia.<br />

Acertada a rendição, os de Tharsis passaram a servir os Bárcidas e se ocuparam de pacificar a<br />

tartéside e reorganizar a produção agrícola e industrial. Pela boa disposição demonstrada se lhes<br />

recompensou com uma granja muito próxima da desaparecida Tartessos, onde viveria dali por diante a<br />

“família Tharsis”, salvo os membros que desempenhavam funções nas cidades ou acompanhavam os<br />

Bárcidas nas viagens de inspeção. Enquanto durou a ocupação cartaginesa, não obstante a proteção<br />

assegurada pelos Bárcidas, a tranqüilidade foi pouca devido ao constante assédio dos Golen, que<br />

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