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MBV - Octirodae Brasil

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“O Mistério de Belicena Villca”<br />

e agora se prestava a desobedecer também a Clericis laicos e a se apropriar da totalidade das rendas<br />

da Igreja. Compreender-se-á melhor a dor de Bonifácio VIII se observamos os montantes das rendas em<br />

questão: A Itália aportava 500.000 florins de ouro de dízimos papais; a Inglaterra 600.000; e a<br />

França, que já vinha retendo parte devido à cruzada contra Aragão, 200.000. Tratava-se de uma<br />

quantia que por nada no mundo se podia renunciar.<br />

Para que Bonifácio VIII precisava de tais quantidades? Em parte para financiar a guerra com a<br />

que pensava romper o cerco gibelino que estava se desenvolvendo na Itália, onde ainda estava pendente a<br />

questão siciliana; e em parte para enriquecer a ele e a sua família, já que Benedicto Gaetani estava<br />

dotado com perfeição dos traços do ambicioso ilimitado, do trepador inescrupuloso, do tirano corrupto;<br />

valham esses exemplos: quando conseguiu o papado anulou imediatamente as leis e decretos de Nicolás<br />

IV e Celestino V que beneficiavam aos Colonna, transferindo os títulos em favor de seus familiares; do<br />

Rei Carlos II obteve para seu sobrinho o título de Conde de Caserta e vários feudos; para os filhos deste,<br />

dos do Conde de Palazzo e do Conde de Fondí; para si mesmo, se apropriou do velho palácio do<br />

Imperador Otaviano, convertido então na Fortaleza militar de Roma, a que restaurou e reedificou<br />

magnificamente, empregando para isso dinheiro da Igreja; igual procedimento seguiu com outros castelos e<br />

fortalezas de Campania e Maremma, todos os quais passaram a integrar seu patrimônio pessoal;<br />

possuía palácios, um mais belo que o outro, em Roma, Rieti e Orvieto, suas residências habituais, ainda<br />

que o mais belo e luxuoso fosse sem dúvidas o da sua cidade natal de Anagni, onde passava a maior<br />

parte do ano; viva pois em um ambiente de luxo e esplendor que em nada condizia com sua condição de<br />

cabeça de uma Igreja que exalta a salvação da Alma pela prática da humildade e da pobreza; carecia de<br />

escrúpulos para conceder cargos e favores em troca de dinheiro, quer dizer, era simoníaco; colocava o<br />

dinheiro, seu ou da Igreja indistintamente, em mãos dos banqueiros lombardos ou Templários para ser<br />

emprestado a juros usurários; não tinha piedade para alcançar seus fins, qualidade que demonstrou logo<br />

ao fazer assassinar Celestino V, e confirmou logo com as sangrentas perseguições de gibelinos que desatou<br />

na Itália; e para completar esse quadro de sua personalidade sinistra, talvez baste um último exemplo:<br />

como todo Golen, Bonifácio VIII era chegado à sodomia ritual.<br />

Por suposto, assim como os Golen não tinham disposto de um Rei do feitio de Felipe IV para se<br />

opor a este, tampouco dispunham de um São Bernardo para sentar no trono pontifício: Benedicto<br />

Gaetani era o melhor que tinham e a ele confiavam a execução de sua Estratégia. E a melhor<br />

Estratégia parecia ser, frente à dureza e valentia de Felipe IV, a de retroceder um passo e se preparar<br />

para avançar dois. Com outras palavras, se procurara acalmar o Rei amenizando o sentido da bula<br />

Clericis laicos, o que se tentaria com outra bula, Ineffabilis amor, de 21 de Setembro de 1296,<br />

e se dedicariam todos os meios disponíveis pela Igreja para acabar com a ameaça gibelina na Itália e<br />

Sicília; e quanto ao pretexto da guerra contra a Inglaterra usado pelo Rei da França para justificar suas<br />

exações, se o neutralizaria obrigando as partes a pactuar a paz; pura lógica: sem guerra, o Rei não teria<br />

motivos para exigir impostos nem contribuições ao clero.<br />

À Ineffabilis amor se seguem as bulas Romana mater ecclesia e Novertis, nas que ora<br />

ameaça ao Rei com a excomunhão, ora lhe manifesta sua total aprovação dos dízimos, sempre e quando<br />

o Reino se achasse realmente em perigo; mas o que se destaca em todas elas é a soberba com que se dirige<br />

ao Rei, a quem considera mero súdito. Essas bulas levantariam uma onda de indignação na França,<br />

posto que fossem lidas publicamente por ordem do Rei, e predisporiam ainda mais aos Bispos franceses<br />

contra a intransigência papal. São eles que se reúnem numa assembléia em Paris e solicitam ao Papa,<br />

em 1 de Fevereiro de 1297, a autorização para subvencionar Felipe IV, que no momento enfrenta a<br />

traição do Conde de Flandres. Este, com efeito, tinha se aliado ao Rei da Inglaterra, que tentava<br />

recuperar Guyenne, e ameaçava o Norte da França. Bonifácio VIII deve ceder ante os fatos e autorizar<br />

as contribuições, ficando a Clericis laicos uma letra morta.<br />

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