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MBV - Octirodae Brasil

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“O Mistério de Belicena Villca”<br />

A dos Colonna era uma família de nobres romanos que durante vários séculos tiveram muito peso no<br />

Governo de Roma e na Igreja Católica. Possuíam uma série de Senhorios na região montanhosa que vai<br />

de Roma a Nápoles, de sorte que quase todos os caminhos ao Sul da Itália passavam por suas terras.<br />

Nesses dias, haviam dois Cardeais Colonna: o velho Jacobo Colonna, patrão da Ordem dos<br />

Franciscanos Espirituais, e seu sobrinho Pedro Colonna. O irmão maior de Pedro, João Colonna, no<br />

mesmo período, foi Senador e Governador de Roma. Desnecessário dizer que essa família era um Clã<br />

poderoso, que formava partido com outros Senhores, Cavaleiros e Bispos; tal partido se achava<br />

contraposto, com muita força, pelo segundo Clã importante, o dos Orsini ou Ursinos, que eram<br />

decididamente güelfos e estavam controlados pelos Golen. Ambos os grupos dominavam os restantes<br />

Cardeais que deviam decidir na eleição papal; até esse momento, as posições se achavam empatadas,<br />

optando os Colonna por travar todas as tentativas dos Golen e propor, por sua vez, membros de seu<br />

próprio Clã.<br />

Mas a Igreja Católica era nessa época uma organização estendida por todo o Orbe, possuidora de<br />

milhares de Igrejas e Senhorios vassalos que canalizavam a Roma grandes quantias de dinheiro e<br />

mercadorias valiosas; sua administração não podia ficar muito tempo a deriva. Assim as coisas, logo de<br />

dois anos e três meses de discussões, ficaram suficientemente insustentáveis para que se exigisse uma<br />

eleição, sem atrasos. Então, visto que não surgiria acordo para nomear Papa algum dos Cardeais<br />

presentes, se convém em designar um não purpurado. Os dois grupos pensam em um laranja, um Papa<br />

fraco cuja vontade possa ser dirigida em segredo. E então, em 5 de Julho de 1294, se alcança a<br />

unanimidade dos votos, optando todos por Pedro de Murrone, um Santo ermitão de oitenta e cinco anos<br />

de idade que vivia retirado numa caverna.<br />

Os Franciscanos Espirituais, dirigidos por Jacobo Colonna, tinham retomado a antiga tradição<br />

monástica inspirados na Regra de São Francisco e na visão apocalíptica de Joaquim de Fiore. Trinta<br />

anos antes, Pedro era guia de várias comunidades de Franciscanos Espirituais, mas não satisfeito ainda<br />

com o extremo rigor da Ordem, fundou a sua própria, que logo seria lembrada como “Ordem dos<br />

Celestinos”. No entanto, apesar de que os mosteiros Celestinos se estendiam pela Itália Meridional,<br />

Pedro tinha se retirado a uma cova do Monte Murrone para se dedicar à vida contemplativa; se achava<br />

naquele retiro quando teve notícia de seu nomeação para o cargo de Papa: duvidava da conveniência de<br />

aceitar mas foi convencido por Carlos II o Coxo, filho de Carlos de Anjou, que liberto da prisão catalã<br />

reinava então em Nápoles. Ao fim, Pedro aceitou a investidura papal e tomou o nome de Celestino V:<br />

toda a cristandade saudou alvoroçada a entronização do Santo, de quem esperavam que pusesse freio ao<br />

materialismo e à imoralidade reinante na hierarquia eclesiástica e abrisse a Igreja para uma reforma<br />

espiritual. Entende-se pois que para os Colonna, e para Felipe IV, aquele eleição tivesse sabor de<br />

triunfo.<br />

Mas Pedro de Murrone carecia de toda instrução e dos conhecimentos necessários para administrar<br />

uma instituição das dimensões da Igreja Católica; sua única experiência de governo provinha da<br />

condução de pequenas comunidades de Frades. Ademais, ao Santo não lhe interessavam esses assuntos<br />

mundanos mas questões relativas à religião prática: a evangelização, a oração, a salvação da Alma.<br />

Delegou assim aos Cardeais e a um grupo de Bispos legistas as questões temporais, formando-se um<br />

entorno corrupto e interessado que em quatro meses afundou a Igreja numa grande desordem econômica.<br />

Os Golen, é lógico, também esperavam controlar Pedro de Murrone; confiavam sobretudo no Rei de<br />

Nápoles, a quem Pedro tinha especial afeto: supunham que Carlos II não respaldaria as intrigas de seu<br />

primo Felipe o Belo e prosseguiria com a política güelfa de Carlos de Anjou; com a ajuda do Rei seria<br />

fácil conseguir que o Papa sancionasse como próprias as medidas propostas por eles. E contavam, além<br />

disso, com um surpreendente segredo: um Cardeal, Benedicto Gaetani, procedente de uma família<br />

gibelina e abertamente alistado na causa da França, era um dos seus. Esse Golen, Doutor em Direito<br />

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