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MBV - Octirodae Brasil

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“O Mistério de Belicena Villca”<br />

em uníssono e mostraram um olho inexpressivo, um olho que era o mesmo olho<br />

repetido dementemente em todos os pontos do espaço. Toda a Natureza, todas as<br />

coisas diferenciadas, tudo o que alcançava ver e perceber fervia agora de olhos<br />

inexpressivos, de olhos semelhantes que indubitavelmente nos olhavam; e aqueles<br />

milhões de olhos de peixes, de oculi piscium, eram os Olhos de Misericórdia que<br />

se abriam para contemplar as Almas de seus filhos amados, as Almas de Bera e<br />

Birsa que estavam desencarnado em meio a um grande terror.<br />

Analisando a cena: a forma geral dos entes em nada havia mudado, todos são<br />

distinguíveis e reconhecíveis, todos são nomeáveis como sempre; a árvore, o piso, a casa,<br />

o céu, a nuvem, os corpos, todos os objetos seguem sendo os mesmos; mas agora<br />

apresentam uma vida cheia de olhos divinos, de olhos que miram com Amor<br />

Natural. Pensar na árvore, toda composta de olhos, e na casa, no céu, também<br />

compostos de olhos, e pensar que os milhões de olhares da árvore para a casa, da<br />

casa para a árvore, e as de ambas ao céu, são os laços que ligam e religam aos<br />

entes, e constituem a superestrutura da realidade: uma estrutura de objetos ligados<br />

entre si pela Vontade do Criador e pelo Amor natural da Grande Mãe.<br />

Se já o havia imaginado, há de pensar que agora eu me encontrava nessa cena,<br />

espantado pelos onipresentes olhos de Avalokiteshrava, “que a tudo vê”, e estremecido<br />

até a raiz de meus sentimentos, agitado em minha natureza emocional pelo intenso<br />

Amor da Grande Mãe, por sua Piedade ilimitada. Assim foi, pois, primeiro, a fascinação<br />

pelas scintillae, e logo o espanto pela ebulição pan-óptica; e o espanto maior foi<br />

comprovar que meu próprio corpo estava constituído por milhões de olhos<br />

compassivos. E este fenômeno terrível, demente, explica porque minhas mãos se<br />

detiveram antes de tomar os corações do chapéu cogumelo.<br />

- Neffe! Arturo! - a voz de tio Kurt se fez ouvir de vários metros de distância -<br />

Sabia que isto ocorreria e sei o que está vendo: não tema que é tudo ilusão. Ainda<br />

podemos cumprir nosso objetivo. Pode ouvir-me?<br />

- Sim tio Kurt! - respondi atordoado - Te escuto como se sua voz procedesse de<br />

longa distância, e me encontro muito sugestionado por essa profusão de olhos que se<br />

manifesta na Natureza, por esse monstro em que se converteu o Mundo.<br />

- Escuta-me bem, Arturo! Fará exatamente o que eu te pedir e responderá as<br />

minhas perguntas. Irá me comunicar tudo o que verá. Pois aqui não há mais olhos<br />

que os seus; todos os olhos de Avalokiteshvara são ilusórios, são projeções de sua<br />

própria debilidade emocional.<br />

Fiz um esforço e voltei-me para a direção da qual vinha sua voz. Vi milhões de<br />

olhos brilhantes, vi que toda a realidade continuava integrada por olhos de peixe, mas<br />

onde estava tio Kurt, mas onde deviam estar seus olhos, só vi dois espaços vazios, duas<br />

crateras de negrura impenetrável, duas janelas abertas a Outro Mundo; soltei um grito de<br />

horror e retornei o olhar até adiante.<br />

- Está comigo, Arturo? - perguntou insolitamente tio Kurt.<br />

- Sim, tio Kurt! - respondi uma vez mais.<br />

- Você realizará a obra. Eu só colocarei, no Princípio, o Signo de Origem sobre a<br />

Pedra de Fogo!<br />

Recordei as palavras de Birsa na Carta de Belicena Villca: “os homens mortais,<br />

homens de barro, que evoluíram a partir do barro, desde a Pedra de Fogo do Princípio<br />

que refletia uma mônada semelhante ao Uno, chegariam ao final indivíduos idênticos à<br />

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