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MBV - Octirodae Brasil

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“O Mistério de Belicena Villca”<br />

Medo e Valor: eis aqui dois opostos. Já se viu o poder transmutador do valor, cuja expressão é o<br />

Furor do Guerreiro. O medo, em troca, se expressa pelo ódio pusilânime e refinado, o que depois de<br />

múltiplas destilações da inveja, o rancor, a maledicência e toda classe de sentimentos insidiosos. O medo<br />

é, pois, um veneno para a pureza de sangue como o valor é um antídoto. A exaltação do valor eleva e<br />

transmuta, dissolve a realidade. A exacerbação do temor, em compensação, afunda na matéria e<br />

multiplica o aprisionamento às formas ilusórias. Por isso os pastores habiros de Borsippa murmuravam<br />

entre dentes orações a Enlil enquanto, como hipnotizados de terror, contemplavam a cerimônia cainita.<br />

A primeira hora da manhã, quando Shamash, o Sol, recém despertava, os tambores e as flautas já<br />

estavam eletrizando o ar com seu ritmo monótono e ululante. Nas distintas sacadas da Torre as<br />

Iniciadas dançavam desenfreadamente enquanto repetiam sem cessas Kus, Kus, invocando ao Deus da<br />

Raça. Os Hierofantes, em número e cinqüenta, oficiavam os ritos prévios à batalha instalada em torno<br />

da enorme mandala labiríntica, construída no piso da pequena torre superior, com mosaico da lapis<br />

lazuli, réplica exata do labirinto da base do Zigurate. Em todo recinto predominava a cor azul,<br />

destacando-se com intenso e tilintante brilho o gramado verde Esmeralda, consagrado ao Espírito de<br />

Vênus, a Deusa que os semitas chamavam Ishtar e os sumérios Imnina ou Ninharsag.<br />

Enquanto os Hierofantes permaneciam sob o teto da torre superior, fora, nos corredores laterais o<br />

Rei Nimrod e deus duzentos arqueiros se preparavam para morrer.<br />

O clima bélico ia “in crescendo” à medida que se passavam as horas. Perto do meio dia podia<br />

observar-se um vapor ectoplasmático de cor cinza que se empastava pelas colunas da torre superior e<br />

girava languidamente ao redor desta, envolvendo em seus caprichosos caracóis aos imperturbáveis<br />

guerreiros. Dentro da torre, o vapor cobria a totalidade do recinto, mas não ultrapassava a cintura do<br />

mais alto dos Hierofantes.<br />

A multidão permanecia petrificada observando a cúspide da enorme Torre assistiu atônita, a um<br />

fenômeno de corporização do vapor. De início, somente alguns o perceberam, mas agora era visível para<br />

todos: a nuvem adotava formas definidas que permaneciam um momento para dissolver-se e voltar a<br />

corporizar-se novamente. O “motivo” principal dos misteriosos relevos do vapor constituía<br />

fundamentalmente figuras de “Anjos”. Anjos ou Deuses; mas também Deusas e meninos. E animais:<br />

cavalos, leões, águias, cães, etc. E carros de guerra. Era todo um Exército Celeste o que se materializava<br />

na nuvem vaporosa e girava lentamente ao redor da torre. E ao passar os carros de combate, puxados<br />

por briosos corcéis alados, os Anjos Guerreiros atentavam claramente a Nimrod. Também o faziam as<br />

mulheres, mas convém que nos detenhamos um instante nelas, porque a simples contemplação de sua<br />

beleza hiperbórea basta para iluminar o coração do homem mais passivo e arranca-lo das garras do<br />

Engano. Ah, as mulheres hiperbóreas! Tão belas! Luziam uma saia curta ajustada na cintura por<br />

delgado cordão do qual pendia, ao lado, a bainha de uma temível espada. O arco cruzado sobre o peito e,<br />

nas costas, a nutrida aljava. As tranças de ouro e prata de um canelo que se adivinhada tão suaves e<br />

ligeiros como o vento. E os Rostos; que seria capaz de descrever os Rostos esquecidos, depois de milênios<br />

de engano e decadência? Rostos que, entretanto, estão gravados a fogo na Alma do guerreiro, quase<br />

sempre sem que o mesmo o saiba. Quem ousaria falar desses olhos cintilantes de fria coragem que<br />

irresistivelmente incitam a lutar pelo Espírito, a regressar à Origem, olhos de aço cujo olhar animará o<br />

Espírito até o momento anterior ao combate, mas que, depois da luta, milagrosamente, serão como um<br />

bálsamo de Amor gelado que curará toda ferida, que acalmará toda a dor, que ressuscitará eternamente<br />

ao Herói, aquele que se mantém tenazmente no Caminho do Regresso à Origem? E quem, finalmente,<br />

se atreveria a mencionar sequer seus sorrisos primordiais ante os quais empalidecem todos os gestos<br />

humanos; ante cujos sons melodiosos se apagam as músicas e rumores da terra, riso transmutador que<br />

jamais poderia ressoar entre a miséria e o engano da realidade material e que, por isso, somente pode ser<br />

ouvido por quem também sabe escutar a Voz do Sangue Puro? Impossível tentar esboçar a imagem<br />

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