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MBV - Octirodae Brasil

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“O Mistério de Belicena Villca”<br />

para pedir detalhes e, depois de obter o desejado, me encorajava a continuar num tom<br />

autoritário que lhe desconhecia.<br />

O caso de Belicena Villca havia capturado completamente seu interesse, mas ao<br />

saber da existência da carta, pareceu enlouquecer. A tirei nesse momento da maleta e tive<br />

de fazer um esforço para evitar que me arrancasse das mãos: era minha intenção permitir<br />

que a lesse, mas não nesse momento, mas em breve, quando eu tivesse terminado de<br />

relatar o acontecido. Mostrei a carta, pois, e continuei com a narração sem perturbar-me<br />

pela ansiedade de meu tio, a quem lhe custava grande esforço, evidentemente, aguardar<br />

para lê-la. Expliquei, em linhas gerais, o objetivo daquela póstuma missiva, sem entrar<br />

em detalhes sobre a incrível história da Casa de Tharsis, mencionando somente a<br />

perseguição milenar que havia sofrido por parte dos Golen-Druidas: falei de Bera e Birsa<br />

e da minha convicção de que eles eram os verdadeiros assassinos de Belicena Villca.<br />

Nesse ponto parecia que os olhos de tio Kurt iam saltar das órbitas, contudo, seus lábios<br />

permaneciam fechados pela surpresa. Finalmente, lhe referi a tradução que o Professor<br />

Ramirez fizera sobre a legenda “ada aes sidhe draoi mac hwch” e posteriores alusões<br />

aos Golen-Druida, o que confirmava a meu critério a veracidade, senão de todo, mas de<br />

grande parte do conteúdo da carta.<br />

Aqui se quebrou o encanto e tio Kurt, parando-se de um salto, gritou:<br />

- Sim, Arturo! Os Druidas! A eles esperava na noite que você chegou! Depois de<br />

35 anos percebi o inequívoco sinal de sua presença e sabia que a qualquer momento seria<br />

atacado, ainda que ignorasse por que haviam aguardado tanto tempo, por que<br />

reapareceriam somente agora. E agora eu sei: porque você viria até mim, portador do<br />

Mais Alto Segredo!<br />

Era um rugido o que saiu de sua garganta ao pronunciar estas palavras em alemão,<br />

sendo imediatamente contestado por dois prolongados uivos dos mastins, no piso<br />

inferior e fora da casa. Não pude deixar de assombrar-me, pois tio Kurt havia falado<br />

sempre em castelhano já que meu domínio do idioma alemão é ruim como conseqüência<br />

da decisão de meus pais em formar-me “cabalmente argentino” ao ponto de que nem<br />

eles usavam essa língua.<br />

Tampouco se me escapava que, por mais forte que houvesse gritado não poderia<br />

ter sido escutado pelos cães. Como, então, o haviam respondido?<br />

Olhava agora com “outros olhos”! Tio Kurt a que até o momento tinha por uma<br />

pessoa, como tantas outras, torturada pela recordação de dias de guerra, mas, apesar<br />

disso, completamente normal.<br />

Estava entendendo, lentamente, que havia algo mais: tio Kurt teria um secreto<br />

conhecimento que pesava enormemente em sua consciência, avivado agora por meu<br />

relato.<br />

Tio Kurt devia ter uns sessenta e dois anos, mas impressionava por aparentar dez<br />

a menos. Alto, até o exagero – eu calculava um metro e noventa – era robusto, de<br />

compleição atlética e se via que se mantinha em forma. O cabelo, que devia ser negro,<br />

estava grisalho, cortado muito curto; os olhos azuis claro, as sobrancelhas espessas, a<br />

boca de lábios finos com grosso bigode e queixo firma, completavam sua descrição. Um<br />

detalhe talvez que o constituía a cicatriz que sulcava sua bochecha esquerda, realçada<br />

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