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MBV - Octirodae Brasil

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“O Mistério de Belicena Villca”<br />

Oitavo Dia<br />

N<br />

a Época em que não se celebrava o Ritual do Fogo Frio, os Hierofantes tartésios<br />

permitiam aos peregrinos chegar até a clareira do Bosque Sagrado e contemplar a colossal<br />

efígie de Pyrena; ali poderiam depositar suas oferendas e refletir se estavam dispostos a<br />

afrontar a Morte da Prova do Fogo Frio ou se preferiam regressar à ilusória realidade de suas vidas<br />

comuns. No momento a Deusa não podia danificá-los, pois Seus Olhos estavam fechados e a ninguém<br />

comunicava Seu Sinal de Morte. Mas, não obstante tal convicção, muitos ficavam gelados de espanto<br />

frente ao Antigo Rosto Revelado e não eram menos os que fugiam dali ou morriam de pavor. É que o<br />

menir original tinha sido depositado ali pelos semideuses Atlantes Brancos milhares de anos antes, mas,<br />

nos dias da aliança com os lídios, não existia ninguém sobre a Terra capaz de emular aquela façanha de<br />

deslocar por milhares de quilômetros de distância uma pedra gigantesca, e depositá-la no centro de um<br />

espesso bosque sem que para isso derrubasse sequer uma árvore. Compreende-se, pois, que<br />

os peregrinos recebessem a imediata impressão de que aquele busto terrível era obra dos Deuses. Mas não<br />

somente o menir era obra dos Deuses, posto que a conformação do rosto procedesse dessa notável<br />

capacidade para degradar o Divino que exibiam os lídios; astutamente, os tartésios cuidaram sempre<br />

muito bem de informar sobre a origem da inquietante escultura.<br />

Quem lograva se recompor da impressão inicial, e reparava nos detalhes do Rosto insólito, teria de<br />

apelar a todas as suas forças para não ser tomado, cedo ou tarde, pelo pânico. Lembre-se, doutor, que<br />

para seus adoradores, o que tinham na sua frente não era uma mera representação de pedra inerte, mas<br />

a Imagem viva da Deusa: Pyrena se manifestava no Rosto e o Rosto participava Dela. E era aquele<br />

Rosto simbólico que tirava o fôlego. Provavelmente, se alguém tivesse conseguido, com um poderoso ato de<br />

abstração, separar o rosto da cabeça da Deusa, a teria julgado de feições belas; em primeiro lugar, e<br />

apesar da coloração olivácea da pedra, pela forma dos traços era indubitável que pertencia à raça Branca;<br />

em seguinte ordem, caberia reconhecer no semblante geral uma beleza arquetípica indo-germânica ou<br />

diretamente ária: rosto retangular, frente ampla, sobrancelhas cheias, ligeiramente curvadas e horizontais;<br />

a pálpebra, posto que já dissesse que os olhos permaneciam fechados, demonstravam pela expressão um<br />

olhar frontal, de olhos redondos e perfeitos; nariz reto e proporcional e a boca, com o lábio inferior algo<br />

mais grosso e proeminente que o superior, era talvez o detalhe mais charmoso: estava levemente aberta e<br />

curvada num sorriso apenas esboçado, num gesto inconfundível de cósmica ironia.<br />

Naturalmente, quem carecesse do poder de abstração necessário, não chamaria a atenção nenhum dos<br />

sinais apontados. Pelo contrário, sem dúvidas toda sua atenção seria absorvida de entrada pelo Cabelo<br />

da Deusa: e essa observação primeira seguramente neutralizaria o juízo estético anterior: ao contemplar<br />

a Cabeça em conjunto, Cabelo e Rosto, a Deusa apresentava aquele aspecto aterrador que causava o<br />

pânico dos visitantes. Mas o que havia em Seu cabelo capaz de paralisar de espanto os rudes peregrinos,<br />

normalmente habituados ao perigo? Serpentes. Serpentes de um realismo excepcional. Seu cabelo se<br />

compunha de dezoito serpentes de pedra; oito, de distinta longitude, caiam a ambos os lados do rosto e<br />

outras duas, muito menores, se eriçavam sobre a testa.<br />

Cada par das oito Serpentes estavam à mesma altura: duas à altura dos olhos, do nariz, da boca e<br />

do queixo; emergindo de um nível anterior de cabelo, os restantes oito ofídios voltavam e situavam suas<br />

cabeças entre as anteriores. E cada serpente, ao separar-se das restantes, formava no ar com seu corpo<br />

duas curvas contrapostas, como um S, que lhe permitia anunciar o seguinte movimento: o ataque mortal.<br />

E as duas serpentes da frente, embora bem menores, também evidenciavam idêntica postura agressiva.<br />

Em resumo, ao admirar de frente o Rosto da Deusa sorridente, emergia com força o arco das dezoito<br />

cabeças de Serpente de sua cabeleira, e todas as cabeças estavam voltadas para frente, acompanhando<br />

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