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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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O escravo índio, esse desconheci<strong>do</strong>John MonteiroDentre os diversos mitos sobre a formaçãoda nacionalidade brasileira, o bandeirantecertamente ocupa um lugar dedestaque. Desbrava<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s sertões incultos,temível conquista<strong>do</strong>r de povos selvagens,esta figura heróica marca presençatanto <strong>no</strong>s manuais de história quanto <strong>no</strong>smonumentos e <strong>no</strong>s <strong>no</strong>mes de ruas, estradase escolas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> inteiro. Por outrola<strong>do</strong>, uma tendência recente na bibliografiatem construí<strong>do</strong> um antimito, o <strong>do</strong> bandeiranteextermina<strong>do</strong>r de índios. Imagenscontrastantes e polémicas, tanto umaquanto a outra pecam por ig<strong>no</strong>rarem a presençae o papel <strong>do</strong> índio na história <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.Na primeira versão, o índio é omiti<strong>do</strong>ou, na melhor das hipóteses, exerce umpapel auxiliar <strong>no</strong> processo de expansão territorial<strong>do</strong>s portugueses. Na segunda, eleé relega<strong>do</strong> ao papel passivo de vítima.Herói ou bandi<strong>do</strong>, na verdade o bandeiranteé emblemático de to<strong>do</strong> um processomais amplo de deslocamento de populaçõesindígenas e da constituição desociedades escravistas, processo esse quenão se circunscrevia tão-somente a SãoPaulo. Com certeza, atrás das peripécias<strong>do</strong>s sertanistas jaz, praticamente desconheci<strong>do</strong>,o envolvente drama de inúmeros povosnativos que não foram simplesmenteapaga<strong>do</strong>s e sim passaram por complexastransformações, entre as quais o desenvolvimentoda escravidão foi talvez a mais significativa.De fato, apesar de pouco abordada nahistoriografia, a escravidão indígena desempenhouum papel de grande impactonão apenas sobre as populações nativascomo também na constituição da sociedadee eco<strong>no</strong>mia coloniais. Em sua dimensãomais negativa, alian<strong>do</strong>-se às <strong>do</strong>ençascontagiosas, a escravização <strong>do</strong>s índios concorreupara o despovoamento de vastas regiões<strong>do</strong> litoral e <strong>do</strong>s sertões mais acessíveisaos europeus. Ao mesmo passo,porém, os cativos, desloca<strong>do</strong>s de suas aldeiase terras para as unidades de produçãoe aldeamentos coloniais, viam-se obriga<strong>do</strong>sa recompor suas vidas e suaidentidade dentro deste <strong>no</strong>vo contexto.Colonização e escravidão <strong>no</strong> séculoXVIAs origens da escravidão indígena <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> remontam aos mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séculoXVI, quan<strong>do</strong> os coloniza<strong>do</strong>res portuguesescomeçaram a intensificar suas atividadeseconómicas ao longo <strong>do</strong> litoral. Nesteperío<strong>do</strong> inicial, o cativeiro <strong>do</strong>s índios visavasolucionar, de uma só vez, <strong>do</strong>is imperativosda colonização: a questão militar eo suprimento de mão-de-obra para a incipienteeco<strong>no</strong>mia açucareira. Os grupos quese mostravam resistentes às pretensões <strong>do</strong>seuropeus eram sujeitos a guerras movidaspelos portugueses e seus alia<strong>do</strong>s indígenase os prisioneiros eram distribuí<strong>do</strong>s ou vendi<strong>do</strong>scomo escravos.De certo mo<strong>do</strong>, pelo me<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>siniciais da colonização, as relações lusoindígenaspermaneciam subordinadas auma lógica pré-colonial. Para os portugueses,a presença de cativos nas sociedadesindígenas traduzia-se na perspectiva de seremadquiri<strong>do</strong>s cada vez mais escravosatravés das guerras entre grupos nativos.No entanto, nas sociedades indígenas, ocativo não possuía a co<strong>no</strong>tação de escravo,pois servia para fins rituais e não produtivos.Nesse senti<strong>do</strong>, não é de se estranhara resistência à venda de escravos,inclusive entre os próprios cativos. O jesuítaAzpilcueta Navarro, ao propor a comprade um cativo Tupinambá nas vésperas deseu sacrifício ritual, surpreendeu-se com arecusa <strong>do</strong> índio, que "disse que não o vendessem,porque cumpria à sua honra passarpor tal morte como valente capitão". lDiante da dificuldade em transformaro cativo de guerra em escravo através <strong>do</strong>escambo com os índios, os portugueses começarama lançar mão de outros méto<strong>do</strong>sde captação de mão-de-obra. A apropriaçãodireta de cativos, através de expedi-

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