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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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vive-se. Na morte, a ruptura quase totalcom os que sobrevivem, o inaugurar deuma <strong>no</strong>va existência, em um <strong>no</strong>vo espaçomarca<strong>do</strong> por festas e relações de consanguinidade.Vivem, então, afinal, a negaçãoda alteridade que constituíra suasvidas: encontram-se. agora, na aldeia <strong>do</strong>smortos, o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s antepassa<strong>do</strong>s, o rei<strong>no</strong>da identidade mais absoluta.Por contraste, caberia mencionar, talvez,a região <strong>do</strong> Alto Rio Negro, o <strong>no</strong>roesteamazônico, morada de povos de línguaTuka<strong>no</strong> 2 . No início <strong>do</strong>s tempos, antepassa<strong>do</strong>smíticos criaram o mun<strong>do</strong> que, antes,não existia. Das entranhas de uma anacondaancestral, que fazia o percurso <strong>do</strong>rio, saíram, em pontos precisos daquelepercurso, os antepassa<strong>do</strong>s primeiros de cadaum <strong>do</strong>s vários povos da região, determinan<strong>do</strong>,assim, seus respectivos territórios,as atribuições específicas de cada um e umpadrão hierarquiza<strong>do</strong> de relacionamentoentre eles.Cosmos, território e maloca — a casacomunal que abriga os mora<strong>do</strong>res de umgrupo local — organizam-se espacialmentereproduzin<strong>do</strong>, naquele mesmo padrão, ummodelo próprio de relacionamento socialbasea<strong>do</strong> principalmente <strong>no</strong> parentesco ena sucessão das gerações ao longo <strong>do</strong> tempo.No ritual de Jurupari, faz-se a iniciação<strong>do</strong>s jovens à vida adulta e, neste contexto,reafirma-se o <strong>no</strong>vo por suaaproximação com as origens. No momentoritual, suprime-se o tempo transcorri<strong>do</strong> entreos primórdios e o presente histórico: jovense ancestrais estão simbolicamente coloca<strong>do</strong>sla<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>; o futuro se faz atravésde um reencontro intenso e regenera<strong>do</strong>rcom o passa<strong>do</strong> mais longínquo. Suprime--se, <strong>no</strong> rito, o tempo para impulsioná-loadiante; recria-se o espaço; bebe-se nasfontes originais a força da vida.Em muitas cosmologias, as relaçõesentre os huma<strong>no</strong>s e os demais seres sãopensadas através da ideia da predação, numametáfora que simbólica e logicamenteaproxima caça, guerra, sexo e comensalidade.Ainda <strong>no</strong> Alto <strong>do</strong> Rio Negro 3 , oxamã parece estar encarrega<strong>do</strong> de garantirque fluxos e volumes de energia vitalcompartilhada por huma<strong>no</strong>s e animaismantenham-se em níveis adequa<strong>do</strong>s. Exagerosna matança de animais deflagrariam,como contrapartida, epidemias e malefíciosentre os homens, provoca<strong>do</strong>s por espíritosprotetores <strong>do</strong>s animais. Um equilíbriovital nas relações entre diversos <strong>do</strong>mínioscósmicos exige uma atenção que, de outraperspectiva, chamaríamos de "consciênciaecológica". Uma concepçãocosmológica que situa a humanidade co-Detalhe <strong>do</strong> teto dacasa de recepções efestividades <strong>do</strong>síndios Wayana. Nalíngua indígena, aroda <strong>do</strong> teto édesignada Maruanae nela estãorepresenta<strong>do</strong>s seressobrenaturais queconstituem ocosmos Wayana.Foto Lúcia VanVelthem.

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