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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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atualidade 3 , os homens continuam exercen<strong>do</strong>sua maestria em outras esferas artesanaisentre as quais a cestaria. Empregamem sua confecção cipós, arumã efolhas fechadas de palmeiras sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong>tucumã (Astrocarium sp), confeccionan<strong>do</strong>objetos cotidia<strong>no</strong>s, utiliza<strong>do</strong>s <strong>no</strong> processamentoda mandioca, <strong>no</strong> transporte e armazenamento<strong>do</strong>s mais diversos elementos.Um <strong>do</strong>s mais importantes trança<strong>do</strong>s éo cesto cargueiro itiú. Confecciona<strong>do</strong> compalha de tucumã, recebe reforço de cordéisde caroá e alça de envira. Confecciona<strong>do</strong>pelo homem e ofereci<strong>do</strong> à esposa oufilha solteira, é usa<strong>do</strong> <strong>no</strong> transporte de produtosda roça, de lenha, de frutos silvestres,<strong>do</strong>s apetrechos familiares em viagem.E um elemento imprescindível na vida cotidianaMundurukú na qual preenche outrafunção, pois veicula, esteticamente,mensagens sobre a organização social.To<strong>do</strong>s os itiú são semelhantes, o queos diferencia são os motivos decorativos ea alça de sustentação. Esses <strong>do</strong>is elementosse complementam e informam sobre olugar que ocupa, na sociedade Mundurukú,o confecciona<strong>do</strong>r e a usuária <strong>do</strong> cesto.O itiú converte-se num painel que permitevisualizar e identificar a estrutura dafamília nuclear <strong>no</strong> seio da sociedade indígena,assim como particularizar a posse femininadesse cesto cargueiro.O motivos decorativos são aplica<strong>do</strong>spelos homens na face externa <strong>do</strong> cestopronto. Utilizam atualmente pigmentos vermelhosà base de urucú e tracejam o motivocom a ponta <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s. Esses motivossão genericamente designa<strong>do</strong>s comokuráp, "desenho, pintura" e informam sobrea clã patrilinear 4 ao qual pertence oartista. A alça é feita pelas mulheres, de entrecascabranca ou vermelha. Essa cor indicaa metade exogâmica à qual a mulherpertence: ipakpõkánye, "vermelhos" ou iritiánye,"brancos". Essas metades regulamos casamentos e compartilham característicasde reciprocidade, rivalidade e outrosaspectos antitéticos (Murphy, 1960:72). Oitiú de alça vermelha informa, portanto,que a <strong>do</strong>na pertence à metade "vermelha"e concomitantemente esclarece que seumari<strong>do</strong> pertence à metade "branca", confirmadapela pintura <strong>do</strong> cesto.Sugerimos que a organização socialMundurukú reflete-se através desse trança<strong>do</strong>,pois este representa a recapitulação<strong>do</strong> to<strong>do</strong>, a síntese da organização social.Entre os componentes <strong>do</strong> itiú, matérias--primas, decoração, coloração da alça,ocorre um contínuo e perfeito entrosamentoque expressa essa realidade.Algo semelhante pode ser afirma<strong>do</strong>para a cestaria Wayana pois em cada elemento<strong>do</strong> seu repertório há igualmenteuma vontade de síntese, não tanto da organizaçãosocial mas sim da ordenaçãocosmológica. Os trança<strong>do</strong>s representamum prisma através <strong>do</strong> qual as concepçõesWayana a respeito da formação e constituição<strong>do</strong> universo podem ser refletidas ecompreendidas pelos membros dessa sociedade.Os Wayana, povo de língua Carib <strong>do</strong><strong>no</strong>rte <strong>do</strong> Pará, são conheci<strong>do</strong>s, assim comooutros grupos de língua Carib, pela re-

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