10.07.2015 Views

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

de recursos e de quadros com quem a Funainão consegue competir). Houve umamudança nas últimas gestões da Funai,que proibiu a atuação de missões-de-fé emáreas de índios isola<strong>do</strong>s. O órgão indigenistaoficial as considera agora "desqualificadas"para garantir a esses grupos condiçõesde manterem sua auto<strong>no</strong>mia:repudia-se oficialmente as interferênciasdeculturativas que os fundamentalistas promovem,não apenas através <strong>do</strong> proselitismoreligioso, mas em to<strong>do</strong>s os níveis da vidasocial, económica e política <strong>do</strong>s gruposindígenas.Ora, se as missões-de-fé são desqualificadasnesta fase, porque não o seriamnuma fase posterior ao contato? Observa--se, porém, que nesta altura, sua atuaçãonão só é permitida, como referenciada pelospróprios agentes <strong>do</strong> órgão protecionista:conta-se com sua dedicação para tomarconta de índios marginaliza<strong>do</strong>s, em casosespinhosos (por exemplo: <strong>do</strong>is índios Tupiisola<strong>do</strong>s em difícil situação de convivênciacom outros povos foram entregues aoscuida<strong>do</strong>s de um missionário da MNTB);conta-se com eles enquanto microscopistasou enfermeiros (porque a Funai nãoconsegue contratar ou formar especialistasem seus quadros), ou como mecânicos,ou motoristas, ou professores. Os técnicosregionais de educação da Funai -quan<strong>do</strong> não produzem méto<strong>do</strong>s ou materiaisalternativos ao modelo de alfabetização"bicultural" implanta<strong>do</strong> pelas missões--de-fé - não só permitem como divulgamo méto<strong>do</strong> das missões, que consideramadequa<strong>do</strong> ao ensi<strong>no</strong> nas escolas de aldeia,por comodismo ou ig<strong>no</strong>rância, sem ter ascondições de avaliar os pressupostos e osefeitos deste méto<strong>do</strong>. Tu<strong>do</strong> isto, é claro, temseu preço, pago pelos índios.Voltamos, enfim, ao ponto de partida:não existe, <strong>no</strong> quadro da política indigenistaoficial, uma programação capaz dedar conteú<strong>do</strong> à proposta de "preservar aauto<strong>no</strong>mia" indígena, em termos sócio--políticos e culturais. Razão pela qual, emúltima instância, política governamental efundamentalista se apoiam mutuamente,ao sabor das conveniências. Terminada afase de isolamento, o índio é apenas ummarginaliza<strong>do</strong> que deve rapidamente serreconduzi<strong>do</strong> à aparência <strong>do</strong> "índio" que<strong>no</strong>ssa sociedade idealiza. E para isso, asmissões evangélicas são altamente qualificadas.De arredios a isola<strong>do</strong>s, de puros a acuítura<strong>do</strong>s,os índios são submeti<strong>do</strong>s a atitudesprotecionistas que se transfiguram rapidamenteem intervenções reeducativas.As concepções relativas a fragilidade de suacultura e à sua marginalidade política orientamuma sequência de intervenções cujoobjetivo, antes, era abertamente "civiliza<strong>do</strong>r"e visava eliminar por completo as características<strong>do</strong> ser indígena. Agora, as intervençõesalmejam a manutenção decaracterísticas idealizadas <strong>do</strong> ser índio 18 .Quan<strong>do</strong> necessário, pretende-se inclusivereensinar-lhes suas tradições perdidas.Mesmo que o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> ensinamentotenha muda<strong>do</strong>, esse relacionamento continuaembasa<strong>do</strong> <strong>no</strong> pressuposto da "capacidadede perfectibilidade e civilização daspopulações indígenas" (Lima, 1992:81).Hoje, como ontem, o Esta<strong>do</strong> arroga--se o mo<strong>no</strong>pólio (mesmo que não consigamantê-lo) na condução da passagem <strong>do</strong>isolamento ao convívio interétnico. Umavez concluída a transição - num momentoque também cabe ao Esta<strong>do</strong> definir - outrasagências são autorizadas a prosseguiro trabalho. Mas, na maioria das vezes, terminadaa pacificação, larga-se esses gruposà própria sorte, deixan<strong>do</strong>-os <strong>no</strong> esquecimento.Poderão ressurgir na figura degrupos que lutam por sua sobrevivência,por suas terras. A estes, oferece-se intervençõestotalmente contraditórias com aorientação da fase anterior, de preservaçãocultural. A garantia <strong>do</strong> território, "interdita<strong>do</strong>"<strong>no</strong> momento <strong>do</strong> contato, levaa<strong>no</strong>s para sair desta precária situação jurídica;os projetos económicos, genéricos einadequa<strong>do</strong>s tanto à realidade sócio--política quanto às características ecológicasdas diferentes áreas ocupadas pelos povosindígenas, visam apenas aliviar as limitaçõesda subsistência comprometida pelasedentarização e pelas perdas territoriais;os programas de educação e saúde perdemespecificidade quan<strong>do</strong> repassa<strong>do</strong>s ao controlede agências municipais ou estaduais,ou aos cuida<strong>do</strong>s de missões religiosas. Oque, então, se protege "por um tempo"?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!