10.07.2015 Views

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ceram <strong>do</strong> mapa. Mas é preciso ter claro quetal anteparo pressupõe relações de <strong>do</strong>minaçãoque se fundamentam em concepçõesde história e evolução cultural unilinear,antropologicamente equivocadas,mesmo que preeminentes na forma como<strong>no</strong>ssa sociedade trata o índio 6 .Hoje, a política indigenista oficial optapela segunda definição <strong>do</strong> "problema",colocan<strong>do</strong>-se ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s índios paradefendê-los <strong>do</strong>s abusos da política desenvolvimentista- que por sua vez, tambémse apoia na fragilidade da cultura indígenapara propor sua rápida assimilação.Mesmo que tenha muda<strong>do</strong> a perspectivade onde se aborda o "problema", a questãoindígena continua apoiada num conceitode marginalidade diretamente relaciona<strong>do</strong>às miragens <strong>do</strong> isolamento históricoe cultural acima mencionadas. Se existe,de fato, uma mudança na construção teórica<strong>do</strong> ideário indigenista, a persistênciade conceitos como estes gera impasses nacondução e <strong>no</strong>s limites da proteção, especialmentequan<strong>do</strong> voltada para os gruposisola<strong>do</strong>s.Ambiguidades <strong>do</strong> protecionismoA intenção de "proteger e conservar"a auto<strong>no</strong>mia <strong>do</strong>s grupos isola<strong>do</strong>s surge <strong>no</strong>bojo das reivindicações de autodeterminaçãoexpressadas pelo movimento indígenae passa, recentemente, a ser a<strong>do</strong>tadaenquanto obrigação <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. A contradiçãobásica desta formulação - que condicionaa auto<strong>no</strong>mia à proteção - reiteraa persistência instrumental de conceitosevolucionistas. A auto<strong>no</strong>mia <strong>do</strong>s isola<strong>do</strong>sacaba reduzida conceitualmente à marginalidade,que exige proteção (pois os isola<strong>do</strong>ssão posiciona<strong>do</strong>s num gradiente evolutivo)e conservação (dada a fragilidadede sua cultura).O descompasso entre a origem destaideologia - construída a partir da crítica àsações integracionistas implementadas peloEsta<strong>do</strong> - e sua aplicação - mo<strong>no</strong>polizadapor setores governamentais ou por instituiçõesautorizadas, especialmente asmissões religiosas -, importante de ser consideradae foi amplamente estudada 8 . Poroutro la<strong>do</strong>, os etnólogos têm analisa<strong>do</strong> -na introdução de suas et<strong>no</strong>grafias e em algunstrabalhos específicos - os impasses daprática protecionista em casosparticulares 9 .Sem pretender abordar a questão demo<strong>do</strong> exaustivo, é significativo ilustrar o impasseatravés de alguns exemplos. Retomoaqui o fio proposto <strong>no</strong> início <strong>do</strong> texto,segun<strong>do</strong> o qual as contradições <strong>do</strong> protecionismoseriam melhor esclarecidas <strong>no</strong>prisma da "passagem" da condição de isola<strong>do</strong>à de povo em contato, que na perspectiva<strong>do</strong> primeiro contato (ou da pacificação),dificilmente identificável. O que secostuma considerar como o ponto zero dahistória das relações interétnicas - a pacificaçãorealizada por uma agência oficial -é, na perspectiva indígena, apenas umaetapa numa trajetória muito mais complexae constantemente reelaborada em suasrepresentações sobre o contato 10 .Conteú<strong>do</strong> pragmático daproteçãoUm primeiro aspecto diz respeito aoconteú<strong>do</strong> específico <strong>do</strong>s programas volta<strong>do</strong>spara a proteção <strong>do</strong>s índios isola<strong>do</strong>s esua transfiguração quan<strong>do</strong> se tornam medidasassistenciais para povos em contato.Há algum tempo, costuma-se planejar apreservação da auto<strong>no</strong>mia indígena emtor<strong>no</strong> de três poios: garantir a sobrevivênciaterritorial, física e socio-cultural. Sãoconcebidas como medidas preventivas: interditara área territorial, controlar epidemiasde malária e gripe, campanhas de vacinação,são prioridades absolutas <strong>no</strong>planejamento da assistência aos gruposrecém-cóntacta<strong>do</strong>s. No que diz respeito àterra, procura-se intervir imediatamenteapós o contato ou, idealmente, antes, tãologo o grupo isola<strong>do</strong> tenha si<strong>do</strong> localiza<strong>do</strong>.É inquestionável que a sobrevivênciasócio-cultural <strong>do</strong>s grupos isola<strong>do</strong>s e recém--contacta<strong>do</strong>s depende essencialmente damanutenção equilibrada <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is níveis anteriores.Razão pela qual, a proteção terri-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!