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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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De arredio a isola<strong>do</strong>:perspectivas de auto<strong>no</strong>mia para os povosindígenas recém-contacta<strong>do</strong>sDominique Tilkin GalloisMais de 50 grupos indígenas distribuí<strong>do</strong>sem várias regiões da Amazónia continuamviven<strong>do</strong>, hoje, praticamente semcontato com a sociedade nacional. Aindavão descobrir, ou redescobrir, o <strong>Brasil</strong>. Épreciso garantir-lhes espaço e tempo necessáriospara que a opção <strong>do</strong> contato dependadeles e não da decisão <strong>do</strong>s sertanistas<strong>do</strong> órgão indigenista oficial.Enquanto não estiverem ameaça<strong>do</strong>s diretamente,o Esta<strong>do</strong> não promove o contato,apenas protege, à distância, seu habitat.Esta <strong>no</strong>va política "para os isola<strong>do</strong>s",implantada pelo Departamento de índiosIsola<strong>do</strong>s da Funai, representa, enquantoconstrução teórica, uma alternativa significativaà forma com que esses grupos vinhamsen<strong>do</strong> trata<strong>do</strong>s nas últimas décadas.Não se pretende levantar, aqui, as dificuldadesenfrentadas ao nível prático dasintervenções, devidas principalmente à resistênciade setores governamentais emsubscrever à política protecionista e decorrentes<strong>do</strong>s interesses económicos que pesamsobre os redutos territoriais <strong>do</strong>s índiosisola<strong>do</strong>s. Entretanto, parece-me relevantequestionar alguns impasses com que se defrontaesta política, ao nível conceituai. Aprimeira ambiguidade relaciona : se com aprópria construção da categoria de isola<strong>do</strong>.Quais fronteiras cercam os isola<strong>do</strong>s equan<strong>do</strong> deixam de sê-lo?A permanência de representações ambíguassobre as <strong>no</strong>ções de isolamento, deautenticidade e pureza, articuladas à de fragilidade,de i<strong>no</strong>cência e de marginalidadecondicionam as relações que historicamente<strong>no</strong>ssa sociedade mantêm com esses grupos.Ampliar o debate em tor<strong>no</strong> dessesconceitos, além <strong>do</strong> círculo restrito de especialistas,é um desafio permanente paraa antropologia, e especialmente para aet<strong>no</strong>logia.Como mostram os estu<strong>do</strong>s sobre a históriaindígena nas Américas, o et<strong>no</strong>cídioresulta tanto <strong>do</strong>s efeitos da introdução de<strong>do</strong>enças, de tec<strong>no</strong>logias e de valores alienígenasquanto da intenção de <strong>do</strong>minaçãoque preside à esta introdução. Intençãosimbolicamente desempenhada, historicamente,<strong>no</strong> próprio evento da pacificação,quan<strong>do</strong> distribuiam-se roupas, cruzes e instrumentosde trabalho. A <strong>do</strong>minaçãoconcretizava-se através da política de sedentarizaçãovisan<strong>do</strong> a liberação <strong>do</strong>s territóriostradicionais, ou através da transferênciapara áreas distantes, ou através <strong>do</strong>engajamento <strong>do</strong>s índios em trabalhos considera<strong>do</strong>sprodutivos. Hoje, a intenção mu<strong>do</strong>u:procura-se efetivamente proteger,preservar e controlar relações de contatodestrutivas, em prol da sobrevivência físicae cultural <strong>do</strong>s grupos isola<strong>do</strong>s. A prática<strong>do</strong> contato também mu<strong>do</strong>u: mesmo quese continue oferecen<strong>do</strong> ferramentas - símboloda superioridade tec<strong>no</strong>lógica que <strong>no</strong>ssasociedade se atribui - distribuem-se tambémvacinas e remédios.Para abordar a relação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> comos índios, é interessante observar uma faseparticularmente difícil na experiência decontato de grupos indígenas recém--contacta<strong>do</strong>s: o momento em que deixamde receber proteção especial <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,porque saem da condição de isola<strong>do</strong>s. Apassagem para a situação de contacta<strong>do</strong>smanifesta-se pela simplificação e banalização<strong>do</strong>s serviços assistenciais, dispensan<strong>do</strong>--se ações que se relacionam tradicionalmentecom a estratégia da pacificação:diminuição <strong>do</strong> número de agentes, me<strong>no</strong>rsistematização e me<strong>no</strong>r especificidade <strong>do</strong>sserviços de saúde e, sobretu<strong>do</strong>, interrupçãoda distribuição de bens para fins de sedução.Também diminui o controle <strong>do</strong> órgãoestatal sobre a presença de agentesexter<strong>no</strong>s nas áreas indígenas. Mas essa passagemé especialmente marcada por umamudança de natureza nas intervenções:aos índios em contato, oferece-se projetos

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