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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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Na mitologia <strong>do</strong>síndios Desana, aavó <strong>do</strong> UniversoYebá Belo constrói--se a si mesma apartir de seis coisasinvisíveis: Sé-Kali(bancos), salipu(suportes depanelas), Kuásulupu (cuias). Kuásuluverá (cuias/ipadu),deneke iuhku verápogá kuá (pés demaniua, ipadu,tapioca, cuia),muhlun iuhku(cigarros). Desenhode Luiz Lanacoleta<strong>do</strong> por BertaRibeiro, publica<strong>do</strong>em "Antes o mun<strong>do</strong>não existia".a experiência e, nela, a transformação e,ainda, a ação. Sai-se dele re<strong>no</strong>va<strong>do</strong>, emoutra condição. Em muitas sociedades indígenas,o ritual é o momento mesmo dainserção da humanidade <strong>no</strong> universo maisamplo; é o lugar mesmo da confluência eda presença concomitante <strong>do</strong> sobrenatural,da natureza e da humanidade. E, poroutro la<strong>do</strong>, da reafirmação <strong>do</strong>s laços de solidariedadeinterna, da troca recíproca, daexpressão concreta da dimensão económica<strong>do</strong>s ritos, através de redistribuição e partilhade alimentos.E assim que símbolos, sentimentos,concepções e matérias se encontram e semesclam <strong>no</strong> universo <strong>do</strong> mito e da cosmologia,permean<strong>do</strong> vida e pensamento, sociedadee natureza, dan<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> à experiênciahumana <strong>no</strong> mun<strong>do</strong>. Não comoideologia que aliena, distorce e distancia,mas como consciência <strong>do</strong> valor das coisas,esquema interpretativo à disposição <strong>do</strong> sujeitoque conhece o mun<strong>do</strong> e age sobre ele.Conhecimento e ação são movimentosconstantes, processos que se acumulame se desenvolvem, seguin<strong>do</strong> o correr<strong>do</strong> tempo: reafirmações, ajustes, transformações,i<strong>no</strong>vações. Cosmologias e seusmitos associa<strong>do</strong>s são produtos e são meiosda reflexão de um povo sobre sua vida, suasociedade e sua história. Expressam concepçõese experiências. Constróem-se ereconstróem-se ao longo <strong>do</strong> tempo, dialogan<strong>do</strong>com as alterações trazidas pelo fluir<strong>do</strong> tempo, pelo circular em <strong>no</strong>vos espaços,pelo contracenar com <strong>no</strong>vos atores.A inserção inexorável <strong>do</strong>s povos indígenasà sociedade nacional traz à vivência e à reflexão <strong>no</strong>vos desafios. Algumasdas <strong>no</strong>vidades são acomodadas na visãojá construída: o <strong>no</strong>vo é traduzi<strong>do</strong> <strong>no</strong> já conheci<strong>do</strong>.Domestica<strong>do</strong>, torna-se familiar;ganha um senti<strong>do</strong> instituí<strong>do</strong> pela tradição;perde o ineditismo, graças à sua localização<strong>no</strong> passa<strong>do</strong> experimenta<strong>do</strong>. Ganha,enfim, ares de reencontro.Outras <strong>no</strong>vidades não têm eco na experiênciaconsagrada e na interpretaçãopossível. Abrem caminho à força, fazem--se senti<strong>do</strong>, acomodam-se imposirivamente<strong>no</strong> cenário e <strong>no</strong>s mo<strong>do</strong>s de conhecimentojá constituí<strong>do</strong>s, exigin<strong>do</strong> ampliações,transformações e originan<strong>do</strong> i<strong>no</strong>vações.São processos próprios à vida social eà cultura, em qualquer momento histórico.São mecanismos de produção de variaçãoe de criação culturais. Mas, <strong>no</strong> contextoda Conquista, ganham força <strong>no</strong>va,nascida da desigualdade e da <strong>do</strong>minaçãotípicas desse momento. Mitos da origem <strong>do</strong>homem branco, reflexões sobre sua humanidade,reavaliações <strong>do</strong> lugar <strong>do</strong>s índios <strong>no</strong>mun<strong>do</strong>, registro de experiências <strong>do</strong> contatona memória a ser legada, exemplarmente,às gerações futuras...Os mitos se reafirmame se transformam, dialogan<strong>do</strong> coma história.Talvez seja chegada a hora de ilustrartu<strong>do</strong> isto com referências mais concretasa mo<strong>do</strong>s indígenas específicos de concebero cosmos e de se situar nele. A tarefaé quase impossível e demasiadamente perigosa:é grande a complexidade das teoriasindígenas; grande, a variedade de concepçõese estilos. O perigo é o dageneralização infundada, da simplificaçãogrosseira, da comparação ilegítima.Da<strong>do</strong> o alerta, segue a ilustração, temerária,mas feita aqui apenas como pontode partida, exageradamente conciso, parciale insuficiente. Por isso, cada caso menciona<strong>do</strong>vem segui<strong>do</strong> da indicação bibliográficaque dará a ele o seu senti<strong>do</strong> ple<strong>no</strong>.Assim, entre povos da família linguísticaJê J , o cosmos é concebi<strong>do</strong> como habita<strong>do</strong>por diferentes humanidades: a subterrânea,a terrestre, a subaquática, aceleste existem desde sempre. O tempo dasorigens é o da indiferenciação e da desordem,da convivência e da interpenetraçãodaqueles <strong>do</strong>mínios. Astros, como o Sol ea Lua, são gémeos primordiais que vivem

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