10.07.2015 Views

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Mitos c cosmologias indígenas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>:breve introduçãoAracy Lopes da SilvaIndiferenciação entre huma<strong>no</strong>s e animais,que se relacionam como iguais; céue terra tão próximos, que quase se tocam;viagens cósmicas, homens que voam, gémeosprimevos, incestos cria<strong>do</strong>res; origenssubterrâneas; dilúvios; humanidades subaquáticas;caos, conquistas, transformações...É o mun<strong>do</strong> toman<strong>do</strong> forma, definin<strong>do</strong>lugares e características depersonagens hoje conheci<strong>do</strong>s. São os temasmíticos, que narram aventuras e seresprimordiais, em linguagem fabulosamas construída com imagens concretas,captáveis pelos senti<strong>do</strong>s; situadas em umtempo das origens mas referidas ao presente,encerran<strong>do</strong> perspectivas de futuroe carregan<strong>do</strong> experiências <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. Assim,complexos, são os mitos.São, também, incomensuravelmentevaria<strong>do</strong>s, já que criação original de cadagrupo com identidade cultural própria, referi<strong>do</strong>sàs suas condições de existência eà cosmovisão aí elaborada. Mas é igualmenteinegável a sua condição de variaçõessobre temas comuns, compartilha<strong>do</strong>snão apenas localmente mas, em alguns casos,em escala universal. Particulares e locais,universais e essencialmente huma<strong>no</strong>s...talvez resida aí uma parte <strong>do</strong> fascínioe <strong>do</strong> mistério <strong>do</strong>s mitos.Em universos sócio-culturais específicos,como aqueles constituí<strong>do</strong>s por cadasociedade indígena <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, os mitos searticulam à vida social, aos rituais, à história,à filosofia própria <strong>do</strong> grupo, com categoriasde pensamento localmente elaboradasque resultam em maneiras peculiaresde conceber a pessoa humana, o tempo,o espaço, o cosmos. Neste pla<strong>no</strong>, definem--se os atributos da identidade pessoal e <strong>do</strong>grupo, distintiva e exclusiva, construída pelocontraste com aquilo que é defini<strong>do</strong> comoo "outro": a natureza, os mortos, os inimigos,os espíritos...Central é a definição <strong>do</strong> que seja a humanidadee de seu lugar na ordem cósmica,por contraposição a outros <strong>do</strong>mínios,habita<strong>do</strong>s e controla<strong>do</strong>s por seres de outranatureza, vistos, às vezes, como momentosdiversos <strong>no</strong> processo contínuo daprodução da vida e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. No cosmosconcebi<strong>do</strong>, há ordem, há classificação, háoposição lógica, há hierarquia, categoriasinclusivas e exclusivas. Mas há tambémmovimento e um jogo constante com otempo, seja para suprimi-lo, permitin<strong>do</strong> aosviventes huma<strong>no</strong>s um reencontro possívelcom o passa<strong>do</strong>, os ancestrais, as origens,seja para torná-lo eixo da própria existência,destinada a completar-se e a constituir--se plenamente após a morte, na superaçãoeterna das limitações da condiçãohumana.Cosmologias são teorias <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Daordem <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, <strong>do</strong> movimento <strong>no</strong> mun<strong>do</strong>,<strong>no</strong> espaço e <strong>no</strong> tempo, <strong>no</strong> qual a humanidadeé apenas um <strong>do</strong>s muitos personagensem cena. Definem o lugar que elaocupa <strong>no</strong> cenário total e expressam concepçõesque revelam a interdependênciapermanente e a reciprocidade constantenas trocas de energias e forças vitais, deconhecimentos, habilidades e capacidadesque dão aos personagens a fonte de suare<strong>no</strong>vação, perpetuação e criatividade.Na vivência cotidiana, essas concepçõesorientam, dão senti<strong>do</strong>, permitem interpretaracontecimentos e ponderar decisões.São, de mo<strong>do</strong> sintético, expressascom clareza exemplar através da linguagemaltamente simbólica da dramaturgia <strong>do</strong>s rituais.Música, gestualidade estereotipadamas sempre cria<strong>do</strong>ra, ornamentos corporaismais ou me<strong>no</strong>s exuberantes, entre outrosrecursos, permitem o contato com outrasdimensões cósmicas que aquelahabitualmente ocupada pelos huma<strong>no</strong>s ecom momentos outros <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e <strong>do</strong>processo da vida (e da morte). Nos rituais,as coisas efetivamente acontecem. " E apenasum ritual", diz-se, hoje, nas cidades,quan<strong>do</strong> se quer enfatizar o vazio das açõesou das situações ritualizadas, prescritas, formalizadas.Le<strong>do</strong> enga<strong>no</strong>. O ritual permite

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!