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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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Instalaçãoreproduzin<strong>do</strong> uma"roça" de caboclona exposição índios<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Váriosvisitantesdepositaramdinheiro comooferenda junto aestátua <strong>do</strong> cabocloUbirajara. Foto LuísGrupioni.caram na tribo. Incendiaram tribos, morreram;porque a turma invadiu as terras <strong>do</strong>síndios. Então os índios morre, morre <strong>no</strong>rmal,que nem nós morremos, to<strong>do</strong>s vamosmorrer, os outros já morreram. Então elesvoltam sen<strong>do</strong> Orixás, para defender àquiloque era deles, defenden<strong>do</strong> os filhos,amigos, avós, pais, irmãos..."(Cabocla deum terreiro de umbanda, apud Brumana,F. e Martinez, E., 1991: 294) .Podemos afirmar que o caboclo é umarepresentação mítica <strong>do</strong> índio 12 feita pelasreligiões afro-brasileiras a partir <strong>do</strong> mo<strong>do</strong>como se deram as relações entre brancos,negros e índios ao longo de quase cincoséculos de contato. Nesta representaçãoencontramos, portanto, um diálogo extremamentedinâmico <strong>do</strong>s adeptos das religiõesafro-brasileiras com a sociedade envolvente:como já vimos, os terreiros estãolonge de serem pequenas ilhas que reproduziriama Africa <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.O caboclo está profundamente relaciona<strong>do</strong>ao índio fixa<strong>do</strong> pelo movimento românticoindianista, símbolo da nacionalidadebrasileira. Esta relação porém éinsuficiente para explicá-lo: <strong>no</strong> interior <strong>do</strong>sterreiros, este "índio", transforma<strong>do</strong> em entidadereligiosa, é re-significa<strong>do</strong> e a históriadas relações entre índios e negros, reinventada.Os caboclos devem ser compreendi<strong>do</strong>sem contraposição às outras entidades. Nointerior <strong>do</strong>s terreiros, representam a partebrasileira <strong>do</strong> culto, são os originários <strong>do</strong><strong>no</strong>sda terra brasileira. Suas cores, são asda bandeira: suas músicas cantadas emportuguês; suas festas, animadas e contamcom a participação de um público mais amplo.O povo-de-santo sente <strong>no</strong> caboclouma entidade próxima, sempre pronta paraauxiliá-lo em momentos de aflição.Opon<strong>do</strong>-se aos caboclos, encontramos<strong>no</strong>s can<strong>do</strong>mblés os orixás, deuses africa<strong>no</strong>sque, incorporan<strong>do</strong> os seus filhos, revivemna terra os mitos de origem. Na umbanda,entidades como pretos velhos ouExús fazem também clara referência à herançaafricana. Os caboclos aqui são claramenteos heróis nacionais, que "baixam"para trabalhar para os homens.Entidade espiritual, um semi-deus, ouum "orixá brasileiro", o caboclo é uma espéciede "reserva moral" <strong>do</strong> imaginárioafro-brasileiro. Guardião de um mun<strong>do</strong> deequilíbrio entre os deuses, o homem e anatureza. E o respeito que eles <strong>no</strong>s ensinamcom relação a estas dimensões da vidaé sempre um ideal a ser persegui<strong>do</strong> paraa formação da cidadania e da convivênciaentre as culturas. Neste ideal, reside, talvez,a grandeza e a beleza da sua imageme o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu culto.Notas1. A publicação deste artigo não teria si<strong>do</strong> possívelsem o apoio, leitura crítica e sugestões de Luís DoniseteB. Grupioni, Vagner Gonçalves da Silva, FernandaMassi e Maria Lúcia Montes.2. Angola, queto, jeje-nagô, mina, caboclo fazemreferências às diferentes "nações" às quais se adscrevemos distintos terreiros. A "nação" é atribuídaem função da origem ou <strong>no</strong> caso <strong>do</strong> can<strong>do</strong>mblé decaboclo, em função da importância desta entidade<strong>no</strong> culto.3. O caboclo é representa<strong>do</strong> muitas vezes como um"encanta<strong>do</strong>": um índio que morreu, esteve na terra<strong>do</strong>s orixás, e "encantou", voltan<strong>do</strong> como um semideus.4. Na pequena "roça de caboclo" que montamosna exposição "índios <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Alteridade, Diversidadee Diálogo Cultural" o espaço profa<strong>no</strong> — daexposição — e o sagra<strong>do</strong> — a "roça" (simulada) —imprevisivelmente se misturaram: ao final de cadajornada os organiza<strong>do</strong>res recolhiam de uma cumbucadeixada diante da estátua <strong>do</strong> caboclo Ubirajara<strong>no</strong>tas e moedas representan<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong>s da populaçãoque visitara a exposição. O dinheirocoleta<strong>do</strong> foi ofereci<strong>do</strong> num toque de caboclos de umterreiro na periferia de São Paulo.

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