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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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ços que <strong>no</strong>s parecem genuinamente "indígenas".Em sua passagem <strong>do</strong> isolamentopara o contato, o índio deve continuar corresponden<strong>do</strong>à imagem daquilo que sequer preservar: protegem-se os elementosda indianidade idealizada por <strong>no</strong>ssa sociedade,mesmo ao preço de relações autoritáriase, sempre, reducionistas 13 . Razãopela qual recomenda-se, quan<strong>do</strong> necessário,defender os índios contra eles mesmos.São considera<strong>do</strong>s i<strong>no</strong>centes, mas tambémperversos. Há inúmeros exemplos de atitudestomadas nesse contexto. Assim,recomendava-se às frentes <strong>do</strong> SPI deixaros índios isola<strong>do</strong>s "em paz" sem, <strong>no</strong> entanto,deixar de fiscalizar suas relações comAs missões-de-fé e os povos isola<strong>do</strong>sAo mesmo tempo em que a Funai mantémum cadastro de grupos isola<strong>do</strong>s, com informaçõesque devem permitir ao Esta<strong>do</strong> umafiscalização mais ágil de seus territórios, as missõesfundamentalistas têm levantamentos detalha<strong>do</strong>s<strong>do</strong>s povos "sem fé" espalha<strong>do</strong>s emto<strong>do</strong>s os cantos <strong>do</strong> planeta. Ali estão registra<strong>do</strong>sda<strong>do</strong>s significativos para as intervençõesque essas agências priorizam. Seus cadastrosdescrevem os numerosos "povos perdi<strong>do</strong>s <strong>do</strong><strong>Brasil</strong>", que incluem to<strong>do</strong>s os que não foramatingi<strong>do</strong>s pela "revelação <strong>do</strong> evangelho". Investigamcuida<strong>do</strong>samente a presença de gruposisola<strong>do</strong>s que são seu alvo privilegia<strong>do</strong>.As agências fundamentalistas preferem iniciartrabalhos entre povos onde nenhum outrotrabalho missionário tenha si<strong>do</strong> inicia<strong>do</strong> e,de preferência, nenhuma outra instituição estejaatuan<strong>do</strong>. A inexistência de alternativase/ou de comparações garantiria maior eficáciade seu trabalho. De acor<strong>do</strong> com esta estratégia,o fato <strong>do</strong>s isola<strong>do</strong>s não terem ti<strong>do</strong> uma históriade confronto interétnico através da qualpoderiam ter consolida<strong>do</strong> sua auto-identidade,tornariam esses grupos mais permeáveis às <strong>no</strong>vasideias. O cartaz de propaganda da MissãoNovas Tribos (ao la<strong>do</strong>) evidencia que os isola<strong>do</strong>snão são vistos exatamente como povos"virgens": praticam atos "selvagens", leva<strong>do</strong>spor impulsos que de<strong>no</strong>tam serem apenas "corposfísicos". Segun<strong>do</strong> esta lógica, por não teremti<strong>do</strong> ainda experiência espiritual, representamo campo ideal para a concretização detodas as etapas (especialmente as iniciais, queas missões-de-fé almejam mo<strong>no</strong>polizar) da engenhariacultural a que elas se propõem. Gruposisola<strong>do</strong>s não oporiam defesas às i<strong>no</strong>vaçõesmateriais e espirituais, que exigem a substituição<strong>do</strong>s traços considera<strong>do</strong>s "negativos" poreliminação e adaptação aos que são compatíveiscom a civilização, tida como única, universal.O caráter coercitivo dessa estratégia estáevidente <strong>no</strong> instrumento técnico que as missõesevangélicas privilegiam: a língua. To<strong>do</strong>sos valores alienígenas a serem introduzi<strong>do</strong>s sãotraduzi<strong>do</strong>s na língua nativa, para serem expressose transmiti<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s termos e <strong>no</strong>s mo<strong>do</strong>s deconcepção indígena e, desta forma, apropria<strong>do</strong>s.O aparente respeito à língua e à culturaé, na verdade, apenas uma instrumentalizaçãoque visa a assimilação completa <strong>do</strong>s índios aomun<strong>do</strong> cristão/civiliza<strong>do</strong>.O cartaz ao la<strong>do</strong> pergunta: "São os selvagensrealmente felizes? Me<strong>do</strong>, superstição, feitiçaria,infanticídio... Algumas tribos enterramvivos seus bebés acreditan<strong>do</strong> serem um maupresságio. Ide em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> e pregai oevangelho para cada criatura" (Revista BrownGold - MNTB).

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