10.07.2015 Views

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

As artes da vida <strong>do</strong> indígena brasileiroBerta G. RibeiroLewis Henry Morgan, um <strong>do</strong>s "foundingfathers" da Antropologia, chamava"Artes da Vida" as técnicas que implicam<strong>no</strong> desenvolvimento de implementos parao manejo de recursos naturais. E consideroua tríade - cerâmica, trança<strong>do</strong>, fiaçãoe tecelagem - como técnicas básicas das artesda vida.Os estu<strong>do</strong>s de cultura material de populaçõesindígenas, que marcaram épocaquan<strong>do</strong> a antropologia estava sediada principalmenteem museus et<strong>no</strong>gráficos ou dehistória natural, perderam força na medidaem que essa disciplina transportou-separa as universidades. Entre as décadas de50 e 80 registrou-se um vazio bibliográfico<strong>no</strong> que tange a esses estu<strong>do</strong>s. Contu<strong>do</strong>,a temática ligada à cultura material nãodesapareceu de to<strong>do</strong>. Entre outras razõesporque, como <strong>do</strong>cumentos materiais, inclusiveico<strong>no</strong>gráficos, exprimem a identidadede uma cultura. Como objetos úteiseles são consumi<strong>do</strong>s. E como bens simbólicossão <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de significa<strong>do</strong>. Os <strong>do</strong>isaspectos, embora possam coexistir,colocam-se, na maioria <strong>do</strong>s casos, em poiosopostos (Pomian 1985:71).No presente artigo trataremos <strong>do</strong>s objetosnecessários ao provimento da subsistência,isto é, <strong>do</strong>s utilitários, e daqueles supérfluosà subsistência: os objetos rituais.Ambos assumem crescente importânciapara os próprios índios, como acentua D.Gallois (1989:140): "... por um la<strong>do</strong>, porquemuitos grupos têm encontra<strong>do</strong> na vendade "artesanato" uma apreciável fonte derenda e, por outro la<strong>do</strong>, porque a manutençãode uma cultura material diferenciadaserve de marca ao movimento de resistênciaétnica, como sinal de auto<strong>no</strong>miaa ser reconquistada".A cerâmicaA argila é a matéria-prima básica naconfecção da cerâmica. O preparo da argilaexige tempo e paciência. E pulverizada,quan<strong>do</strong> seca, ou trabalhada à mão,quan<strong>do</strong> úmida. A qualidade da cerâmicadepende da obtenção de um grão fi<strong>no</strong>, homogéneo.A argila é geralmente recolhida às margensou <strong>no</strong>s leitos <strong>do</strong>s rios ou córregos. Armazenadaem cestos ou folhas de palmeira,é colocada em lugares frescos paraevitar o ressecamento. Depois é depuradade impurezas - fragmentos vegetais, minerais,peque<strong>no</strong>s seixos - borrifada com água,pulverizada <strong>no</strong> pilão e amassada.Para obter-se uma boa liga é necessárioadicionar certas substâncias que neutralizema excessiva plasticidade da argila.Tais são: 1) dentre as orgânicas - palha picada,raízes, ossos moí<strong>do</strong>s, etc; 2) dentreas i<strong>no</strong>rgânicas - grãos de quartzo, mica,feldspato, pedras calcárias, areia, etc; 3)dentre as bio-minerais - casca queimada etriturada de árvore rica em sílica, chamadacariapé Licania octandra, conchas esfareladas,etc. 4) cacos de cerâmica pulveriza<strong>do</strong>s.A adição desses materiais nemsempre ocorre, uma vez que eles já se encontramnaturalmente mistura<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s depósitosde argila.A sequência operacional da modelagemde uma peça se inicia com o preparode um bloco de barro. Segue-se a superposiçãode roletes de argila em forma deanéis em espiral.O tratamento inter<strong>no</strong> e exter<strong>no</strong> da superfíciede uma peça de cerâmica se fazcom a ajuda de implementos simples: conchas,pedaços de cuias, facas ou colheresde metal. Com essa técnica elementar, masque exige grande habilidade manual,alisam-se as paredes, preparan<strong>do</strong>-as parao polimento. Este se processa com seixosrola<strong>do</strong>s, cocos ( como o da palmeira inajá- Maximiliana regia), frutos, sementes,conchas, etc. Entre a raspagem e o polimentocostuma-se ainda lixar a peça coma folha de um arbusto (Dileniacea sp.).Preparada a peça de cerâmica,procede-se à queima que geralmente antecedea decoração pintada. Algumas tribos,como os Asuriní, escolhem com to-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!