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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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aprenderem a ler e escrever e de seus sucessosem ensinar orações e alguns outroselementos da <strong>do</strong>utrina.Em 1557, em seu "Diálogo sobre aconversão <strong>do</strong> gentio", Padre Manuel da Nóbregapropõe-se a discutir se "eles (indígenas) têm alma como nós (europeus)". Omérito deste texto está nas conclusões aque chega o Irmão Mateus Nogueira, alter--ego de Nóbrega. Estas conclusões explicama selvageria como fruto das diferençassociais entre europeus e indígenas.Com uma organização política tão distinta<strong>do</strong>s sistemas de gover<strong>no</strong> europeus, osíndios brasileiros, apesar de sua condiçãohumana, e, portanto, merece<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> esforçocatequista, se apresentam como "bestas"- esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> homem depois <strong>do</strong> peca<strong>do</strong>original.Estas reflexões teóricas de Nóbrega sãocontrabalançadas pelas vívidas narrativas <strong>do</strong>Padre José de Anchieta. Dele possuímos,por exemplo, uma descrição acurada <strong>do</strong>stamoios, grupo indígena que habitava ascostas <strong>do</strong> Rio de Janeiro. Ten<strong>do</strong> passa<strong>do</strong>cinco meses entre os nativos, servin<strong>do</strong>, juntamentecom o Padre Manuel da Nóbrega,como refém por ocasião das negociaçõesde paz entre tamoios e portugueses, Anchietaescreve ao Geral Diogo de Lainez, em 8de janeiro de 1565, uma extensa carta emque relata esse episódio e onde aproveitapara relatar diversos incidentes que provama selvageria <strong>do</strong>s tamoios.Convenci<strong>do</strong> de que só escapou damorte (e da devoração) por um grande favorde Jesus Cristo, ele <strong>no</strong>s relata desdeos motivos que os levaram para entre osindígenas hostis, com queixadas ainda"cheias da carne <strong>do</strong>s portugueses", até seuretor<strong>no</strong> ao Colégio de São Vicente.Esta carta não apenas revela os costumese hábitos <strong>do</strong> grupo que os guarda comorefém, mas ainda <strong>no</strong>s informa das tentativas,por parte <strong>do</strong>s indígenas, deconhecer melhor os hábitos e costumes <strong>do</strong>spadres.Além disso, como estes tamoios fossemtradicionalmente alia<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s franceses, quehá muito haviam invadi<strong>do</strong> o Rio de Janeiroe lá forma<strong>do</strong> a França Antártica, não éde espantar que Anchieta aproveite paracomentar a vida <strong>do</strong>s invasores entre os indígenasreprovan<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>ção de costumesbárbaros por parte <strong>do</strong>s adversários europeus.Diz ele: "não lhes falta mais que comercarne humana, que <strong>no</strong> mais sua vidaé corruptíssima" (N&A, 89).Contan<strong>do</strong> da insegurança em que sesentiam, durante o cativeiro, frente a chegadade qualquer grupo diferente de indígenas,Anchieta <strong>no</strong>s brinda com uma patética,mas hilariante, descrição <strong>do</strong>s apurosem que se viram ao fugir para a aldeia dechefe Pin<strong>do</strong>buçu. que, embora inimigo,lhes inspirava mais confiança que um grupodesconheci<strong>do</strong> recém-chega<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rioem uma ca<strong>no</strong>a:"E este foi um outro trabalho, o maior,ao me<strong>no</strong>s <strong>do</strong>s maiores que o Padre Manuelda Nóbrega teve em sua vida, porqueestan<strong>do</strong> ele muito fraco, (...) se queria corrernão podia, se não corria punha-se emperigo de vida: todavia correu quanto pôde,e mais <strong>do</strong> que pôde, até o fim da praia,onde antes da aldeia, que está posta emum monte mui alto, corre uma ribeira dáguamui larga e que dá pela cintura, o Padreia com botas e calças (...): se se punhaa descalçar chegava a ca<strong>no</strong>a, que estava(...) mui próximo de nós outros, de maneiraque o tomei às costa e o passei: mas emo meio <strong>do</strong> rio (...) foi força<strong>do</strong> o padre alançar-se na água, e assim que passou to<strong>do</strong>ensopa<strong>do</strong>, de maneira que escassamentetivemos tempo para <strong>no</strong>s (...) meter pelomonte (...)""Pois pelo monte arriba foi coisa de ver.Retirou o padre suas botas, calças e roupeta,e to<strong>do</strong> molha<strong>do</strong>, com toda a sua roupamolhada às costas e ele em camisa, sócom um bordão na mão, começamos a caminhar.Mas nem ele atrás nem adiante podiair (...) os da ca<strong>no</strong>a já estavam <strong>no</strong> ribeirogritan<strong>do</strong> (...) e bem creio que nãochegaríamos à aldeia, à qual ainda chegamos,porque encontramos com um índio(...) <strong>do</strong> qual (...) alcancei que, agora às costas,agora puxan<strong>do</strong> pelo bordão, levasse opadre, e assim, quase sem respiração, chegouàs casas" (N&A, 92/93).O episódio se resolve por bem, o "padrevelho" consegue chegar à aldeia e elesse salvam da ameaça, mas, dias depois,Anchieta <strong>no</strong>s descreve o episódio da mortee devoramento de um "escravo", ou seja,

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