10.07.2015 Views

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

II - A ordem <strong>do</strong>Mun<strong>do</strong> NaturalHumanidade com aextensão danatureza. "índiosPuri subin<strong>do</strong> nasárvores". MaximilianWied-Newied. 1816.Aquarela e bico-de--pena. Biblioteca<strong>Brasil</strong>iana RobertBosch. Foto:António Rodrigues.logia, como mostram estu<strong>do</strong>s históricos sobreo folclore <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, repercute e reforçao zelo preservacionista e coleciona<strong>do</strong>r, namedida em que a cultura popular aparecetambém como produto originário de umpassa<strong>do</strong> ameaça<strong>do</strong> de extinção (Cavalcanti1988).O propósito de "salvar" as culturas <strong>do</strong>desaparecimento dá aos museus um lugarparticularmente relevante nesse contexto,com repercussões internas que levam aselites intelectuais brasileiras a tentar inserir--se <strong>no</strong> espírito cosmopolita e <strong>no</strong>s padrõesde universalidade da ciência, com a criaçãode três museus: Nacional, Paulista eParaense Emílio Goeldi (Schwarcz 1988).Mas é <strong>no</strong>s museus da Europa que se reúnemas grandes coleções arqueológicas eet<strong>no</strong>gráficas sul-americanas, sen<strong>do</strong> o museuet<strong>no</strong>gráfico de Berlim o que abriga omais importante acervo sobre a cultura material<strong>do</strong>s povos indígenas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> séculoXIX, <strong>no</strong>tadamente os <strong>do</strong> Xingu.Em outro estu<strong>do</strong> (Porto Alegre 1989)enfocamos as ações nacionalistas <strong>do</strong>s intelectuaisbrasileiros de mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séculoXIX, que se voltam para regiões longínquas<strong>do</strong> país, organizan<strong>do</strong> internamente expediçõessemelhantes às europeias, na pretensãode produzir uma "fala" científica nacional,assumir o lugar <strong>do</strong> "outro" e rompero auto-silenciamento imposto pelo discurso<strong>do</strong>minante <strong>do</strong> "velho" sobre o "<strong>no</strong>vo" mun<strong>do</strong>.Como os processos de construção deidentidade nunca são desinteressa<strong>do</strong>s, essemovimento acaba por assumir uma forteco<strong>no</strong>tação política, onde o interesse peloconhecimento <strong>do</strong> índio e <strong>do</strong> "povo" encobreum antigo projeto das classes <strong>do</strong>minantese <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, de controlar a força de trabalho,projeto esse que se oculta sob omanto da incorporação desses elementosà sociedade nacional.O tema <strong>do</strong> "outro", presente na questãoda identidade nacional é também o núcleoda visão <strong>do</strong> coloniza<strong>do</strong>r, nas viagensexploratórias. Tao antigo quanto a descobertada América, a descoberta <strong>do</strong> "outro"chega até nós, inicialmente, pela voz <strong>do</strong>scronistas <strong>do</strong>s séculos XVI e XVII, espanta<strong>do</strong>sdiante da natureza e <strong>do</strong>s habitantesda terra. No século XVIII são engenheiros,cartógrafos e os primeiros naturalistas quesurgem, nas trilhas <strong>do</strong> iluminismo, escreven<strong>do</strong>memórias onde procuram inventariaras riquezas económicas <strong>do</strong> país. Masé com a passagem da corte portuguesa parao Rio de Janeiro, <strong>no</strong> começo <strong>do</strong> séculoXIX, que o movimento de viajantes estrangeirostorna-se mais intenso e as expediçõesse multiplicam, cruzan<strong>do</strong> o país deponta a ponta, pelo litoral e pelos sertões,acolhidas e estimuladas pelo primeiro e segun<strong>do</strong>impérios.Enquanto processo discursivo, essedesfile de relatos se apresenta como um"lugar de significação, de confrontos desenti<strong>do</strong>s, de estabelecimento de identidades,de argumentação, etc" (Orlandi 1990),onde podemos perceber a prática de umaviolência simbólica, <strong>no</strong> confronto de relaçõesde força que acompanham o que seconta e o que não se conta, ao longo dahistória com a qual <strong>no</strong>s identificamos enquantobrasileiros. Como bem coloca EniOrlandi, trazen<strong>do</strong> mais uma reflexão ao re-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!