10.07.2015 Views

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Arte indígena:referentes sociais e cosmológicosLúcia Hussak uanVelthemA Natureza é um templo onde vivos pilaresDeixam filtrar não raro insólitos enre<strong>do</strong>s;O homem os cruza em meio a um bosquede segre<strong>do</strong>sQue ali o espreitam com seus olhos familiares.Como ecos longos que à distância sematizamNuma vertigi<strong>no</strong>sa e lúgubre unidade,Tao vasta quanto a <strong>no</strong>ite e a claridade,Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam.Há aromas frescos como a carne <strong>do</strong>s infantes,Doces como o oboé, verdes como acampina,E os outros, já dissolutos, ricos e triunfantes,Com a fluidez daquilo que jamais termina,Como o almíscar, o incenso e as resinas<strong>do</strong> OrienteQue a glória exaltam <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s e damente.(Baudelaire, As Flores <strong>do</strong> Mal)Neste soneto, o poeta francês proporia,segun<strong>do</strong> Schiwmmer (1989:8), o equivalentea um discurso antropológico sobrearte. A primeira quadra introduziria aos"sig<strong>no</strong>s convencionais" retira<strong>do</strong>s da natureza,mas que integram a cultura, um mun<strong>do</strong>familiar onde o homem evolui. Na segunda,Baudelaire ultrapassaria estemun<strong>do</strong> de aparências porque procurariauma unidade mais profunda na qual ossenti<strong>do</strong>s (cores, perfumes, sons) se comunicariam.No detalhamento das fragrâncias,compreendemos, enfim, que o poeta acreditanas "correspondências" <strong>do</strong>s sistemassimbólicos, o "bosque <strong>do</strong>s segre<strong>do</strong>s", quesugerem a sua compreensão sobre estéticae arte: a "exaltação <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s e damente"...Sobre a definição de arte se debruçaramnão apenas poetas, mas também filósofos,sociólogos, artistas, historia<strong>do</strong>res, antropólogos,visto que a compreensão desua natureza representa um <strong>do</strong>s problemasmais tradicionais da cultura humana.A estética filosófica enfatiza que a arterepresenta uma função universal, essencialao género huma<strong>no</strong>. Essa opinião é compartilhadapor diversos antropólogos aosustentarem que a "arte é um fenóme<strong>no</strong>universal que afeta todas as pessoas, todasas sociedades e todas as culturas" (Alcina1982:15). Entretanto, como a arte é, narealidade, muito mais um conceito <strong>do</strong> queum fenóme<strong>no</strong>, ela não é homogeneamentecompreendida pelas diferentes culturas.A arte que é encarada como repositóriode sensações estéticas desligadas <strong>do</strong>contexto, a utopia da "arte pela arte" representaum item da taxo<strong>no</strong>mia intelectual<strong>do</strong> ocidente e assim corresponde a umacriação cultural e de classe, historicamentedeterminada, que se submete a modificaçõesa partir das avaliações da sociedadeque as engendra (Cf. Lauer, 1983).Entretanto, nas sociedades indígenas, a artenão é compreendida sob uma perspectivacompletamente intraestética, pois pertenceao mesmo contexto de outras expressões<strong>do</strong>s objetivos huma<strong>no</strong>s (Cf. Geertz,1986). Como evocaram Baudelaire e tambémLevi-Strauss, o objeto estético é inteligíveljustamente pelas correspondências,pelas analogias entre seus diferentes<strong>do</strong>mínios 1 .O estu<strong>do</strong> antropológico da arte indígenabusca o significa<strong>do</strong> e a significânciadesta para os membros da sociedade estudada,uma vez que o objeto artístico nãopossui significa<strong>do</strong> se fraciona<strong>do</strong>, mas apenascomo totalidade, como enfatizou Mukarovskyna década de 30 (Cf. Schwimmer,1986). O discurso antropológico sobrearte não é portanto somente técnico, masestá orienta<strong>do</strong> para se situar <strong>no</strong> contexto

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!