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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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económicos, programas escolares, etc...Voltarei a esta transfiguração, adiante.Até quan<strong>do</strong> e até onde se exerce a proteçãoespecial ? Se olharmos através desteprisma, torna-se evidente que a emancipaçãoda condição de isola<strong>do</strong>s não édefinida pelo grupo, mas pela política indigenistaoficial, que num certo momentodeixa de exercer tal proteção, a que só uma<strong>no</strong>va leva de povos em transição têm direito.Inversamente, se olharmos para o início<strong>do</strong> processo, veremos que muitos gruposconsidera<strong>do</strong>s isola<strong>do</strong>s mantêm, delonga data, relações com segmentos da sociedadenacional e só estão incluí<strong>do</strong>s nacategoria de isola<strong>do</strong>s por serem considera<strong>do</strong>sameaça<strong>do</strong>s ou frágeis, ainda queprovisoriamente. Vista desta perspectiva,a construção desta categoria continua fundamentalmentedelineada pela relação de<strong>do</strong>minação que <strong>no</strong>ssa sociedade impõe àssociedades indígenas. A condição de isola<strong>do</strong>resulta de uma classificação operada,em via única, pela sociedade nacional 1 .Em perío<strong>do</strong>s anteriores, a fase de proteçãoespecial era curta, senão ausente.Partia-se imediatamente para intervençõesvisan<strong>do</strong> a sedentarização e a integração <strong>do</strong>síndios ao <strong>Brasil</strong> produtivo. Hoje, a práticade uma fase de transição se mantém 2 ,mesmo que os critérios considera<strong>do</strong>s paramudar a relação sejam mais abrangentes.Como se procura abolir, <strong>no</strong> atual discursoindigenista, a sequência de etapasque levam <strong>do</strong> índio tribal ao integra<strong>do</strong> (delimitadas<strong>no</strong> tempo da colónia e detalhadaspelo SPI), os critérios que definem acondição de isola<strong>do</strong> em oposição à de grupoem contato são hoje particularmenteconfusos. Mas a ideia de passagem de umestágio para o outro constitui uma balizafundamental, a partir da qual se constrói.em cada época e até agora, o conceito deisola<strong>do</strong>. Fora desta trajetória não haveriaisola<strong>do</strong>s, nem justificativas para uma políticade proteção.Antes de discutir, à luz de alguns exemplos,a ambiguidade das delimitações quecercam os grupos indígenas em seu caminhopara o convívio interétnico, é necessáriauma rápida revisão <strong>do</strong> conceito deisolamento.O isolamento enquanto opçãoPraticamente to<strong>do</strong>s os grupos indígenasque vivem hoje independentes da relaçãode <strong>do</strong>minação que <strong>no</strong>ssa sociedadelhes reserva, não apenas mantêm, mas reconstroemcontinuamente sua posição deisolamento. Posição esta que, quase sempre,resulta de experiências anteriores decontato, direto ou indireto: a atitude arrediaé reativa ao contato. Essas situações devem,por conseguinte, ser analisadas à luzde múltiplos fatores - inter<strong>no</strong>s e exter<strong>no</strong>s- que podem explicar a opção pelo isolamento:a história própria <strong>do</strong> grupo e desuas relações com outros povos indígenas,a história das frentes de ocupação e os condicionantesgeográficos que. de mo<strong>do</strong> articula<strong>do</strong>ou não, garantiram a continuidadedesta situação.E difícil sustentar, em termos et<strong>no</strong>--históricos ou et<strong>no</strong>lógicos, que os índiosisola<strong>do</strong>s "se mantiveram isola<strong>do</strong>s da sociedadenacional desde a época <strong>do</strong> descobrimentoaté os <strong>no</strong>ssos dias" e que representamas "últimas sociedades humanas queficaram à margem de todas as transformaçõesocorridas na face da terra". Este argumentosó se justifica em termos políticos,pela necessidade de uma intervençãoprotecionista sobre a sua condição de"marginaliza<strong>do</strong>s da sociedade, inclusive daassistência governamental" 3 .A ambiguidade <strong>do</strong>s preconceitos associa<strong>do</strong>sà situação de isolamento e sua perenidade<strong>no</strong> discurso protecionista - oficialou não - merece alguns comentários. Se"a ideia de isolamento deve ser usada comcautela em qualquer hipótese" (Carneiroda Cunha, 1992) sua relativização pode serabordada de vários ângulos, que dizem respeitoa diferentes níveis de isolamento: histórico.cultural e sócio-político.O isolamento enquanto dinâmicahistórica e culturalOs relatos de índios recém-contacta<strong>do</strong>ssobre mortes decorrentes de <strong>do</strong>enças epidémicas,antes desconhecidas, assim comosuas estratégias para obter utensílios,que os levam, efetivamente, a se aproximar<strong>do</strong>s brancos, confirmam quanto é fa-

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