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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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nância com suas expectativas. O planejamentode informações a serem repassadasaos grupos recém-contacta<strong>do</strong>s exige formasdidáticas específicas à cada situação,antecipan<strong>do</strong> e reven<strong>do</strong> os programas maisgenéricos que são implanta<strong>do</strong>s em fasesposteriores. E importante ressaltar, entretanto,que a seleção e adaptação de taisinformações só pode ser realizada plenamentepelo próprio grupo indígena, queas utilizará de acor<strong>do</strong> com suas necessidades,que evoluem em função das alteraçõesda situação de contato. Aos agentesde contato, cabe apenas promover estaabertura 20 .Esta forma de atuação implica, aparentemente,numa imersão <strong>no</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>sbrancos, na medida em que promove aadaptação e a instrumentalização <strong>do</strong>s índioscom técnicas e saberes <strong>no</strong>vos. Em funçãodisto, tal orientação confronta-se habitualmentecom o ideário preservacionista,cujos critérios de "respeito" à cultura questionamosacima. Assim, os programas deeducação que o senso-comum considera"adapta<strong>do</strong>s" são <strong>no</strong>rmalmente os que enfatizamo uso exclusivo da língua materna,considerada a única capaz de preservara cultura indígena. Na área de saúde,programas preservacionistas preconizam ouso de plantas medicinais ou a integração<strong>do</strong>s pajés nas curas. As comunidades indígenas,quanto a elas, reivindicam melhoriasna qualidade <strong>do</strong>s serviços de saúde ede ensi<strong>no</strong>. Os índios não esperam <strong>do</strong>sbrancos que lhes reensinem suas tradições,mas querem <strong>do</strong>minar o português, a matemáticae outras técnicas habitualmentemo<strong>no</strong>polizadas pelos brancos. Não se iludemcom as concessões feitas a seus saberestradicionais quan<strong>do</strong> são relega<strong>do</strong>s àcondição de enfeites culturais e quan<strong>do</strong> seacompanham de evidente ineficácia <strong>no</strong>combate às epidemias.Para sair <strong>do</strong> isolamento, é necessáriocriar condições para que o grupo recém--contacta<strong>do</strong> possa refletir e reelaborar osparâmetros de sua própria identidade. Ouseja, permitir ao grupo construir, atravésde arranjos conceituais e organizacionaispróprios à sua cultura, formas de relacionamentocom diversos segmentos da sociedadenacional, através <strong>do</strong> qual ele nãosó poderá resguardar, mas reforçar uma estratégiade convívio que garanta a preservação- por ele controlada - de sua diferençaétnica e cultural.A antropologia <strong>do</strong>s movimentos étnicosevidenciou que a forma mais eficientede fortalecer a auto<strong>no</strong>mia de um grupo épermitir que se reconheça - demarcan<strong>do</strong>--se <strong>do</strong>s outros - numa identidade coletiva.Fortalecimento este que consiste num processodinâmico, num trabalho de adaptaçãoconstante, que não é nem contagiosonem hereditário. Razão pela qual constata--se em várias partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que a identidadecultural não desaparece ao contatocom mo<strong>do</strong>s de ser e pensar diferencia<strong>do</strong>s.Ao contrário. A identidade morre <strong>no</strong>s espaçosfecha<strong>do</strong>s, que limitam a reflexãocomparativa, que não propiciam a praxiscontrastiva, ou que refletem apenas um espelhamentocom agentes transfigura<strong>do</strong>sem protetores de uma cultura dita tradicional,idealizada e imobilizada <strong>no</strong> tempo. Acultura - que não é feita apenas de tradições- só se mantém enquanto movimento,deven<strong>do</strong> ser constantemente reconfirmada.Notas1. Como mostra Souza Lima, esta categoria relacional é construída a partir de três criférios básicos,de distância social, forma de integração com o civiliza<strong>do</strong>e relação com o espaço, opera<strong>do</strong>s na perspectivada sociedade nacional. Nesta perspectiva,a categoria de isola<strong>do</strong> pode assim ser aproximadaconceitulmente <strong>do</strong> contraste histórico entre manso(ou <strong>do</strong>mestica<strong>do</strong>) e bravio (ou hostil) (1992: 83-85).2. cfr. Programa Artíndia, que se propõe instrumentalizaresta mediação (grifos <strong>no</strong>ssos): "Os trabalhosde atração de grupos indígenas arredios e isola<strong>do</strong>sencontram na "troca de objetos" o recurso que formalizao contato pacifico entre índios e membros de<strong>no</strong>ssa sociedade. Há mais de 20 a<strong>no</strong>s, as equipesde atração da Funai encaminhavam ao Museu <strong>do</strong>índio os artesanatos ofereci<strong>do</strong>s pelos indígenas. Doacúmulo de peças que ali chegavam surgiu a id£iade criar um mecanismo que servisse, ao mesmotempo, para promover, resgatar, fortalecer, divulgaras manifestações artísticas das sociedades indígenasbrasileiras e garantir-lhes alternativa de renda" (FolhetoArtíndia / Funai, s/d).3. cfr. Documento CH/Funai, 09/89.

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