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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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vos. Dois autores compartilham desta ideia:Rui Coelho (1989:91), em um artigo dedica<strong>do</strong>a temas liga<strong>do</strong>s à cognição e aosprocessos culturais, deixa <strong>no</strong> ar a pergunta:"Teria Lineu o privilégio de ter atingi<strong>do</strong>a coisa em si?". Na mesma direção, lembroa colocação de Patrick Menget: "é sóler os naturalistas viajantes <strong>do</strong> século XVIIIao <strong>Brasil</strong> para se perceber que grande partede suas observações sobre a avifauna provémde forma direta e explícita, <strong>do</strong> saberindígena cujas pesquisas posteriores <strong>do</strong>s ornitólogosvieram confirmar".Através de uma observação feita pelopróprio Lineu, ao se referir aos índios Guarani,encontramos mais uma vez a comprovaçãodeste pensamento: "primus verussystematicus" (apud Stoni, 1944:11), dan<strong>do</strong>assim o devi<strong>do</strong> crédito à contribuiçãointelectual deste povo.Neste artigo não cabe apresentar todasas categorias (hierárquicas e inclusivas) daclassificação taxonômica indígena das aves.O importante é ressaltar a sua existência,mostran<strong>do</strong> que de fato existe uma lógicacomum <strong>no</strong> pensamento huma<strong>no</strong>. A capacidadede classificar ou de pensar taxo<strong>no</strong>micamenteé algo compartilha<strong>do</strong> pelosXikrin e outras sociedades indígenas e pelosmembros de <strong>no</strong>ssa sociedade. É, naverdade, algo muito mais geral, cuja universalidadeé apontada por Hanson (1973:6): "O fato supremo da diversidade animale vegetal é que a sua variedade é descrita,de mo<strong>do</strong> muito significativo, em termosde grupos descontínuos chama<strong>do</strong>s de espécies.A universalidade desta observaçãoé tão largamente aceita que ela parece umlugar-comum".Como exemplos citaremos aqui apenasduas categorias entre as onze existentes,entre os Xikrin.O termo àk, como vimos anteriormente,define a categoria inicial das aves e correspondediretamente à ordem científicaFalconiformes. Este fato pode ser explica<strong>do</strong>através <strong>do</strong> mito da origem das aves:"Kukrut kako e Kukrut uire e a morte <strong>do</strong>gavião-real". Para uma melhor compreensão<strong>do</strong> leitor, reproduziremos aqui o mitointegralmente."Kukrut-uire e Kukrut-kako eram <strong>do</strong>ismeni<strong>no</strong>s. O avô estava fazen<strong>do</strong> flechas. Aavó chamou os meni<strong>no</strong>s para ir tirar palmito.Os <strong>do</strong>is meni<strong>no</strong>s foram com ela. Aavó estava cortan<strong>do</strong> palmito debaixo <strong>do</strong>ninho <strong>do</strong> gavião grande. O gavião já vinhatrazen<strong>do</strong> um homem que tinha pego quan<strong>do</strong>estava caçan<strong>do</strong>. Aio gavião desceu parapegá-la. Os meni<strong>no</strong>s estavam brincan<strong>do</strong><strong>no</strong> capim. O gavião desceu, pegou aavó, subiu e botou <strong>no</strong> ninho. Os meni<strong>no</strong>scorreram avisar o avô. O avô disse: " Euvou matar o gavião". Não matou, só foiolhar. O gavião estava comen<strong>do</strong> a avó.Ele foi procurar um poção grande e colocouos <strong>do</strong>is meni<strong>no</strong>s na água. Levou batata<strong>do</strong>ce, inhame, banana, para eles comerem.Comeram até ficar grandes.Depois de um tempo, o avô foi ver ondeestava o pé <strong>do</strong>s meni<strong>no</strong>s. Os pés estavamsain<strong>do</strong> <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> lago. Peixes andavampor cima deles, cobra, poraquê. jacaré.To<strong>do</strong> bicho andava por cima e elesnão se mexiam. O avô quan<strong>do</strong> viu que osmeni<strong>no</strong>s estavam grandes foi fazer borduna,lança e buzina pequena de taboca.Aí to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> foi, de manhã ce<strong>do</strong>, levarurucum, forrar o chão. Os <strong>do</strong>is meni<strong>no</strong>sse levantaram e foram para o centroda aldeia. O avô foi construir um abrigode palha para pegar o gavião. Os meni<strong>no</strong>sentraram <strong>no</strong> abrigo e esperaram. Um delessaiu e chamou o gavião: bxchfbxch!Quan<strong>do</strong> o gavião vinha descen<strong>do</strong>, ele entrou<strong>no</strong> abrigo. O gavião desceu e bateu<strong>no</strong> chão, procuran<strong>do</strong> aonde é que tinhagente, depois subiu de <strong>no</strong>vo e quan<strong>do</strong> estavalá em cima ele chamou de <strong>no</strong>vo.O gavião desceu, Kukrut-uire saiu echamou de cima, isto várias vezes.Quan<strong>do</strong> o gavião cansou, botou a línguade fora e ficou com as asas abertas,os <strong>do</strong>is gigantes o mataram. Cortaram ogavião miú<strong>do</strong>. Tiraram uma pena e saiu umgavião, uma outra saiu um urubu, outrauma arara, das penas pequenas saiu ospássaros. Puseram as penas na cabeça comoenfeite e ficaram cantan<strong>do</strong>".No tempo das origens só existia umaespécie de ave, o gavião gigante. O mitoconta como os heróis mitológicos criaram,a partir deste gavião, a diversidade <strong>no</strong> mun<strong>do</strong>das aves. Por outro la<strong>do</strong>, ao criarem asaves, eles criam também os artefatos plumáriosconsidera<strong>do</strong>s verdadeiras riquezas

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