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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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Amazónia, Amazónia:não os aban<strong>do</strong>neis.Gerôncio Albuquerque RochaIJá são quinhentos a<strong>no</strong>s, Amazónia, evocê parece não se dar conta <strong>do</strong> que estáse passan<strong>do</strong>. Os que aqui, antes de nós,sempre viveram, têm a memória <strong>do</strong> tempoe da história; sabem que o cerco estáse fechan<strong>do</strong> e, insistentemente, mandamavisos desespera<strong>do</strong>s. Se não os defenderdes,não haverá perdão. Está escrito: - "oque ocorrer com a terra, recairá sobre osfilhos da terra". Cinco séculos não são dias.No princípio, os invasores os saqueavam,em busca <strong>do</strong> ouro e da prata; depois, osdestruíam, forçan<strong>do</strong>-os ao trabalho escravo<strong>no</strong>s aluviões e nas minas. Foi assim emSão Domingos, Porto Rico e Cuba; depois<strong>no</strong> Chile e Potosi, Bolívia; e <strong>no</strong> México.Quase não havia quem os defendesse, masalgumas vozes clamavam de indignação:- "não é a prata o que se envia à Espanha,é o suor e o sangue <strong>do</strong>s índios". Hoje, osque restaram mantiveram-se abriga<strong>do</strong>s sobrevosso chão, na proteção <strong>do</strong>s deuses.Tu<strong>do</strong> o que sois, a eles o deveis. Quan<strong>do</strong>vos agridem, eles são os primeiros a sentiro golpe; quan<strong>do</strong> vos enaltecem, eles desconfiam;e quan<strong>do</strong> se apiedam de vossaexuberância mendiga, eles ficam indigna<strong>do</strong>s.Afinal, quem vos protege, Amazónia?- Não os aban<strong>do</strong>neis.IINo inicio <strong>do</strong> século, o paraense Inglêsde Souza, trabalhan<strong>do</strong> sobre o lendário daregião, escreveu o primoroso conto "O Baile<strong>do</strong> Judeu". Um dia o homem resolve daruma festa em sua casa, à beira <strong>do</strong> rio Amazonas.O centro da atenções era a sua belamulher e "a faceirice com que sorria ato<strong>do</strong>s, parecen<strong>do</strong> não conhecer maior prazer<strong>do</strong> que ser agradável a quem lhe falava".No auge da festa, entra <strong>no</strong> salão umindivíduo esquisito, de chapéu desaba<strong>do</strong>cobrin<strong>do</strong> o rosto, e tira a dama para dançar,em meio ao espanto de to<strong>do</strong>s. E umadança vertigi<strong>no</strong>sa, de nunca acabar; e,quan<strong>do</strong> a orquestra pára de cansaço, elea arrasta pela porta fora e com ela se atiranas águas. Era um boto.Hoje em dia, já não há lugar para alenda. Mesmo assim, não custa imaginarque aquela mulher bonita é a própria Amazónia.E há um boto. Que não deixa vero rosto e confunde a to<strong>do</strong>s numa dançafrenética e sem fim.Márcio Souza (1990), outro escritor nativo,passa a limpo o processo histórico daAmazónia e mostra como a região semprese manteve isolada e à margem <strong>do</strong> contraditórioprocesso de desenvolvimento <strong>do</strong>país. Dependente <strong>do</strong> sistema extrativista,vegetou <strong>no</strong> aban<strong>do</strong><strong>no</strong> e na miséria por longasdécadas, desde que o merca<strong>do</strong> mundialencontrou outras fontes de suprimentoda borracha. Com o inicio da revoluçãoburguesa, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 30, viu-se excluída <strong>do</strong>cenário nacional porque os esforços de industrializaçãose concentraram <strong>no</strong> Sudestee a estrutura de poder da região (a "cultivadaig<strong>no</strong>rância de sua elite") não tinhaa mínima influência. Nos últimos vintea<strong>no</strong>s, e de <strong>no</strong>vo sem voz e sem vez, foi escancaradaà exploração internacional <strong>do</strong>capital, num projeto económico inicia<strong>do</strong> naDitadura.Agora, por ocasião da ECO-92, <strong>no</strong> Riode Janeiro, a Amazónia torna-se o centrodas atenções. To<strong>do</strong>s apregoam um modelode desenvolvimento auto-sustenta<strong>do</strong> (otermo mais adequa<strong>do</strong> é motivo de controvérsia...).Os gover<strong>no</strong>s <strong>do</strong>s países centraisacenam com recursos para projetos exemplares,mas não abrem mão de territóriospara onde possam exportar suas tec<strong>no</strong>logiassujas e ainda obter lucro.O resulta<strong>do</strong> da voracidade capitalistasobre a Amazónia é bem conheci<strong>do</strong>. A exploraçãode minérios constitui mera transferênciade matéria-prima, sem nenhuma

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