10.07.2015 Views

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

"Xeto, marromba, xeto!" -a representação <strong>do</strong> índio nasreligiões afro-brasileiras 1Ornar Ribeiro ThomazIntrodução"O caboclo verdadeiro é só o índio.Porque na realidade o caboclo mesmo éaquele que veste penas."(Definição de um adepto <strong>do</strong> can<strong>do</strong>mblébaia<strong>no</strong>, apud Santos, 1992: 60)As populações indígenas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> têmsi<strong>do</strong> objeto de inúmeras representações porparte da sociedade envolvente. Da apropriaçãoideológica feita pelos órgãos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>aos meios de comunicação de massa,passan<strong>do</strong> pelo mun<strong>do</strong> das artes e daliteratura, diferentes representações se sobrepõemindican<strong>do</strong> a importância da figura<strong>do</strong> índio <strong>no</strong> imaginário nacional. Entenden<strong>do</strong>por imaginário uma dimensão queinstitui e reproduz as relações entre os grupossociais (Castoriadis, 1975), acreditoque a compreensão <strong>do</strong> "lugar <strong>do</strong> índio"neste imaginário nacional <strong>no</strong>s aproxima <strong>do</strong>complexo diálogo desenvolvi<strong>do</strong> entre associedades indígenas e a sociedade nacional.A sociedade brasileira, como sabemos,está longe de compor um to<strong>do</strong> uniforme.De um la<strong>do</strong> encontramos o índio <strong>do</strong>s movimentosliterários e artísticos da elite nacional,o índio <strong>do</strong> cinema e <strong>do</strong>s meios decomunicação de massa; de outro, e profundamenterelaciona<strong>do</strong> com o primeiro,porém não a sua imagem, o índio da culturapopular. Este último povoa as escolasde samba e os bailes de carnaval, os folgue<strong>do</strong>spopulares, os contos e a literaturade cordel, e também o universo mítico ereligioso das^ de<strong>no</strong>minadas religiões afro--brasileiras. É sobre este índio que "baixa"<strong>no</strong>s toques, sessões e festas de caboclo quetrata este artigo.A imagem <strong>do</strong> índio: da literatura indianistaaos cultos afro-brasileirosDiferentes movimentos literários e artísticosreivindicaram a figura <strong>do</strong> índio. Oprematuro nativismo brasileiro na literaturavê <strong>no</strong> índio um símbolo nacional. Estamesma simbologia alcança o seu esplen<strong>do</strong>rcom o indianismo romântico de GonçalvesDias e, sobretu<strong>do</strong>, José de Alencar.Como afirma António Cândi<strong>do</strong> (1981),Alencar fixa um <strong>do</strong>s mais caros modelosda sensibilidade brasileira, o <strong>do</strong> índio ideal,heróis de uma mitologia nacional a serconstruída. O índio de Alencar, ou estánum passa<strong>do</strong> remoto anterior à chegada<strong>do</strong>s portugueses (Ubirajara). ou surge comoa marca da <strong>no</strong>ssa suprema diferença<strong>no</strong> encontro entre portugueses e índios (OGuarani e Iracema). E o índio <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>,de um passa<strong>do</strong> imaginário, de uma históriaa ser escrita. O impacto desta imagem,é senti<strong>do</strong> até os dias atuais: o índiocomo símbolo da nacionalidade brasileira.Se por um la<strong>do</strong> <strong>no</strong> culto aos caboclostemos a incorporação, <strong>no</strong> universo míticoe religioso afro-brasileiro, deste "índio herói"- tão caro às elites nacionais - por outronão podemos interpretar o caboclo comomera reprodução de um índioproduzi<strong>do</strong> pelas classes hegemónicas. Asimples transformação de um símbolo nacionalem objeto de culto religioso indicauma reinterpretação.Nos caboclos <strong>do</strong>s terreiros de can<strong>do</strong>mbléangola 2 e de can<strong>do</strong>mblé de caboclo,Edison Carneiro encontrará uma "leve tintura"<strong>do</strong> índio romântico de Alencar: "(...)o indígena oficial, valente, ágil, esperto,profun<strong>do</strong> conhece<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s segre<strong>do</strong>s dasplantas e em contato com as forças da natureza."Para E. Carneiro, porém, "(...) estesencanta<strong>do</strong>s 3 são simples reproduçõesde orixás nagôs", que <strong>no</strong>s can<strong>do</strong>mblés decaboclo de<strong>no</strong>tam fortes influências - espíritase, raramente, uma "real" influência indígena(1986: 75).Nos estu<strong>do</strong>s sobre umbanda (Ortiz,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!