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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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Yawalapiti toca umclarinete durante um<strong>do</strong>s muitos rituaisrealiza<strong>do</strong>s <strong>no</strong> ParqueIndígena <strong>do</strong> Xingu.Foto Fred Ribeiro.na II Conferência da Nações Unidas sobreMeio Ambiente e Desenvolvimento, em junhode 1992, <strong>no</strong> Rio de Janeiro.Como vamos cumprir essa convenção?O caminho mais simples parece ser exatamentedemarcan<strong>do</strong> as reservas indígenas.Mas isso exigirá decisão política e apoio dasociedade. Das 511 áreas indígenas reconhecidaspela FUNAI, 130 (26% <strong>do</strong> total)não têm sequer estu<strong>do</strong>s para delimitação;117 (23%) estão delimitadas mas não demarcadas;64 (13%) foram demarcadasmas aguardam homologação. Apenas 190(38% <strong>do</strong> total) já estão homologadas, massob ameaça <strong>do</strong>s que querem fazer uma"revisão". Pior ainda, o orçamento propostopara a FUNAI em 1993 (quan<strong>do</strong> termina,em outubro, o prazo da<strong>do</strong> pela Constituiçãode 1988 para concluir asdemarcações) reserva para as demarcaçõesme<strong>no</strong>s de 1% <strong>do</strong>s 110 milhões de dólaresque esse órgão precisa para o trabalho.Se não <strong>no</strong>s apressarmos, vamos correrriscos inaceitáveis. Porque é exatamente<strong>no</strong>s grupos indígenas que se concentra omaior conhecimento, o maior volume deinformações sobre essa biodiversidade. Umconhecimento não escrito, que se perdecom a aculturação e com a morte <strong>do</strong>s maisvelhos ("cada vez que morre um velho numatribo africana, é como se se incendiasseuma biblioteca, escreveu a<strong>no</strong>s atrás umdiplomata da ONU; a frase vale para o<strong>Brasil</strong>").Alguns meses atrás, uma organizaçãonão-governamental calculou em 40 bilhõesde dólares anuais o valor comercial de produtos(alimentos e medicamentos) cujo conhecimentopertenceu a índios. Mas elesnão receberam um centavo por isso.E não apenas eles. Cientistas brasileirosque têm descoberto <strong>no</strong>vos medicamentos,alimentos e materiais na <strong>no</strong>ssa biodiversidadetêm-se visto obriga<strong>do</strong>s adesenvolvê-los em laboratórios em outrospaíses, por falta de recursos científicos aqui.Cada uma dessas descobertas significa dezenasde milhões de dólares por a<strong>no</strong>, comoé o caso das utilizações da reserpina,da policarpina, <strong>do</strong> vene<strong>no</strong> da jararaca (paracontrolar os mecanismos da hipertensãoarterial humana).A convenção de proteção da biodiversidade.ao estabelecer que os países detentoresdessa biodiversidade têm direito departicipar <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s comerciais e científicosda descoberta, quebraram regras seculares,impostas inicialmente pela forçadas armas e depois pelo dinheiro. Mas essaé uma conquista ameaçada por muitosângulos - e principalmente pelas ameaçasque pesam sobre os grupos indígenas.Como a <strong>no</strong>ssa sociedade tem imensadificuldade em reconhecer qualquer coisaque não leve a chancela da ciência, talvezvalha a pena lembrar as páginas iniciais deO Pensamento Selvagem, de Lévi--Strauss. O mestre francês menciona narrativasde numerosos viajantes e naturalistasque conviveram com os ditos primitivose mostra a extensão <strong>do</strong> seu conhecimentosobre a flora, a fauna, o mun<strong>do</strong> que oscercava. Conhecimento científico, dizLévi-Strauss: "O homem <strong>do</strong> neolítico ouda proto-história foi, portanto, o herdeirode uma longa tradição científica".

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