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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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"Botocu<strong>do</strong> e seuprisioneiro Pataxó" -Maximiliam Wied--Neuwid, aquarela ebico-de-pena.Biblioteca <strong>Brasil</strong>ianaRobert Bosch. Foto:António Rodrigues.e Mulheres." Não foi mera paranóia o receio<strong>do</strong> chefe <strong>do</strong>s Jurunas: afinal de contas,seu povo não era estranho aos objetivos<strong>do</strong>s brancos. Além das relações comos índios da Serra da Ibiapaba, havia entreeles alguns escravos africa<strong>no</strong>s fugi<strong>do</strong>s,que certamente reforçavam a estratégia derefúgio como alternativa ao confronto e àsubmissão. Contu<strong>do</strong>, apesar das intenções<strong>do</strong> capitão João Velho <strong>do</strong> Valle seremamistosas, a profecia acabou por se completarpoucos a<strong>no</strong>s depois, quan<strong>do</strong> estesJuruna foram escraviza<strong>do</strong>s e dizima<strong>do</strong>s pelatropa <strong>do</strong> Sargento Mór Domingos MatosLeitão e Silva. 12Semelhante desti<strong>no</strong> tiveram os chama<strong>do</strong>sCaicaizes, fiéis auxiliares <strong>do</strong> Capitão<strong>do</strong> Valle, mostran<strong>do</strong> como, em curto tempo,um grupo podia passar de alia<strong>do</strong> a inimigo.Junto com os Juruna, os Caicaizestambém tornaram-se objetos de uma guerramovida pelo sargento-mor Leitão e Silvana década de 1690. No processo de devassacontra eles, contrarian<strong>do</strong> a imagemfavorável esboçada <strong>no</strong> relato <strong>do</strong> Valle, agoraeram descritos como "gentio <strong>do</strong> corso",merece<strong>do</strong>res <strong>do</strong> castigo <strong>do</strong> cativeiro. Examina<strong>do</strong>o caso, o Conselho Ultramari<strong>no</strong>determi<strong>no</strong>u que não se tratava de GuerraJusta, e que os índios haviam de ser postosem liberdade e desloca<strong>do</strong>s para a Ilha<strong>do</strong> Marajó. Porém, a resolução veio tardedemais: com a conivência das autoridadeslocais, os índios foram vendi<strong>do</strong>s aos colo<strong>no</strong>s,submeti<strong>do</strong>s a trabalhos força<strong>do</strong>s e, porfim, vitima<strong>do</strong>s pela terrível epidemia de varíolade 1695. 13Além <strong>do</strong> recuo ou <strong>do</strong> confronto direto<strong>no</strong> sertão, os índios escravos e forros,uma vez transferi<strong>do</strong>s de seus locais de origem,também desenvolveram estratégiaspróprias para enfrentarem a <strong>do</strong>minaçãoportuguesa. O processo de adaptação ao<strong>no</strong>vo regime certamente não era fácil. Deacor<strong>do</strong> com o padre João de Sousa Ferreira,"os índios <strong>no</strong>vamente desci<strong>do</strong>s pareciarazão se não entendesse os primeiros<strong>do</strong>is ou três a<strong>no</strong>s." 14 Soma<strong>do</strong> àdificuldade de adaptação era o descaso <strong>do</strong>ssenhores com seus índios, submeten<strong>do</strong>-osa um duro regime de trabalho e a igualmenteseveros castigos. Mesmo <strong>no</strong> contextorude <strong>do</strong> Maranhão colonial, o tratamento<strong>do</strong>s índios era assunto <strong>no</strong>tório duranteo século XVII. Já em 1648, o Prove<strong>do</strong>r daFazenda <strong>do</strong> Maranhão escrevia ao ConselhoUltramari<strong>no</strong> denuncian<strong>do</strong> a exploraçãode forros nas lavouras de tabaco, em prejuízoa suas próprias plantações <strong>no</strong>s aldeamentos.Na ocasião, o Prove<strong>do</strong>r pedia providências<strong>no</strong> senti<strong>do</strong> de liberar os mesmosíndios <strong>no</strong>s meses de dezembro, janeiro,maio e junho, assim permitin<strong>do</strong> que trabalhassempara seu sustento, pedi<strong>do</strong> quefoi atendi<strong>do</strong> por um Alvará <strong>do</strong> João IV. uOs frequentes surtos de <strong>do</strong>enças contagiosas prejudicavam mais ainda o bemestar<strong>do</strong> índio colonial. Criava-se o ciclo viciosocomum a toda a América Portuguesaao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial: a alta mortalidadesuscitava repetidas investidas aosertão em busca de <strong>no</strong>vos cativos que, semqualquer resistência biológica, agravavamas mesmas crises epidemiológicas. A medidaem que os colo<strong>no</strong>s podiam repor seusestoques de escravos com facilidade através<strong>do</strong> sertanismo, existia pouco estímulo— além da voz estridente de alguns jesuítase as inconstantes manifestações da coroa— para modificar o esquema de exploraçãoatravés de melhorias nascondições de trabalho. Em 1673, o padreBetten<strong>do</strong>rf resumia a condição <strong>do</strong>s escra-

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