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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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Amigos <strong>do</strong>s índios:os trabalhos da Comissão índios <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Laymert Garcia <strong>do</strong>s SantosA Comissão índios <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> nasceu naSecretaria Municipal de Cultura de SãoPaulo, como uma das facetas de um grandeprojeto comemorativo da descoberta daAmérica intitula<strong>do</strong> "500 A<strong>no</strong>s: Caminhosda Memória, Trilhas <strong>do</strong> Futuro". Faceta que,entretanto, desde o início, trouxe a marcade um questionamento sobre o própriosenti<strong>do</strong> da comemoração.Com efeito, o que poderia esta significar?A celebração de um encontro, de umdesencontro ou de um mau-encontro entreeuropeus e índios, civiliza<strong>do</strong>s e primitivos?E celebração para quem? Indaga<strong>do</strong>a respeito, quan<strong>do</strong> se começou a pensar<strong>no</strong> assunto, ainda em 1990, o líder daUnião das Nações Indígenas, Ailton Krenakrespondera que, em seu entender, osíndios não tinham o que comemorar, nemo que contra-comemorar, porque essa erauma questão <strong>do</strong>s brancos e para os brancos,caben<strong>do</strong> a estes, e só a eles, avaliaro que tinham si<strong>do</strong> suas relações com os povosda terra ao longo de cinco séculos. Ecompletara: se os brancos concluírem queerraram, que comemorem os quinhentosa<strong>no</strong>s de guerra contra as populações indígenascom um gesto de boa-vontade, dereconciliação.Devolvida aos brancos por um índio,a questão da comemoração sofrera <strong>no</strong> entantouma inflexão importante. Agora jánão se tratava mais de perguntar o que osíndios pensam sobre o descobrimento: sequerem aproveitar a oportunidade para expressaremseu ponto de vista; o outro nãoqueria falar, mas antes convidar o brancoa rever sua mentalidade e conduta, a efetuaruma conversão e a traduzi-la em atos.A Secretária Municipal de Cultura, MarilenaChauí, decidiu aceitar o convite, fazero gesto de reconciliação. Surgiu entãoa ideia de se formar uma comissão de amigos<strong>do</strong>s índios que se reunisse mensalmentede outubro de 91 a outubro de 92 e, soman<strong>do</strong>forças, sinalizasse a necessidade dese estabelecer uma relação positiva entreos brasileiros e os brasileiros natos por excelência.O a<strong>no</strong> parecia propício: além <strong>do</strong>aniversário da descoberta, havia a Eco-92<strong>no</strong> Rio.A disseminação e o aprofundamentoda consciência ambiental, em decorrênciadas graves ameaças que pesam sobre oplaneta, têm desperta<strong>do</strong> em toda parte aatenção para o fato de que os povos primitivoscultivam um valor que o progressodescartou e que, <strong>no</strong> entanto, pode voltara ser crucial para a sobrevivência deto<strong>do</strong>s: o vínculo com a terra. Ao contrário<strong>do</strong> homem moder<strong>no</strong>, para quem a terra é<strong>do</strong>s homens, para o primitivo, os homensé que são da terra. No primeiro caso o homemse encontra fora <strong>do</strong> meio e o concebeapenas como fonte de recursos à suadisposição; <strong>no</strong> último, há uma implicaçãohomem-meio, um comprometimento queleva o primitivo a "tomar conta <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>".Ora, tu<strong>do</strong> indica que a crise ambientalestá repon<strong>do</strong>, em <strong>no</strong>vas bases, o vínculoantigo. Pois se até há pouco ocompromisso com a terra <strong>no</strong>s aparecia comoum traço de arcaísmo, logo um compromissocom a Terra <strong>no</strong>s parecerá a únicapossibilidade de futuro.Em toda parte há vozes, cada vez maisnumerosas, alertan<strong>do</strong> para a importânciaque os povos primitivos estão assumin<strong>do</strong>,não tanto como resquícios de um passa<strong>do</strong>que o progresso fatalmente eliminará,mas como porta<strong>do</strong>res de um valor maior<strong>do</strong> qual depende <strong>no</strong>sso futuro. E o <strong>Brasil</strong>.que tem o privilégio de abrigar em seu territórioquase duzentos povos indígenas,com suas línguas, seus mitos, seus refina<strong>do</strong>sconhecimentos da terra, se dá ao luxo,por ig<strong>no</strong>rância, racismo e preconceito,de desprezar e dilapidar um património culturalrigorosamente inestimável.Os brasileiros ainda não atinaram como que está ocorren<strong>do</strong> e, como seus antepassa<strong>do</strong>s,continuam tratan<strong>do</strong> os índios comopopulações que devem desaparecer.Foi se impon<strong>do</strong>, portanto, a convicção de

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