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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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corrente tema das "descobertas", procuramos<strong>no</strong>s conhecer fazen<strong>do</strong> falar as outrasvozes que <strong>no</strong>s dão uma identidade, que<strong>no</strong>s definem, a brasilidade produzida pelafala <strong>do</strong> europeu, instauran<strong>do</strong> um espaçode diferença, de separação, um lugar vaziode onde tentamos construir <strong>no</strong>sso lugarmais "próprio" (idem: 20).As representações vão se forjan<strong>do</strong> epenetran<strong>do</strong> a cultura brasileira, num processode tensão entre o universal e o particular.As missões científicas estrangeirasdeixaram sua marca também entre os contemporâneosliteratos locais. O diálogo <strong>do</strong>romance brasileiro <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s 30 e 40 <strong>do</strong> séculoXIX com a forma literária pictórica <strong>do</strong>relato de viagem, seus desenhos e pranchas,mostra a obsessão pela origem, abusca interminável de raízes, a tentativa deproduzir obras "brasileiras" e "originais". Oromance nutre-se abundantemente dasdescrições <strong>do</strong>s viajantes, <strong>do</strong>s desenhos àsvezes paradisíacos e que, <strong>no</strong> entanto sechocam com a dura realidade <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> cotidia<strong>no</strong>,parecen<strong>do</strong> dar aos personagens eseus narra<strong>do</strong>res uma "sensação de não estarde to<strong>do</strong> presente" (Sussekind 1990).Relato e desenho se combinam nessasexperiências para reivindicar a fórmula quea antropologia viria a transformar <strong>no</strong> fundamentoda autoridade et<strong>no</strong>gráfica: eu estivelá, observei e registrei e portanto euposso ser um intérprete legítimo <strong>do</strong> outro.A credibilidade <strong>do</strong> relato é reforçadapelo trabalho <strong>do</strong> desenhista, que tu<strong>do</strong> registraporme<strong>no</strong>rizadamente. O naturalistaé um coleciona<strong>do</strong>r, ao contrário <strong>do</strong> romântico,um contemplativo. Observação, classificação,coleta. O homem selvagem comoprolongamento da natureza. Umaimagem <strong>do</strong> índio criada através da fusãode elementos contraditórios. De um la<strong>do</strong>o misterioso, o irracional, o mítico, comodimensão projetada de uma outra temporalidade,ancestral. De outro, uma <strong>no</strong>varealidade, a <strong>do</strong> tempo presente, progressoe racionalidade. A projeção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>interior <strong>no</strong> exterior, onde as imagens sãocomo reflexos de um espelho. A importânciada linguagem pictórica nesse processo,crian<strong>do</strong> padrões profun<strong>do</strong>s e impon<strong>do</strong>-seao conhecimento <strong>do</strong> outro e ao auto--conhecimento.O longo percurso temporal e espacialrealiza<strong>do</strong> pelos viajantes <strong>do</strong> século XIXproduziu <strong>no</strong>vas representações sobre o<strong>Brasil</strong>, descreven<strong>do</strong> a natureza, os tipos huma<strong>no</strong>s,costumes, ritos, festas, a vida cotidiana,cenas de família, e tantos outrosaspectos da cultura. Essa produção tem si<strong>do</strong>usada como <strong>do</strong>cumento por historia<strong>do</strong>rese cientistas sociais, muitas vezes semo devi<strong>do</strong> questionamento de sua credibilidadee fidedignidade, não obstante a visãodistorcida de alguns textos, seja pelasideologias <strong>do</strong>minantes, pela observaçãopouco criteriosa ou mesmo pelo fato de algunsautores terem si<strong>do</strong> tolhi<strong>do</strong>s de umaforma ou de outra <strong>no</strong> seu trabalho (Queiroz1988).Os desenhos que ilustram os <strong>livro</strong>s deviagem também são reproduzi<strong>do</strong>s exaustivamente,<strong>no</strong>s <strong>livro</strong>s didáticos, na imprensa,<strong>no</strong>s trabalhos científicos, igualmentesem questionamentos. A fascinação <strong>do</strong> "registronatural", o caráter testemunhal dailustração opera, nesse caso, na constru-Paraíso Natural.i<strong>no</strong>cência, prazeridílico."Caçada das araras<strong>no</strong> Rio Grande deBelmonte". "Banho<strong>do</strong>s Botocu<strong>do</strong>s <strong>no</strong>Rio Grande deBelmonte".Maximilian Wied-Newied. 1816.Aquarela e bico-depena.Bib. <strong>Brasil</strong>ianaRobert. Bosch,Stuttgart. Foto:António Rodrigues.

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