10.07.2015 Views

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

terra de serviços obrigatórios." Em seguida,recomen<strong>do</strong>u aos colo<strong>no</strong>s que negociassemapenas com os índios muni<strong>do</strong>s daautorização de seus senhores para venderprodutos da terra. Em 1660, a Câmara endureceude vez, proibin<strong>do</strong> qualquer comérciocom os índios, "sob pena de se lhe serdemanda<strong>do</strong> de furto." Pouco depois, entretanto,qualificou a interdição ao restringiro comércio com os "negros da terra"a valores inferiores a 200 réis, o que excluíaquase tu<strong>do</strong> me<strong>no</strong>s pequenas quantidadesda produção local. 7Apesar da insistência das autoridades,a Câmara Municipal foi incapaz de coibiras atividades informais e independentes<strong>do</strong>s índios. A consternação permanente daCâmara manifestava-se, basicamente, por<strong>do</strong>is motivos. Em primeiro lugar, o desenvolvimentode um merca<strong>do</strong> paralelo decouros e de carnes violava os privilégiosmo<strong>no</strong>polistas de comerciantes portugueses,cujos contratos municipais lhes proporcionavamdireitos exclusivos sobre a comercialização<strong>do</strong> ga<strong>do</strong>, origem de to<strong>do</strong> tipo deabuso. Em segun<strong>do</strong>, grande parte da carnee <strong>do</strong>s couros vendi<strong>do</strong>s pelos índios nasvilas provinha <strong>do</strong> furto de ga<strong>do</strong>, o queapresentava sérios problemas <strong>no</strong> que dizrespeito ao controle social.Na segunda metade <strong>do</strong> século, tais atividadesviraram corriqueiras, chegan<strong>do</strong> aocupar um lugar na pauta da justiça colonialcom regularidade. Por exemplo, Grá-Cia de Abreu referiu-se <strong>no</strong> seu testamentoa uma ação movida por Salva<strong>do</strong>r Bicu<strong>do</strong>contra ela porque sua "gente" tinha furta<strong>do</strong>duas cargas de farinha de trigo e mata<strong>do</strong>diversos porcos pertencentes a Bicu<strong>do</strong>.Parece provável que ambos estes itens,com valor significativo dentro <strong>do</strong> contextoda eco<strong>no</strong>mia local, chegaram a ser vendi<strong>do</strong>s<strong>no</strong> merca<strong>do</strong>. Em caso semelhante, porémcom enre<strong>do</strong> mais violento, FranciscoCubas abriu uma ação contra os herdeirosde José Ortiz de Camargo, sustentan<strong>do</strong>que os índios <strong>do</strong> faleci<strong>do</strong> Camargo tinhaminvadi<strong>do</strong> repetidamente sua fazenda de ga<strong>do</strong><strong>no</strong> bairro de N. S. <strong>do</strong> O, matan<strong>do</strong> ga<strong>do</strong>e saquean<strong>do</strong> a lavoura. Certa altura, osíndios atacaram o filho de Cubas, que administravaa fazenda, "com armas ofensivase defensivas... com vozes dizen<strong>do</strong> mata,mata a João Cubas", que escapou"milagrosamente em uma camarinha" dafúria <strong>do</strong>s invasores, embora o índio Agostinhotenha pereci<strong>do</strong> "com muitas frechadasque lhe deram e lhe quebraram a cabeçae despiram e roubaram a casa esítio". 8Cenas iguais a essa não foram raras emSão Paulo colonial, pois em diversas ocasiõesos índios apelavam para a violênciapara combater a injustiça <strong>do</strong> seu cativeiro.Com certeza, os colo<strong>no</strong>s tinham razões desobra para recear revoltas de escravos índios.Tal receio começou a se confirmar em1652, quan<strong>do</strong> explodiu a primeira granderevolta na propriedade de António Pedrosode Barros, <strong>no</strong> bairro de Juqueri. Pedrosode Barros, um <strong>do</strong>s principais produtores detrigo, possuía entre 500 e 600 índios, dividi<strong>do</strong>sentre Carijó e Guaianá, a maior parterecém-chegada <strong>do</strong> sertão. Além de trucidaremPedroso de Barros e outros brancosque se achavam na fazenda, os índiostambém destruíram as plantações e as criações.Coube a Pedro Vaz de Barros, irmãoda vítima, descrever a devastação: "Foi tantoo número de gentio que naquela ocasiãoacudiu à morte <strong>do</strong> seu amo e outrosalheios que não deixaram coisa viva quenão destruíssem, matassem e comessem."9Esta revolta foi seguida por diversosoutros levantes que chegaram a balançaras bases da escravidão indígena. Tornavasecada vez mais claro que a simples preponderânciade cativos <strong>no</strong> conjunto da população— chegan<strong>do</strong>, <strong>no</strong> seu auge, a umamédia de 40 índios para cada proprietário—, representava uma ameaça constante.Contan<strong>do</strong> com uma esmaga<strong>do</strong>ra vantagemnumérica, os índios colocaram em dúvida,de maneira frontal, a <strong>do</strong>minação absolutaexercida pelos colo<strong>no</strong>s.Embora representasse uma estratégiaimportante, a luta <strong>do</strong>s índios não se esgotou<strong>no</strong> confronto violento. Em prol demaior auto<strong>no</strong>mia e até da liberdade, muitosíndios lançaram mão de meios tanto ilegaisquanto legais. Acompanhan<strong>do</strong> o declínioda escravidão indígena — provoca<strong>do</strong>pela queda <strong>no</strong> apresamento e pelo descobrimento<strong>do</strong> ouro das Minas Gerais <strong>no</strong> final<strong>do</strong> século XVII — <strong>no</strong>ta-se um aumentosensível nas fugas individuais e <strong>no</strong>slitígios movi<strong>do</strong>s por índios.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!