10.07.2015 Views

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O naufrágio <strong>no</strong>litoral de ltanhaém.quan<strong>do</strong> HansStaden chega àcosta brasileira.Região de Bertioga,Santo Amaro, SãoVicente e ltanhaém."Viagens ao <strong>Brasil</strong>".Hans Staden, 1557.pel. A astúcia de Staden consistirá em controlar,ou melhor, simular controle sobre osfenóme<strong>no</strong>s da natureza. Como a sobrevivência<strong>do</strong>s índios, baseada na pesca e naplantação, se mostrasse subordinada à influência<strong>do</strong> sol, da lua, <strong>do</strong>s ventos e dastempestades, a esperteza <strong>do</strong> herói estariaem simular controle sobre a natureza, pelopoder de sua mente ou pela força de seuDeus. O texto mítico vale-se ainda das inversõese reconversões de conteú<strong>do</strong>, jogan<strong>do</strong>com o que é com o que parece ser.No curso circular da narrativa, o desenhoda caravela figura a partida e o regresso<strong>do</strong> herói ao mun<strong>do</strong> real: o mun<strong>do</strong> europeu.Em sinal de graça por estar de voltae salvo, Staden faz publicar o <strong>livro</strong>, <strong>no</strong> qualinclui cinquenta e três xilogravuras feitassob sua orientação para tornar o relato verossímel.Não há correspondência precisa entreas ilustrações <strong>do</strong> <strong>livro</strong> de Staden e as divisões<strong>do</strong> texto em capítulos. No primeiro <strong>livro</strong>,cinquenta e três grupos de peripéciasse sucedem <strong>no</strong> curso da viagem, merecen<strong>do</strong>trinta e uma ilustrações. No segun<strong>do</strong> <strong>livro</strong>,<strong>no</strong>s vinte e oito capítulos <strong>do</strong> "Peque<strong>no</strong>relatório verídico sobre a vida e oscostumes <strong>do</strong>s índios tupinambás" comparecemvinte e uma ilustrações.Staden narra a viagem na primeira pessoa.Confessa me<strong>do</strong>s, premonições, de<strong>no</strong>tacoragem, conta mentiras. Na configuraçãovisual é apresenta<strong>do</strong> na terceirapessoa, entre protagonistas e antagonistas,ven<strong>do</strong> seu desti<strong>no</strong> observa<strong>do</strong> por um olhoque tu<strong>do</strong> vê, subordina<strong>do</strong>, portanto, a umacosmovisão. Não se impõem de um mesmoângulo, o discurso e a figura. O desenhograva<strong>do</strong> é também escritura e des<strong>do</strong>braa narração. Vejamos a cartografia <strong>do</strong>conto, na qual se move o viajante perdi<strong>do</strong>.Os mapas são, a rigor, roteiros, cartasde percurso, registros <strong>do</strong> tempo vivi<strong>do</strong>. Oterritório, sem medida objetiva, vem assinala<strong>do</strong>por fatos imediatos e naturais, comoa ilha <strong>do</strong>s pássaros de penas coloridas,que era procurada pelos índios que apreciavamovos de guará; por ocorrências entreindígenas e europeus, experimentadaspor Staden. A linha <strong>do</strong> litoral brasileiro, estabelecidapelo mapa de Staden, é <strong>no</strong> fun<strong>do</strong>,desenho de Deus, que, segun<strong>do</strong> a concepçãoreligiosa da criação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,separou as águas e as terras. Na mentalidade<strong>do</strong> século XVI, o mun<strong>do</strong> natural éescritura divina, passível de interpretaçãopor princípios de semelhança e de acor<strong>do</strong>com um código de correspondências estabelecidaspor proximidades, comparaçõesetc.A identidade de um lugar é o pontode encontro entre a experiência <strong>do</strong> viajantee as coisas reveladas. Guarda a tensão daslutas travadas pelo europeu para não seperder em terra estranha. Lá estão aindamarcos da ocupação portuguesa registra<strong>do</strong>sesquematicamente nas fortificações deBertioga e Santo Amaro. Respondem tambémao desejo de construir a realidade dapaisagem, os <strong>no</strong>mes de origem indígenaque aderem ao território como escritura<strong>do</strong>s homens. Indicam que as palavras tambémparticipam da construção da realidade<strong>do</strong> lugar.Na narrativa e nas configurações visuais<strong>do</strong> <strong>livro</strong> de Staden, quase tu<strong>do</strong> seapresenta como índice ou sinal, propon<strong>do</strong>seà adivinhação. Quase tu<strong>do</strong> é rastro, sinalização<strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r pressentida pelo herói.0 senti<strong>do</strong> oscila entre significações deordem terrena e providência divina.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!