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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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a crítica iluminista da civilização e anuncian<strong>do</strong>o romantismo, Rousseau construiua figura <strong>do</strong> bom-selvagem, apenas concluiuum caminho aberto <strong>no</strong> final <strong>do</strong> século XV.Contraposta à imagem boa e bela <strong>do</strong>snativos, a ação da conquista ergueu umaoutra, avesso e negação da primeira. Agora,os "índios" são traiçoeiros, bárbaros, in<strong>do</strong>lentes,pagãos, imprestáveis e perigosos.Postos sob o sig<strong>no</strong> da barbárie, deveriamser escraviza<strong>do</strong>s, evangeliza<strong>do</strong>s e, quan<strong>do</strong>necessário, extermina<strong>do</strong>s.Durante os últimos 500 a<strong>no</strong>s, a Américanão cessou de oscilar entre as duasimagens brancas <strong>do</strong>s índios e, <strong>no</strong>s <strong>do</strong>is casos,as gentes e as culturas só puderamaparecer filtradas pelas lentes da bondadeou da barbárie originária. Cegos e sur<strong>do</strong>spara a diferença cultural (<strong>no</strong> senti<strong>do</strong> amplodeste termo), os pós-colombi<strong>no</strong>s e póscabrali<strong>no</strong>srealizaram a obra da <strong>do</strong>minação,mesmo quan<strong>do</strong> julgaram que faziam ocontrário, desejosos de aumentar o rebanho<strong>do</strong> povo de Deus ou os cidadãos dasociedade moderna.Entre os efeitos dessa obra - colonização,evangelização, escravidão, aculturação,extermínio - destaca-se um: a certeza deque os povos indígenas pertencem ao passa<strong>do</strong>das Américas e ao passa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.Passa<strong>do</strong>, aqui, assume três senti<strong>do</strong>s.Passa<strong>do</strong> cro<strong>no</strong>lógico: os povos indígenassão resíduo ou remanescente em fase deextinção como outras espécieis naturais.Passa<strong>do</strong> ideológico: os povos indígenasdesapareceram ou estão desaparecen<strong>do</strong>,venci<strong>do</strong>s pelo progresso da civilização quenão puderam acompanhar. Passa<strong>do</strong> simbólico:os povos indígenas são apenas amemória da boa sociedade perdida, daharmonia desfeita entre homem e natureza,anterior à cisão que marca o adventoda cultura moderna (isto é, <strong>do</strong> capitalismo).No presente, os índios seriam apenas umarealidade empírica com a qual é difícil lidarem termos económicos, políticos e sociais.Donde a ideia de "Reserva Indígena",espaço onde se conservamespécimens e resíduos.A Exposição "índios <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Alteridade,Diversidade e Diálogo Cultural" procurouuma perspectiva crítica face à duplatradição <strong>do</strong> bom e mau selvagem e à ideologia<strong>do</strong> passa<strong>do</strong> como único tempo queresta aos povos indígenas. Procurou o plural- índios - em lugar <strong>do</strong> singular "o índio"(inexistente). Procurou o presente - as naçõesindígenas fazem parte <strong>do</strong> presentebrasileiro e as lutas em tor<strong>no</strong> da demarcaçãoe exploração das terras indígenas é aprova contundente dessa presença atual.Procurou a diferença de culturas: o olhar<strong>do</strong> branco sobre a alteridade, reduzin<strong>do</strong>--a, na maioria das vezes, à identidade (osíndios como antepassa<strong>do</strong>s arcaicos <strong>do</strong>s brasileirosocidentais); o olhar <strong>do</strong>s índios sobreos brancos, olhar de desconcerto, espanto,temor e cólera; os olhares <strong>do</strong>s índiosentre si, isto é, a pluralidade de línguas, histórias,culturas. E deixou abertas as trilhas<strong>do</strong> futuro: diálogo ? destruição ? aprendiza<strong>do</strong>recíproco ?Talvez a resposta inicial a estas perguntasse encontre <strong>no</strong> abaixo-assina<strong>do</strong> de milharesde crianças, jovens e adultos, dirigi<strong>do</strong>sà Presidência da República, exigin<strong>do</strong>a demarcação das terras indígenas, o respeitoà auto<strong>no</strong>mia político-cultural das naçõesindígenas e o convite para que as discussõese decisões sobre os problemasecológicos passem pelo crivo da modernidadeindígena que <strong>no</strong>s tem muito aensinar.

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