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Lançamento do livro "História dos índios no Brasil

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outros grupos indígenas, para "evitar lutasintertribais" 14 . Atualmente, continuam depraxe interferências que pretendem evitaro surgimento de conflitos inter<strong>no</strong>s, mesmoquan<strong>do</strong> se sabe que as tensões tradicionaisentre facções políticas são avivadas pela interferênciada política assistencial. Entre osWaiãpi <strong>do</strong> Amapá, por exemplo, uma sériede episódios dramáticos ilustram o carátermuitas vezes autoritário da atuaçãopreservacionista. Em 1980, após ter força<strong>do</strong>a convivência de <strong>do</strong>is sub-grupos quehaviam declara<strong>do</strong> repetidamente suas dissençõeshistóricas e suas intenções de vingança,ocorreu a morte <strong>do</strong> líder de umafacção pelas mãos <strong>do</strong>s que haviam si<strong>do</strong>obriga<strong>do</strong>s à hospedá-lo; a medida protetivafoi de evacuar - para Belém - duas criançasligadas à facção atingida, por me<strong>do</strong> de<strong>no</strong>vos revides e apesar da insistência <strong>do</strong>sWaiãpi em declarar que não iriam prosseguira vingança sobre crianças que consideravamsuas. A<strong>no</strong>s depois, solucio<strong>no</strong>u--se outra dissensão interna desarman<strong>do</strong> osíndios e dificultan<strong>do</strong>-se, por vários meses,a distribuição de munição. Em 1992, um<strong>no</strong>vo episódio de morte leva agentes <strong>do</strong>posto a promover arbitrariamente - isto é,adiantan<strong>do</strong>-se a decisões que seriam tomadasinternamente - a separação demembros da aldeia, para evitar o aumentode tensões. Essas atitudes decorremprincipalmente da incompreensão da lógicada política indígena, mas também deUma suspeição permanente quanto à naturezada violência nessas sociedades. Ome<strong>do</strong>, concomitante às acusações de irracionalidade,é habitual não apenas na relaçãocom grupos isola<strong>do</strong>s e recém--contacta<strong>do</strong>s, mas prossegue-se na rotina<strong>do</strong>s postos, onde os chefes de posto secomportam como guardiães da integridademoral e cultural indígena. Uma integridadeque é - na fase da convivência - postacomo inevitavelmente degradada e que, nalógica protecionista, só os de fora, chefesde posto, indigenistas e, em último caso,antropólogos, seriam capazes de identificare, eventualmente, recuperar através deintervenções preservacionistas. O que <strong>no</strong>sleva a questionar, em outra perspectiva, ogradiente de programas destina<strong>do</strong>s incialmenteà preservação e posteriormente àrecuperação da cultura indígena.Proteger, por um "tempo": oquê?No contexto desse gradiente, é relevanteavaliar o tempo durante o qual é aplicadaa proteção especial aos povosisola<strong>do</strong>s 15 . Além de não considerarem alógica da integração cultural e de operaremrecortes arbitrários <strong>no</strong> que se pretendeconservar - como se mencio<strong>no</strong>u acima- as experiências demostram que os cuida<strong>do</strong>stoma<strong>do</strong>s para não ferir a cultura <strong>do</strong>sgrupos isola<strong>do</strong>s têm curta duração. As intervençõespassam da lógica da proteçãoà interferência, patente na tranformação deum "posto de atração" em um "posto indígena".Entre os <strong>do</strong>is tipos de atuação, apassagem é habitualmente brusca. Os índiosemancipa<strong>do</strong>s da condição de isola<strong>do</strong>spassam, conceitualmente, <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> dei<strong>no</strong>cência ao de povos inferioriza<strong>do</strong>s pelocontato; a situação de <strong>do</strong>minaçãomanifesta-se nas múltiplas formas dirigidasde auxílio, que pretendem a recuperaçãode sua auto<strong>no</strong>mia.Esta transfiguração pode ser ilustrada,mais uma vez, pelas implicações subjacentesà distribuição de bens. Na fase de primeirosencontros, a oferta de bens deseja<strong>do</strong>spelos índios visa apaziguar a eventualagressividade <strong>do</strong>s isola<strong>do</strong>s. A aceitação ea troca de artefatos por parte <strong>do</strong>s índios,representou, historicamente, um marco daconquista. No passa<strong>do</strong>, não muito remoto,os "pacifica<strong>do</strong>res" recolhiam sobretu<strong>do</strong>armas (ou seja, desarmavam os índios) queeram encaminhadas aos museus, cujosacervos evidenciam hoje a desproporçãodesse tipo de artefatos em relação a outrosobjetos da cultura material indígena.Atualmente, os propósitos da distribuiçãode bens mudaram, mas a manipulação depresentes para atração continua um elementocentral nas técnicas <strong>do</strong>s "primeiroscontatos". Admitin<strong>do</strong>-se que a maioria <strong>do</strong>sgrupos isola<strong>do</strong>s não só tem conhecimentoda tec<strong>no</strong>logia <strong>do</strong>s brancos, como seaproximam deles para obter tais objetos,sua distribuição se transforma rapidamentenuma relação de poder. O gesto se transformanum meio de obter não apenas <strong>do</strong>cilidade,mas sobretu<strong>do</strong> criar relaçõesprivilegiadas com determina<strong>do</strong>s segmen-

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