15.04.2013 Views

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

guardas estava sendo alimentado nas cozinhas. Meta<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong> ainda estava<br />

nas ruas, e corriam boatos <strong>de</strong> pilhagem no Palácio dos Medici. Ninguém<br />

imaginaria um dia <strong>de</strong> casamento assim.<br />

Avaliei-me no espelho. Não tinha havido tempo para meu marido prover<br />

meu novo guarda-roupa, como era costume, portanto tive <strong>de</strong> me virar com o<br />

meu. Nos últimos meses, eu tinha crescido muito para o meu melhor brocado<br />

carmesim, mas ainda assim, estava estufada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le, mal conseguindo mover<br />

meus braços <strong>de</strong> tão justas estavam as mangas. Nenhum sinal das <strong>de</strong>slumbrantes<br />

saias <strong>de</strong> seda e a pele pálida <strong>de</strong> minha irmã. Eu não tinha nem beleza nem<br />

elegância. Mas, <strong>de</strong> qualquer maneira, essa não era uma hora para retratos <strong>de</strong><br />

família orgulhosa. Ainda bem. Como me sentaria calmamente em frente a um<br />

homem cuja pena noturna captara pele fatiada e os contornos <strong>de</strong> entranhas<br />

expostas? Senti náuseas só em pensar.<br />

— Xii... fique quieta, Alessandra. Não consigo pren<strong>de</strong>r as flores no lugar<br />

se fica se sacudindo <strong>de</strong>sse jeito.<br />

A culpa não era <strong>de</strong> eu me contorcer, mas sim por estarem murchas. Flores<br />

<strong>de</strong> ontem para a noiva <strong>de</strong> hoje. Encontrei seu olhar no espelho. Ela não sorriu e<br />

sei que estava assustada também.<br />

— Erila...?<br />

— Psiuu... Não há tempo para isso agora. Ficaremos bem. É um<br />

casamento, não um funeral. Lembre-se <strong>de</strong> que foi você que preferiu isso ao<br />

convento.<br />

Mas acho que ela estava sendo ríspida só para manter o ânimo elevado, e<br />

quando viu minhas lágrimas, me abraçou. Quando terminou o cabelo, se<br />

ofereceu para dar uma escapada e buscar algumas castanhas assadas e vinho<br />

para mim. Só quando estava saindo me lembrei do encontro marcado com o<br />

pintor para mais tar<strong>de</strong> naquele mesmo dia.<br />

— Diga-lhe... — Mas o que havia para dizer? Que eu estaria longe da casa<br />

do meu pai enquanto ele passava as noites no meio fétido da morte e estripação<br />

sangrenta? — Diga-lhe que agora é tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais. — E era.<br />

A porta abriu-se logo <strong>de</strong>pois que ela saiu, e Tomaso ficou no umbral,<br />

como se receasse chegar mais perto. Continuava com suas roupas da noite<br />

anterior.<br />

— Como está lá fora, irmão? — perguntei sem modular a voz, olhando<br />

para o espelho.<br />

— Como se a invasão já tivesse acontecido. Estão arrancando os timbres<br />

dos Medici <strong>de</strong> todos os edifícios e pintando no lugar o signo da República.<br />

— Estaremos seguros?<br />

— Não sei.<br />

Ele tirou a capa e enxugou o rosto com ela.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!