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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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os pincéis. E assim, Catarina transformou-se em suas roupas, suas pernas rijas<br />

<strong>de</strong> camponesa, firmes mas ocultas sob o pano. E a sua expressão, quando chegou<br />

a sua vez, transmitia, espero, a coragem que era preciso assim como a graça<br />

recebida. Por fim, meus <strong>de</strong>dos ficaram entorpecidos com a tensão ao segurar o<br />

pincel.<br />

— Tenho <strong>de</strong> <strong>de</strong>scansar — disse eu, recuando da pare<strong>de</strong>. E quando me<br />

levantei buscando ar fresco, perdi o equilíbrio.<br />

Ele segurou meu braço.<br />

— O que há com você? Eu sabia. Está doente.<br />

— Não — disse eu. — Não. Não estou... — sabia o que tinha <strong>de</strong> dizer,<br />

mas não consegui emitir as palavras.<br />

Ficamos, <strong>de</strong> novo, olhando um para o outro. Eu não conseguia respirar.<br />

Eu não fazia idéia do que faria em seguida. Talvez nunca mais em nossa vida<br />

pudéssemos estar a sós novamente. Tínhamos nos cortejado nessa capela.<br />

Embora nenhum dos dois tivesse se dado conta <strong>de</strong> que tinha sido isso.<br />

— Eu não.<br />

— Eu queria...<br />

Mas a sua voz era mais urgente do que a minha.<br />

— Queria vê-la. Eu não sabia... Quer dizer, como você não veio, comecei<br />

a achar...<br />

Seus braços me cingiram e seu corpo me era tão familiar, como se durante<br />

esse tempo todo eu tivesse guardado uma cópia <strong>de</strong>le em minha mente. E senti o<br />

<strong>de</strong>sejo — pois agora eu sabia que era isso — se inflamar, como uma fonte<br />

quente, em meu estômago.<br />

O barulho da porta da sacristia se abrindo nos separou tão rápido que era<br />

possível que ele não nos tivesse visto. Que estava sofrendo, era óbvio pela<br />

maneira como andava, embora o sentimento que transmitisse fosse mais o <strong>de</strong><br />

fúria. Não era <strong>de</strong> admirar. Eu era como <strong>Vênus</strong> e Adônis em um único ser em<br />

comparação a ele agora. As bolhas tinham tomado seu rosto. Havia três, uma na<br />

bochecha esquerda, outra no queixo e uma terceira no meio <strong>de</strong> sua testa, como o<br />

olho <strong>de</strong> ciclope. Eram gran<strong>de</strong>s e estavam cheias <strong>de</strong> pus. Ele aproximou-se<br />

mancando. Era evi<strong>de</strong>nte que as tinha também entre as pernas. Mas pareciam não<br />

ter afetado seus olhos. Bem, saberíamos logo.<br />

— Tomaso — disse eu, movendo-me rapidamente em sua direção. —<br />

Como vai? Como está a doença? — juro que não havia nem uma pontinha <strong>de</strong><br />

triunfo em minha voz. Pois certamente o sofrimento nos torna solidários.<br />

— Não tão aceitável quanto a sua — olhou para mim sem piscar. — Mas<br />

Plautilla tem razão, você parece um espantalho. Formamos um belo par agora —<br />

riu com <strong>de</strong>sdém. — Então. Para quando é?<br />

— Ahn... a primavera. Abril, maio.

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