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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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atravessou a sala sorrindo. Fiquei rígida e examinei meus pés, minha postura<br />

<strong>de</strong>safiando todas as normas <strong>de</strong> charme e feminilida<strong>de</strong>.<br />

— Senhora — disse ele, fazendo uma ligeira <strong>rev</strong>erência —, acho que<br />

ainda não fomos formalmente apresentados.<br />

— Não — murmurei, lançando-lhe um olhar <strong>de</strong> relance. Havia rugas<br />

fundas ao redor <strong>de</strong> seus olhos. Pelo menos ele sabe rir, pensei. Mas po<strong>de</strong> fazer<br />

isso comigo? Voltei a olhar para o chão.<br />

— Como estão seus pés hoje? — perguntou em grego.<br />

—Talvez <strong>de</strong>vesse perguntar-lhes diretamente — respondi-lhe com uma<br />

voz que me lembrou meus acessos <strong>de</strong> raiva em pequena. Sentia minha mãe me<br />

observando, querendo que eu me comportasse. Apesar <strong>de</strong> ela não estar ouvindo<br />

o que acontecia, conhecia os movimentos <strong>de</strong> meu rosto o suficiente para<br />

distinguir sarcasmo <strong>de</strong> aquiescência.<br />

Ele fez outra <strong>rev</strong>erência, <strong>de</strong>ssa vez abaixando-se mais e se dirigindo à<br />

bainha do meu vestido.<br />

— Como estão, pés? Devem estar aliviados por não haver música —<br />

interrompeu-se. Ergueu os olhos e sorriu. — Nós nos vimos na igreja. O que<br />

achou do sermão?<br />

— Acho que se fosse pecadora teria sentido o cheiro <strong>de</strong> óleo fervendo em<br />

mim.<br />

— Então tem sorte <strong>de</strong> não ser. Acha que tem muitos que o ouvem e não<br />

sentem o cheiro?<br />

— Não muitos. Mas acho que se eu fosse pobre, ouviria os gritos vindo<br />

primeiro dos mais ricos.<br />

— Humm. Acha que ele prega rebelião?<br />

Refleti um pouco.<br />

— Não. Mas acho que prega a ameaça.<br />

— É verda<strong>de</strong>. No entanto eu o ouvi expressar sua irritação com todos, não<br />

apenas os ricos e os amedrontados. Ele consegue ser muito crítico da igreja.<br />

— Talvez a igreja mereça.<br />

— Realmente. Sabe que o nosso Papa atual tem uma imagem da Madona<br />

pintada acima da entrada <strong>de</strong> seu quarto? Só que ela tem o rosto <strong>de</strong> sua amante.<br />

— Verda<strong>de</strong>? — disse eu, momentaneamente seduzida por tal intriga<br />

superior.<br />

— Oh, sim. Dizem que sua mesa geme sob o peso <strong>de</strong> tantos pássaros<br />

canoros assados, que a floresta ao redor <strong>de</strong> Roma agora está silenciosa, e que<br />

seus filhos são bem-vindos na casa, como se o pecado não fosse pecado. Mas<br />

errar é humano, não acha?<br />

— Não sei. Acho que o confessionário é para isso.<br />

Ele riu.

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