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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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— Venham, irmãs — <strong>de</strong>ssa vez, o tom foi áspero. — Ajoelhem-se as<br />

duas.<br />

Mas Erila colocou-se com <strong>de</strong>terminação entre mim e ele.<br />

— Lamento, Padre. Não po<strong>de</strong>mos ficar. Minha ama está grávida e se<br />

resfriará se não chegarmos logo em casa. Estas não são horas clementes para<br />

uma mulher grávida estar nas ruas.<br />

Ele olhou para mim como se estivesse me vendo direito pela primeira vez.<br />

— Está com um bebê? Uma criação divina? — ao falar, seu capuz caiu<br />

para trás e pu<strong>de</strong> ver uma face pálida, como a superfície da lua, marcada com<br />

bexigas. Pedra-pomes, pensei; um monge dominicano com a cara como pedrapomes,<br />

que via Florença como um esgoto do mal. Há quanto tempo Erila me<br />

contara a história? Mas sei que ela também estava se lembrando.<br />

— Na verda<strong>de</strong>, sobretudo pia — respon<strong>de</strong>u ela por mim, me afastando<br />

mais ainda. — Devota e perto <strong>de</strong> nascer. Mandaremos ajuda <strong>de</strong> nossa casa.<br />

Vivemos bem perto daqui.<br />

Ele olhou-a fixamente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ixou a cabeça cair e voltou a atenção para<br />

o corpo. Esten<strong>de</strong>u uma mão para o peito da mulher, para o local em que havia<br />

mais sangue, e recomeçou a cantar.<br />

Retornamos aos tropeções à carruagem. O escuro era quase impenetrável,<br />

e Erila manteve minhas mãos com firmeza nas suas. A palma das mãos das duas<br />

estava viscosa <strong>de</strong> medo.<br />

— O que aconteceu lá? — perguntei sem fôlego quando subimos na<br />

carroça e açoitamos o cavalo, apressando-o.<br />

— Não sei. Mas uma coisa posso dizer. Aquela mulher não estava viva já<br />

há algum tempo. E ele estava fe<strong>de</strong>ndo a seu sangue.<br />

Chegamos em casa e encontramos os portões abertos e o cavalariço e Cristoforo<br />

esperando no pátio.<br />

— Graças a Deus, chegaram. On<strong>de</strong> estavam?<br />

— Desculpe — repliquei enquanto me ajudava a <strong>de</strong>scer. — Fomos<br />

retardadas nas ruas. Nós...<br />

— Man<strong>de</strong>i homens procurarem por toda a cida<strong>de</strong>. Não <strong>de</strong>viam estar fora a<br />

esta hora.<br />

— Eu sei. Desculpe — repeti. Estendi minha mão para ele. Ele a pegou e<br />

a segurou firme, e senti a ansieda<strong>de</strong> como uma maré o submergindo. — Mas<br />

estamos <strong>de</strong> volta. Seguras. Vamos entrar e nos sentarmos à lareira e vou contar o<br />

que vimos nesta noite.<br />

— Não há tempo para isso. — Atrás <strong>de</strong> mim, o cavalariço <strong>de</strong>satrelava o<br />

cavalo. Ele esperou até que ficasse longe o bastante. Erila estava do lado. Senti

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