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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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Ela olhou para mim afetuosamente. Você sempre foi terna, mesmo em<br />

pequena quando tentava ser dura. Por que se importa com ele?<br />

— Porque... porque, <strong>de</strong> certa maneira, não acho que ele tenha controle<br />

sobre isso. E porque... — fiz uma pausa. Acreditava realmente no que estava<br />

para dizer? — Porque, <strong>de</strong> certa maneira, acho que ele se importa comigo.<br />

Ela sacudiu a cabeça como se, <strong>de</strong> fato, fôssemos uma raça estrangeira que<br />

não fazia sentido para ela.<br />

— Embora eu não saiba se tem valor, talvez tenha razão — fez uma pausa<br />

e, então, se levantou e me esten<strong>de</strong>u a mão.<br />

— O que é?<br />

— Tem uma coisa que <strong>de</strong>ve ver. Eu estava esperando o momento certo.<br />

E me conduziu para fora do meu quarto escuro e cavernoso, pelo patamar<br />

<strong>de</strong> pedra até um quarto menor, que, em outra casa, estaria reservado para ser o<br />

quarto <strong>de</strong> um bebê.<br />

Tirou uma chave do bolso e a introduziu em um ca<strong>de</strong>ado pesado, e a porta<br />

se abriu.<br />

Na minha frente, uma oficina recém-montada: uma mesa e uma pia <strong>de</strong><br />

pedra com alguns bal<strong>de</strong>s do lado, e sobre a mesa perto da janela, uma série <strong>de</strong><br />

garrafas, caixas e pequenos pacotes, todos etiquetados, do lado <strong>de</strong> conjuntos <strong>de</strong><br />

pincéis <strong>de</strong> tamanhos variados. Perto, uma lousa <strong>de</strong> pórfiro para o moedor e dois<br />

gran<strong>de</strong>s painéis <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira prontos para a aguarelha e a imprimadura e as<br />

camadas <strong>de</strong> tinta.<br />

— Ele mandou trazerem quando você estava doente. E eu trouxe isto da<br />

sua arca — apontou para o manuscrito, cheio <strong>de</strong> orelhas, do livro <strong>de</strong> Cennini,<br />

sobre cujas páginas eu tinha <strong>de</strong>rramado lágrimas tão amargas por me oferecer<br />

conhecimento sem os meios para transformá-lo em tinta. — Trouxe o certo?<br />

Assenti com a cabeça, sem conseguir falar, e fui até a mesa, abrindo<br />

algumas das caixas, <strong>de</strong>slizando meus <strong>de</strong>dos nos pós: o preto espesso, o amarelo<br />

veemente do açafrão toscano, e o jenolim escuro com os ver<strong>de</strong>s prometidos <strong>de</strong><br />

uma centena <strong>de</strong> árvores e plantas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um fragmento <strong>de</strong> rocha. O impacto<br />

<strong>de</strong> tantas cores foi como a primeira luz do sol na cida<strong>de</strong> gélida <strong>de</strong>pois da neve.<br />

Percebi em meu rosto um sorriso, e também lágrimas.<br />

Se não podíamos ter amor, meu marido e eu, pelo menos eu teria a<br />

alquimia.<br />

Lá fora, o gelo <strong>de</strong>rretia e transformava-se em fonte enquanto eu preparava um<br />

banquete <strong>de</strong> cores, meus <strong>de</strong>dos ficando calosos com o moedor e escuros com as<br />

manchas <strong>de</strong> tinta. Havia tanto a apren<strong>de</strong>r. Erila ajudava-me, medindo e<br />

misturando os pós e preparando a superfície da ma<strong>de</strong>ira. Ninguém nos

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