15.04.2013 Views

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

que não nos interessaria saber?<br />

— Foi há muito tempo — repetiu. — Eu era muito jovem... não muito<br />

mais velha do que você agora.<br />

Exceto nesse exato momento, em que me senti realmente muito velha.<br />

— Meu pai também estava na corte? Foi assim que o conheceu? — Pois<br />

me parecia claro que se meu pai mantivesse relações sociais com gente tão<br />

importante, nós, como seus filhos, nunca pararíamos <strong>de</strong> escutar a história.<br />

Não respon<strong>de</strong>u, e percebi uma mudança em sua voz, enquanto se<br />

recompunha.<br />

— O nosso casamento aconteceu <strong>de</strong>pois. Sabe, Alessandra, embora a sua<br />

paixão pelo passado seja admirável, acho que <strong>de</strong>veríamos falar sobre o presente<br />

— interrompeu-se. — Tem <strong>de</strong> saber que seu pai não está bem.<br />

— Não está bem? Como?<br />

— Está... sob gran<strong>de</strong> tensão. A invasão e as mudanças que aconteceram<br />

em Florença o afetaram muito.<br />

— Pensei que tivesse feito bons negócios com isso. Pelo que soube, a<br />

única coisa que os franceses estavam dispostos a pagar era por nossos tecidos.<br />

— Sim. Só que seu pai recusou-se a ven<strong>de</strong>r para eles. — E ao ouvir isso,<br />

amei-o ainda mais. — Receio que sua recusa o marque como um homem da<br />

oposição. Espero que isso não nos cause sofrimento no futuro.<br />

— Mas ele <strong>de</strong>ve saber que não será mais chamado à Signoria. O nosso<br />

gran<strong>de</strong> salão do governo ficará, a partir <strong>de</strong> agora, repleto <strong>de</strong> Simulados — eu<br />

disse usando a expressão para os seguidores <strong>de</strong> Savonarola. Ela pareceu<br />

alarmada. — Não se preocupe. Não uso essas palavras em público. Meu marido<br />

mantém-me informada das mudanças na cida<strong>de</strong>. Como você, fiquei sabendo das<br />

novas leis: contra o jogo e a fornicação — fiz uma pausa. — Contra a sodomia.<br />

Mais uma vez minhas palavras a <strong>de</strong>ixaram sem fôlego. Pu<strong>de</strong> perceber<br />

isso. O silêncio entre nós se a<strong>de</strong>nsou. Não podia ser. Minha própria mãe teria<br />

<strong>de</strong>ixado acontecer algo assim...<br />

— Sodomia — repeti. — Um pecado tão grave que só recentemente<br />

compreendi o seu significado. Mas acho que minha educação nesses assuntos foi<br />

um tanto <strong>de</strong>ficiente.<br />

— Bem, isso não é algo que uma boa família precise notar — disse ela, e<br />

agora se mostrava tão frágil quanto eu. Nessas palavras, a enormida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua<br />

traição ficou clara para mim e, apesar <strong>de</strong> mal acreditar, senti tanta raiva que<br />

ficou difícil permanecer na mesma sala que ela. Levantei-me, dando a <strong>de</strong>sculpa<br />

<strong>de</strong> que tinha trabalho a fazer. Mas ela não se mexeu.<br />

— Alessandra — disse ela.<br />

Olhei para ela tranqüilamente.<br />

— Minha criança querida, se está infeliz...

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!