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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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ela quase eclipsava a beleza serena da santa, enquanto Luca estava em um <strong>de</strong><br />

seus interlocutores, suas feições taurinas e o olhar inflexível exsudando uma<br />

certa presunção, embora, provavelmente, ele fosse interpretar como autorida<strong>de</strong>.<br />

E Tomaso... bem, Tomaso tinha tido seu <strong>de</strong>sejo satisfeito. Ah estava, curado <strong>de</strong><br />

sua aflição atual para os propósitos <strong>de</strong> posterida<strong>de</strong>, forte e elegante como um dos<br />

eruditos mais proeminentes da corte, um homem cujo senso <strong>de</strong> elegância era tão<br />

vibrante quanto sua mente. Nas gerações futuras, qualquer que fosse a família<br />

que rezasse ali, as garotas da casa teriam sua atenção dividida entre a <strong>de</strong>voção e<br />

o <strong>de</strong>sejo. Quão poucos saberiam...<br />

E eu? Bem, como minha mãe tinha insinuado, eu estava no céu, tão alto<br />

que a pessoa teria <strong>de</strong> ter a vista jovem e arriscar um torcicolo para apreciar a<br />

verda<strong>de</strong>ira profundida<strong>de</strong> da semelhança. Mas para enten<strong>de</strong>r realmente o po<strong>de</strong>r<br />

da transformação, seria preciso ter visto o que tinha sido pintado lá antes. O<br />

Diabo foi expulso <strong>de</strong> seu trono, todo sinal <strong>de</strong> canibalismo e terror per<strong>de</strong>u-se na<br />

luz difusa. Em seu lugar estava Nossa Senhora; não tanto uma belda<strong>de</strong> quanto<br />

uma alma substancial, sem nenhum sinal da <strong>de</strong>selegância <strong>de</strong> uma girafa,<br />

satisfeita, finalmente, com tudo o que haviam exigido <strong>de</strong>la.<br />

Fiquei com minha cabeça para trás, girando várias vezes para ver como<br />

cada pare<strong>de</strong> alcançava o teto, até ficar tonta e os afrescos parecerem nadar e<br />

rodopiar diante <strong>de</strong> meus olhos, como se as próprias figuras estivessem se<br />

movendo. Eu sentia uma espécie <strong>de</strong> alegria, como há muito tempo não sentia.<br />

Quando girei <strong>de</strong> novo, ele estava lá, na minha frente.<br />

Estava bem vestido e bem alimentado. Se ficássemos juntos, agora o seu<br />

corpo ocuparia mais lugar do que o meu. As minhas náuseas tinham mantido<br />

todo e qualquer <strong>de</strong>sejo à distância, mas sem elas, temi que minha mente<br />

estivesse tão atordoada quanto meu corpo.<br />

— Então? O que acha? — seu italiano tinha menos sotaque agora.<br />

— Oh, é lindo. — E me vi rindo largo, como se a felicida<strong>de</strong> transbordasse<br />

e eu não pu<strong>de</strong>sse fazer outra coisa a não ser <strong>de</strong>rramá-la. — É... é florentino —<br />

fiz uma pausa. — E você, está bem?<br />

Ele assentiu com um movimento da cabeça, seus olhos fixos nos meus,<br />

como se ali houvesse um texto que ele tentasse ler.<br />

— Não sente mais frio?<br />

— Não — replicou baixinho. — Não sinto mais frio. Mas você...<br />

— Eu sei — interrompi rapidamente. — Está tudo bem... estou melhor<br />

agora. — Tem <strong>de</strong> lhe contar, pensei. Tem <strong>de</strong> lhe contar. Se ninguém contou.<br />

Mas não consegui. Enquanto as palavras se esgotavam, ficamos olhando<br />

um para o outro, e continuamos assim. Se alguém entrasse... Lembrei-me <strong>de</strong><br />

quantas vezes o mesmo pensamento me ocorrera: seu quarto na primeira vez, na<br />

capela à noite, no jardim... Erila tinha me dito, certa vez, que a inocência po<strong>de</strong>

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