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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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— Imagino que não esteja vestido para o meu casamento — disse eu,<br />

quase feliz por ter um motivo para espicaçá-lo. — Não fará nenhuma conquista<br />

com tanta sujeira. Se bem que eu ache que a lista <strong>de</strong> convidados ficará um tanto<br />

reduzida pelas circunstâncias.<br />

Ele sacudiu os ombros levemente.<br />

— Seu casamento — repetiu baixinho. — Parece que sou o único que<br />

ainda não lhe <strong>de</strong>u parabéns — fez uma pausa e olhamos um para o outro no<br />

espelho. — Você está... bonita.<br />

E era tão incongruente ouvir até mesmo um elogio tão simples <strong>de</strong> sua<br />

boca que não consegui controlar o riso.<br />

— Bem o bastante para dar uma trepadinha, quer dizer?<br />

Ele franziu o cenho, como se a minha crueza o aborrecesse. Aproximou-se<br />

mais para me ver diretamente, sem o reflexo no espelho.<br />

— Ainda não sei por que fez isso.<br />

— Fiz o quê?<br />

— Aceitou casar-se com ele.<br />

— Para ficar longe <strong>de</strong> você, é claro — disse eu, mas ele, <strong>de</strong> novo, não<br />

reagiu. Eu <strong>de</strong>i <strong>de</strong> ombros. — Porque eu teria uma morte lenta em um convento e<br />

aqui não tenho vida. Talvez com ele eu consiga uma.<br />

Pigarreou ligeiramente, como se a resposta não tivesse adiantado.<br />

— Espero que seja feliz.<br />

— Espera?<br />

Ele hesitou.<br />

— Ele é um homem culto.<br />

— É o que ouvi falar.<br />

— Acho... acho que lhe dará a liberda<strong>de</strong> que você <strong>de</strong>seja.<br />

Franzi o cenho. Parecia algo que minha mãe dissera.<br />

— E o que o faz pensar assim?<br />

Ele <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

— Você o conhece, não?<br />

— Um pouco.<br />

Sacudi a cabeça.<br />

— Não. Mais do que um pouco, eu acho. — E claro. Tanta coisa tinha<br />

acontecido, que eu não tinha refletido direito. Com quem mais ficaria sabendo<br />

<strong>de</strong> meus estudos e minha pintura? Quem mais lhe daria tal munição?<br />

— Foi você que falou <strong>de</strong> mim para ele, certo? — disse eu. — Sobre o<br />

grego. E meu <strong>de</strong>senho. E a dança.<br />

— A sua dança fala por si, e o seu conhecimento, irmã, bem, o seu<br />

conhecimento é lendário. — E um lampejo do antigo Tomaso estava <strong>de</strong> volta, a<br />

faca enfiada fundo no sarcasmo.

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