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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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Vinte e Sete<br />

ELA ABRIU A PORTA E FICOU no extremo do quarto, e até mesmo em<br />

minha histeria, percebi que estava com receio <strong>de</strong> entrar. O que me assustou<br />

ainda mais, pois nunca sentira medo <strong>de</strong> mim, nem mesmo quando eu era criança<br />

e agira da maneira mais mesquinha com ela.<br />

— Vá embora, Erila — gritei, enterrando a cabeça na coberta.<br />

Mas isso só fez com que se <strong>de</strong>cidisse. Atravessou o quarto e subiu na<br />

cama comigo, e pôs seus braços em volta <strong>de</strong> mim. Empurrei-a.<br />

— Vá embora.<br />

Ela ficou.<br />

— Você sabia. Todo mundo sabia e, ainda assim, você não me contou.<br />

— Não! — <strong>de</strong>ssa vez, agarrou-me até que eu olhasse para ela. — Não. Se<br />

tivesse sabido, a <strong>de</strong>ixaria fazer isso? Deixaria? É claro que não. Eu sabia que ele<br />

era libertino. Que fodia on<strong>de</strong> podia. Isso eu sabia. Mas os homens o enfiam em<br />

tudo que é tipo <strong>de</strong> buraco quando não há outra coisa disponível. Isso é comum, e<br />

sua mãe e eu erramos se a protegemos tanto a ponto <strong>de</strong> você não saber disso.<br />

Mas esses mesmos homens geralmente mudam <strong>de</strong> um para o outro em um piscar<br />

<strong>de</strong> olhos. Portanto, sim, fo<strong>de</strong>m um homem, se uma mulher não estiver<br />

disponível. E assim que é. Talvez não seja como o seu Deus mandou ser, mas é<br />

assim. — Havia algo na violência <strong>de</strong> sua linguagem que me fez sentir melhor.<br />

Ou, pelo menos, me fazer prestar atenção. — Mas, para a maioria, tudo isso<br />

acaba quando se casa. Os rapazes ressecam e as mulheres se ume<strong>de</strong>cem para<br />

eles. Ou, pelo menos, para os filhos. Por isso achei, talvez porque quisesse<br />

achar, que seria a mesma coisa com ele. E nesse caso, por que lhe contar? Só<br />

teria tornado essa primeira noite ainda pior.<br />

A primeira noite. Mulheres inteligentes não morrem disso. Mas não íamos<br />

discutir isso agora.<br />

— E Tomaso? — perguntei, reprimindo os soluços. — Sabia sobre ele?<br />

— Corriam rumores — falou com um suspiro. — Mas ele gosta <strong>de</strong> fazer<br />

troça. Podia ser tudo simplesmente parte <strong>de</strong> seus jogos. Talvez eu <strong>de</strong>vesse ter<br />

prestado mais atenção. Mas não os dois. Eu não sabia nada disso. Se houvesse<br />

comentários, eu certamente os teria ouvido, e não ouvi.<br />

— E minha mãe?<br />

— Oh, Deus nos perdoe, sua mãe não sabia.<br />

— Oh, ela sabia! Ela conheceu Cristoforo na corte, quando era jovem. Ele<br />

disse que a viu lá.<br />

— E daí? Ela era uma garota. Devia saber ainda menos <strong>de</strong>ssas coisas do

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