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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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imundo.<br />

— Não está doente, está bêbado — disse o outro e percebi o lí<strong>de</strong>r vir em<br />

nossa direção.<br />

— Mantenha-o quieto, minha ama — soou a voz <strong>de</strong> Erila, impaciente e<br />

alto na frente da carroça. — Se ele se move, as bolhas po<strong>de</strong>m estourar. E o<br />

contágio é fácil com o pus.<br />

— Bolhas? Ele está com bolhas? — O garoto com a vara <strong>de</strong>u rapidamente<br />

um passo para trás.<br />

— Por que não disse logo? — O lí<strong>de</strong>r assumiu a <strong>de</strong>cisão, como todo bom<br />

lí<strong>de</strong>r faz. — Fiquem longe <strong>de</strong>le. Todos vocês. E você, mulher... leve-o daqui.<br />

E se certifiquem <strong>de</strong> que não se aproxime <strong>de</strong> nenhum mosteiro até estar<br />

curado.<br />

Erila bateu as ré<strong>de</strong>as com força e a carroça <strong>de</strong>u um solavanco à frente, a<br />

barricada se <strong>de</strong>sfez diante da ameaça <strong>de</strong> contágio. O pintor se enroscou <strong>de</strong> volta<br />

sob as mantas, resmungando por causa da nossa pressa <strong>de</strong>sajeitada. Esperei até<br />

estarem fora <strong>de</strong> vista e subi ao assento traseiro.<br />

— Ei, cuidado com a sua pele — disse ela quando <strong>de</strong>slizei para o seu<br />

lado. — Não quero nada <strong>de</strong> pus em mim.<br />

— Bolhas! — ri. — Des<strong>de</strong> quando o nosso exército <strong>de</strong>voto tem medo <strong>de</strong><br />

alguns furúnculos?<br />

— Des<strong>de</strong> que a infecção chegou — sorriu. — O seu problema é que não<br />

sai muito. Se bem que quem sai começa a se arrepen<strong>de</strong>r. Ninguém sabe <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

veio. Os boatos são <strong>de</strong> que os franceses a <strong>de</strong>ixaram nos buracos em que<br />

verterem seu sumo. Começou com as prostitutas, mas começa a se espalhar.<br />

Quando eram somente as mulheres infectadas, era conhecida como a doença do<br />

Diabo, mas agora que os fiéis começam a empolar, os rumores são <strong>de</strong> que Deus<br />

está testando a sua paciência como... qual foi aquele homem da Bíblia que<br />

mandou as pragas...<br />

— Jó — disse eu.<br />

— Jó. É esse. Se bem que aposto que Jó nunca teve nada parecido a essas<br />

Bolhas Francesas: gran<strong>de</strong>s bolas <strong>de</strong> calor e pus, que doem pra diabo e <strong>de</strong>ixam<br />

cicatrizes feias. Pelo que ouvi, está mantendo suas vítimas na cama com muito<br />

mais sucesso do que a doutrinação do Frei.<br />

— Oh, Erila — ri. — Suas intrigas são preciosas. Juro que <strong>de</strong>via <strong>de</strong>ixar eu<br />

lhe ensinar melhor as letras. Po<strong>de</strong>ria esc<strong>rev</strong>er uma história <strong>de</strong> Florença que<br />

rivalizaria com os contos da Grécia <strong>de</strong> Heródoto.<br />

Ela <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

— Se vivermos o bastante para envelhecermos juntas, falarei e você<br />

esc<strong>rev</strong>erá. Só espero que cheguemos até lá. O que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> você saber o que<br />

está fazendo agora — disse ela, apontando para trás da carroça e batendo as

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