15.04.2013 Views

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Trinta e Quatro<br />

ELE ESTAVA SENTADO À MESA LENDO e bebendo vinho. A manhã ainda<br />

começava, mas o calor já era forte. Não nos víamos há várias semanas. Eu não<br />

sabia o quanto eu <strong>de</strong>via estar mudada. Nessa manhã, ao examinar meu rosto no<br />

espelho, não percebi nenhuma diferença óbvia. Ele, por outro lado, estava<br />

alterado. As linhas ao redor da boca estavam mais proeminentes, conferindo-lhe<br />

uma expressão severa permanente, e a sua pele estava mais avermelhada.<br />

Acompanhar o ritmo do meu irmão exigiria esforço <strong>de</strong> uma constituição jovem,<br />

que dirá uma mais velha. Sentei-me no lado oposto a ele e me cumprimentou.<br />

Eu não fazia idéia no que ele estava pensando.<br />

— Olá, minha mulher.<br />

— Olá, meu marido.<br />

— Dormiu bem?<br />

— Sim, obrigada. Lamento não ter estado aqui para recebê-lo. Ele<br />

dispensou minhas palavras com um gesto da mão. — Você está completamente<br />

recuperada <strong>de</strong> sua... indisposição?<br />

— Sim — disse eu. Depois <strong>de</strong> um tempo, acrescentei: — Estive pintando.<br />

E ele ergueu os olhos e juro que percebi prazer neles.<br />

— Ótimo. — Voltou a olhar para seus papéis.<br />

— Meu irmão está aqui?<br />

Relanceou os olhos para mim.<br />

— Por quê?<br />

— Eu...ahn, gostaria <strong>de</strong> cumprimentá-lo, se estiver.<br />

— Não, não. Foi para casa. Não está se sentindo bem.<br />

— Nada grave, espero.<br />

— Acho que não. Só um pouco <strong>de</strong> febre.<br />

Eu não teria uma outra oportunida<strong>de</strong> tão boa.<br />

— Tenho algo a lhe dizer.<br />

— Sim?<br />

— Temos visita.<br />

Dessa vez ele ergueu a vista.<br />

— Eu soube.<br />

Contei com simplicida<strong>de</strong>, conformando o relato a uma história <strong>de</strong> arte e<br />

beleza: as maravilhas que o pintor podia criar e o medo <strong>de</strong> que não fosse mais<br />

capaz disso. Acho que fiz o melhor que pu<strong>de</strong>, embora saiba que estava mais<br />

nervosa do que gostaria. Ele não tirou os olhos <strong>de</strong> mim nem uma vez sequer,<br />

nem mesmo quando o silêncio se impôs entre nós <strong>de</strong>pois que terminei.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!