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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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apidamente, ansiosamente, para evitar outra explosão. — Estou interessada na<br />

capela. Vim simplesmente ver como seu trabalho estava se <strong>de</strong>senvolvendo.<br />

Ele murmura algo <strong>de</strong> novo. Espero que repita o que disse. Leva muito<br />

tempo. Finalmente, ergue os olhos para mim, e quando o encaro, me dou conta,<br />

pela primeira vez, <strong>de</strong> como é jovem — mais velho do que eu, sim, mas<br />

certamente poucos anos mais velho — e <strong>de</strong> como a sua pele é branca e pálida. É<br />

claro que sei que terras estrangeiras engendram cores estrangeiras. A minha<br />

Erila é preta, queimada pelas areias do <strong>de</strong>serto da África do Norte, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ela<br />

veio, e naqueles tempos, era possível encontrar vários matizes <strong>de</strong> pele nos<br />

mercados da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> tanto que Florença era um ponto <strong>de</strong> atração para o<br />

comércio. Mas essa brancura é diferente, passa a sensação <strong>de</strong> pedra úmida e céu<br />

sem sol. Um único dia sob o sol florentino certamente enrugaria e queimaria a<br />

sua superfície <strong>de</strong>licada.<br />

Quando ele finalmente fala, parou <strong>de</strong> tremer, mas o esforço foi gran<strong>de</strong>.<br />

— Eu pinto a serviço <strong>de</strong> Deus — diz ele, com o ar <strong>de</strong> um noviço<br />

<strong>de</strong>clamando a litania que lhe ensinaram, mas que não foi totalmente<br />

compreendida. — E estou proibido <strong>de</strong> falar com mulheres.<br />

— Realmente — digo, ofendida pelo tom pretensioso. — Isso talvez<br />

explique por que quase não faz idéia <strong>de</strong> como pintá-las. — Lanço o olhar para a<br />

Madona alongada na pare<strong>de</strong>.<br />

Mesmo no escuro, posso sentir como as palavras o feriram. Por um<br />

instante, acho que ele po<strong>de</strong> me agredir <strong>de</strong> novo, ou romper suas regras e me<br />

respon<strong>de</strong>r, mas, em vez disso, ele se vira e, agarrando os papéis, cambaleia <strong>de</strong><br />

volta ao quarto, batendo a porta.<br />

— A sua grosseria é tão grave quanto a sua ignorância, senhor — gritei<br />

para ele, para dissimular minha confusão. — Não sei o que apren<strong>de</strong>u no Norte,<br />

mas aqui, em Florença, nossos artistas apren<strong>de</strong>m a celebrar o corpo humano<br />

como um eco da perfeição <strong>de</strong> Deus. Faria bem se estudasse a arte da cida<strong>de</strong><br />

antes <strong>de</strong> se arriscar a rabiscar em suas pare<strong>de</strong>s.<br />

Numa agitação hipócrita, saio do aposento para a luz do sol, sem saber se<br />

a minha voz atravessou a porta.

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