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Sarah Dunant – O Nascimento de Vênus (pdf)(rev

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— Infeliz? Por quê? O que po<strong>de</strong>ria haver no meu casamento que me<br />

fizesse infeliz? — continuei olhando para ela.<br />

Ela levantou-se, <strong>de</strong>rrotada por minha agressão.<br />

— Seu pai gostaria que você aparecesse. Ele anda muito abatido por causa<br />

dos negócios. O nosso estado não é o único que está tumultuado, e o excesso <strong>de</strong><br />

política é ruim para o comércio. Acho que o distrairia um pouco ser visitado por<br />

sua filha preferida — disse ela <strong>de</strong>licadamente. — Assim como a mim.<br />

— Mesmo? Pensei que a casa estivesse cheia dos meus irmãos, agora que<br />

estamos ficando mais severos com os <strong>de</strong>satinos dos rapazes.<br />

— Bem, é verda<strong>de</strong> que Luca mudou suas maneiras — disse ela. — Na<br />

verda<strong>de</strong>, receio que Savonarola tenha conseguido um novo a<strong>de</strong>pto em seu irmão.<br />

Tem <strong>de</strong> estar ciente disso ao lidar com ele. E Tomaso... — interrompeu-se e<br />

percebi um certo tremor em seu corpo. — Bem, não temos visto muito Tomaso<br />

recentemente. Acho que isso é outra coisa que preocupa seu pai. — E ela baixou<br />

os olhos.<br />

Ela já estava à porta e eu continuava sem dizer nada, quando se virou.<br />

— Ah, ia me esquecendo. Trouxe-lhe algo. Do pintor.<br />

— Do pintor? — E senti a dor familiar começar e se enroscar em meu<br />

estômago. Se bem que tinha havido tanto drama em nossa vida que eu não<br />

pensava nele há algum tempo.<br />

— Sim — tirou algo <strong>de</strong> sua bolsa: um pacote embrulhado em musselina<br />

branca. — Deu-me isto esta manhã. É o seu presente <strong>de</strong> casamento. Acho que<br />

ficou aborrecido por não o termos contratado para a arca, embora seu pai tenha<br />

lhe explicado que não houve tempo para isso.<br />

— Como ele está?<br />

Deu <strong>de</strong> ombros.<br />

— Começou os afrescos. Mas só po<strong>de</strong>remos vê-los quando estiverem<br />

prontos. Ele trabalha <strong>de</strong> dia com ajudantes e, à noite, sozinho. Só sai <strong>de</strong> casa<br />

para ir à missa. É um rapaz estranho. Eu não lhe disse mais <strong>de</strong> cinqüenta<br />

palavras em todo esse tempo que está conosco. Acho que ele se ajusta mais ao<br />

seu mosteiro do que à nossa cida<strong>de</strong> mundana. Mas seu pai continua a acreditar<br />

nele. Esperemos que seu afrescos sejam tão bons quanto a sua fé.<br />

Interrompeu-se. Talvez esperasse ter abrandado meu silêncio com a<br />

promessa <strong>de</strong> mais novida<strong>de</strong>s. Mas continuei sem fazer nada que a ajudasse e,<br />

portanto, me abraçou e saiu.<br />

A sala ficou mais fria com a minha nova solidão. Não me permiti pensar<br />

no que acabara <strong>de</strong> saber, porque senão certamente cairia em um abismo <strong>de</strong> dor<br />

do qual nunca mais emergiria. Em vez disso, concentrei-me no presente do<br />

pintor.<br />

Desembrulhei-o com cuidado. Sob a musselina, pintado a tempera sobre

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